31 | Tesouros da nação

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I didn't come here to make friends
We were born to be suburban legends

Não vim até aqui para fazer amigos
Nós nascemos para ser lendas suburbanas


Suburban Legends

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Empurro as cutículas das minhas unhas enquanto assisto ao jogo. Todas as jogadoras nos bancos ao meu redor estão em silêncio, o que permite que escutemos com clareza cada xingamento que o nosso técnico esbraveja, irritado com a arbitragem, com a nossa zaga e, pelo visto, consigo mesmo.

O esquema tático que funcionou nas últimas partidas não tem o mesmo efeito contra a Inglaterra. Quinze minutos se passaram e, por mais que nenhum gol tenha saído, isso é graças às duas últimas defesas de Alana. O ataque do time rival não deu trégua, e não houve qualquer tentativa de chute ao gol da nossa parte.

Eu deveria estar focada no que o nosso time está fazendo de errado, deveria estar conjecturando mil maneiras de dar a volta por cima assim que colocar os pés em campo. E estou, às vezes.

Mas, de vez em quando, também fico só olhando para a forma como Connie está jogando.

Ela não é a jogadora mais rápida do time, mas é precisa em seus movimentos. Reconheço a expressão determinada em seu rosto, os lábios apertados e o olhar intenso. Ela é competitiva, às vezes até demais, mas há sempre uma calma na forma como encara o campo. Como se perder não fosse uma opção.

O fato de que ela está jogando desde o primeiro minuto e de que eu estou aqui, apenas observando do banco, é um pouco humilhante.

Ok, muito humilhante.

No Barça, estamos no mesmo patamar, mas isso não é verdade aqui. Ela é uma veterana na Inglaterra, dá para ver como as jogadoras mais jovens — algumas com a idade próxima da minha — a admiram. Vi como interagiam antes do início do jogo, a forma como os olhos delas brilhavam mesmo que estivessem aparentemente conversando de forma despojada com Connie. Ela é um ícone, uma lenda.

Ela é como Stephen.

Odeio o pensamento, mas ele vem com a insistência do zumbido de um pernilongo na orelha.

O magnetismo da Connie fora de campo é uma coisa. Ela sempre foi adorada pelas pessoas e sabe como fazer todo mundo rir. Contudo, isso atinge outro nível no gramado.

Emily vai em direção ao gol, é a nossa primeira abertura de verdade, mas lá está Connie no minuto seguinte, chocando-se contra o corpo dela em um encontrão que deve ter doído. Ela rouba a bola e sai com ela no pé enquanto Emily ainda está desequilibrada.

Ao meu redor, as outras jogadoras no banco grunhem em frustração. Nosso técnico ergue os braços e grita:

— É sério isso?! — É nítida a impaciência dele com a árbitra por não ter marcado uma falta inexistente e com Emily por ter falhado na jogada.

Apesar do clima péssimo, minha boca pende, aberta.

A pessoa no campo não é Connie. É Cornelia Ember, uma das jogadoras mais premiadas do nosso tempo. Vendo-a jogar, sei muito bem por que os times em que ela atua sempre vencem algum campeonato grandioso.

— Rebeca. — Viro o rosto na direção do técnico quando ele me chama. — Levanta e vai se aquecer, vou te colocar no lugar da Paula.

O fato de que era para eu entrar apenas no segundo tempo não me faz hesitar nem um pouco. Uma onda de euforia me percorre, substituindo o sentimento de inferioridade de antes.

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