- Ei, Aiki! O almoço tá pronto!
A azulada desligou a sua máquina de solda, largando-a na mesa e jogando os braços para cima, espreguiçando-se.
- Certo, Penguin! A Aiki já está indo! - respondeu com um sorriso no rosto, virando a cabeça na direção da porta. - Aiki vai só terminar de soldar a arma dela!
- Certo, certo... - Escutou os passos do pirata se distanciarem pelo corredor metálico do Polar Tang. - Só não vá demorar muito. Pelo visto o Jean decidiu fazer uma limpa hoje na cozinha, não tá deixando nenhuma sobra.
- Eu ouvi isso seu bastardo! - gritou o gigante em resposta e as risadas dos demais membros dos Piratas Heart ecoaram por todos os compartimentos do submarino.
Aiki não conseguiu conter o riso também. Os seus companheiros sempre conseguiam lhe proporcionar bons momentos de alegria e leveza em meio à sua intensa rotina de trabalho no Polar Tang. Afinal, ser da tripulação de um dos piratas mais poderosos do mundo era mais do que suficiente para transformar qualquer um em uma pilha de nervos.
Suspirou ao retirar seus óculos de solda e logo em seguida as suas luvas grossas. À sua frente em cima do balcão de trabalho, um gigantesco rifle estava deitado com suas várias peças soltas espalhadas ao seu redor por toda a superfície metálica. Sorriu orgulhosa com a visão que tinha do seu trabalho concluído. Havia dedicado quase a manhã inteira para realizar todas as modificações que queria em sua arma principal, adicionando um poderoso lança-granadas na sua lateral. Granadas essas que, por serem feitas pela própria especialista em armamentos dos Piratas Heart, eram bem mais poderosas até mesmo que os explosivos da Marinha.
Sentiu algumas vértebras do pescoço estalarem por causa da posição em que estava trabalhando por tanto tempo. Encostou as costas na cadeira, dando uma breve olhada no cômodo em que estava. Em todas as quatro paredes - e até mesmo no teto - estavam colocados todos os armamentos que ainda iriam ser melhorados ou consertados. E não eram só armamentos da azulada, mas sim de todos os seus companheiros de tripulação. Ela tinha que ser útil para eles.
Você deve se manter útil, recitou para si mesma em seus pensamentos. Sempre precisa ser útil. Não importa como, não importava no que. Nunca deixe de ser útil.
Ela não queria... ficar sozinha de novo.
Aiki suspirou mais uma vez, passando a mão pelo rosto. No entanto, ao olhar para as suas mãos, percebeu que elas estavam cobertas com fuligem e graxa. Virou a cadeira na direção do espelho em seu armário, enfim percebendo que por todo a sua face, menos na região protegida anteriormente pelos óculos de solda, uma grande mancha preta estava espalhada.
Franziu o cenho, indignada com a sua própria imagem refletida.
- Hunf, a Aiki tá podre! Law-sama não pode ver ela assim! - Levantou-se num pulo, com uma expressão determinada. - Ela precisa de um banho!
Aiki tinha que admitir: por muito tempo não gostou de tomar banhos. Foram só depois de longas e incontáveis discussões que teve com os demais membros da tripulação - pois o ambiente do Polar Tang, dias submerso, estava chegando a uma situação crítica - que finalmente se livrou dessa teimosia.
Agora, em contrapartida, tomava vários banhos no dia, sempre se preparando para que o seu capitão a visse da melhor forma possível. Claro, até aquele dia ele não tinha dado nenhum indício de compartilhar pelo menos um décimo da paixão cega e enlouquecida que a sua companheira de tripulação tinha para com ele, mas a motivação de Aiki continuava inabalada.
Mas sempre tinha aquela parte ruim.
Aiki separou suas roupas, pegou sua toalha e entrou no banheiro. Quando começou a se despir, uma a uma, elas começaram a aparecer. Tinha aquela longa no seu braço, que ia do seu ombro até metade do seu antebraço. Foi quando derrubou uma caixa pesada e o capataz a acertou com um pedaço de ferro enegrecido. Ela tinha dez anos. Em sua barriga, pequenas marcas circulares e vermelhas iam do seu ventre até a altura do diafragma. Foi quando ela demorou para acordar e o filho daquela família rica coletou todas as pontas de cigarro que havia fumado e as apagou na garota. Ela tinha oito anos. Mas a pior delas, a mais infame e vergonhosa cicatriz de todas, estava nas suas costas. Aiki nunca a tinha visto, mas sempre sentia quando ligava o chuveiro e a água escorria pelo relevo da pele onde estava localizada. Não foi diferente dessa vez, e a mulher franziu o cenho e mordeu os lábios, não sentindo a dor no momento, mas lembrando-se de quando tinha ganhado-a. Ela tinha apenas seis anos. Com essa idade, ela ganhou a Marca dos Tenryuubitos.
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A Última Aventura
AdventureMais de dez anos depois de se tornar o Rei dos Piratas, Monkey D. Luffy e a sua tripulação finalmente partem para a sua jornada final. Revisitando todos os lugares em que já estiveram, eles reencontram os amigos que fizeram durante a sua busca pelo...