24 - ESPERANÇA

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— Meu Deus... Que bom que está bem!

— Foi só uma alergia, você não precisava ter se preocupado.

— Precisava sim... Você é importante pra mim.

— Me fala de você. Como foi seu trabalho ontem?

E daí... Charles mentiu.

Mas por ligação Jeremias jamais saberia disso.

Falar que sentiu saudades, que ficou preocupado ou até mesmo teve a crise de ansiedade mais forte de toda a sua vida seria fatal.

Eles tinham terminado, o certo, para que ele pudesse superar, era que nem estivessem conversando.

— Você tá levando isso a sério?

— O que? — Jeremias perguntou e o silêncio na ligação era estranho.

Normalmente parecia que tinha uma guerra acontecendo na sua casa.

— O término...

— Ah sim... Não exatamente. Porque mesmo que tenhamos terminado eu não me sinto livre para estar com outras pessoas.

— E isso é ruim?

— Acredito que não!

— Tudo bem...

Que droga. A oportunidade de salvar tudo parecia estar bem distante.

— Olha... Podemos conversar melhor pessoalmente? — Charles perguntou.

— Sobre o quê?

— Nós. Precisamos falar sobre nós.

Existia mesmo uma necessidade no coração do garoto para que as coisas se resolvessem, uma ansiedade para que tudo ficasse bem apesar de ele mesmo não saber ainda onde estava o erro.

— Tudo bem. Podemos nos encontrar em um parque aqui próximo. E daí conversamos.

— Ótimo! — Por ligação, era possível apenas ouvir a respiração de Charles, que nitidamente era a mais ansiosa entre os dois. — Vai fazer alguma coisa agora?

— Vou jogar.

— Okay.

— Tchau.

— Tchau Jeremias...

10 minutos de chamada e nada parecia ter acontecido. Nenhuma movimentação, nenhuma emoção e nenhuma expectativa de um relacionamento firme que Charles tanto esperava.

Estava tudo desconectado ao máximo.

E seu peito doía sempre que pensava nisso.

Mas dessa vez, ele procurou respirar. Pois amanhã seria um novo dia. Ele acordaria cedo e eles conversariam para resolver tudo de uma vez por todas.

Vai dar tudo certo.

Pensou Charles.

O dia amanheceu e ele saiu correndo de casa pegando ônibus e metrô para o tal parque onde encontraria seu amado.

"Estou dormindo. Quando chegar me avisa. Você mora longe então sei que vai demorar..."

Jeremias. 04 de Abril às 07h55.

Charles bloqueou o celular já no ônibus e tentou manter a calma.

Ele ligaria assim que chegasse.

O parque era novo para ele, enorme e belo.

Por um instante ele se distraiu e em sua imaginação, Jeremias já estava pedalando e indo encontrá-lo.

Mas as imagens de sua mente foram sumindo a cada ligação não atendida.

Uma, duas...

"Vou comprar um biscoito aqui..."

Charles havia saído tão rápido que nem tinha tomado café da manhã...

"Biscoito e refri... Um banco aleatório e algumas músicas para passar o tempo."

A cada música. Mais 5 ligações.

Nenhuma atendida.
Ele dormiu.

Era certo que isso tinha acontecido.

45 ligações...

30 minutos no parque.

Nenhum sinal de Jeremias.

Charles já havia chorado tanto nos últimos dias que nem achava que conseguiria fazer isso de novo.

Ele odiava esperar, estava começando a sentir raiva por isso.

50 ligações perdidas.

"Ele não vem mais..."

Era o momento de voltar para casa.

De desistir de tudo e abrir mão de algo que, pelo visto, não tinha mais salvação.

Saindo do parque, o garoto chamou uma moto para levá-lo de volta.

Enquanto o vento batia no rosto, ele sentia a tristeza e a liberdade tentando se juntar em seu coração...

Porém, elas não combinavam.

O sentimento de medo e amor não podem morar no mesmo lugar.

Mas Charles então pensou: Eu sei onde ele mora, irei lá, e vou esperar por ele...

E assim foi o que aconteceu.

Já no meio do caminho para casa, ele desviou a rota. E já na casa do seu amado, fechada e em silêncio enquanto ele dormia, ele o esperou.

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