Capítulo 16 / CORRE!

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Pov Valentina Albuquerque

Se você perguntar pra uma pessoa forte como ela está, provavelmente - com um sorriso no rosto - ela vai te responder que está tudo bem. Mas deixa eu falar uma coisa: na maioria das vezes, essa pessoa está mentindo. Muito provavelmente também, ela vai estar passando por situações tão difíceis que você nem consegue imaginar. Com certeza, ela está tentando - dia após dia - ficar bem de verdade. E o motivo pelo qual responder que está tudo bem é porque bem lá no fundo, na cabeça dessa pessoa, ela não pode demonstrar fragilidade, não pode baixar a guarda. Passar essa imagem de forte faz com que as outras pessoas não imaginem a verdade ou o que ela está passando e também o que já passou. Assim é mais fácil conseguir seguir, assim é mais fácil conseguir esquecer. Então quando as pessoas me perguntam como eu estou... também digo que estou bem. 

Após uma noite mal dormida, juntei todas as forças que ainda restavam e tratei de levantar meu corpo da cama. Enquanto tomava banho, minha mente voltou ao último momento que tive com Luiza. Eu tinha total noção de que ela conhecera uma versão minha que ninguém nunca viu. Depois que eu sofri perdas dolorosas na minha vida, eu prometi a mim mesma que eu não a deixaria me machucar assim de novo. Não abriria espaço pra colocar alguém tão especial e depois a vida tirá-la de mim como se não fosse nada. Eu sei que a morte é algo inevitável mas não é exatamente dela a que me refiro agora.

Na realidade, quando eu falo em perda... não estou falando exatamente de perder alguém para a morte. A questão é que eu não sei perder. Eu não sei lidar com a perda. É por isso que eu prefiro viver com a sensação de não ter nada e não sentir nada. Assim eu tenho certeza que a vida não poderá me machucar de novo. Essa é a minha regra número um e essa... é inquebrável. Deveria ser.

FLASHBACK ON

Cheguei da escola no maior mal humor. Eu sinceramente não consigo entender porque preciso aprender matemática. Eu quero ser cantora. Apenas música me interessa. Que diferença faz eu saber ou não sobre trigonometria? Entrei na cozinha e encontrei minha avó fritando ovos e assoviando a melodia de um dos maiores sucessos da música brasileira, Evidências. Não consegui deixar de sorrir. Ela virou a cabeça e sorriu de volta.

Lurdes: Oi, bubi! – Disse sorridente. – Que carinha é essa?

Bubi é o apelido carinhoso que ela adorava me chamar.

Valentina: Oi, vó. – Suspirei. – Ah, não é nada...

Lurdes: Valentina, Valentina... Eu te conheço! Não tem como você mentir pra mim. – Brincou. – O que aconteceu, bubi?

Dei um meio sorriso pra ela, sabendo que não haveria como fugir dessa conversa.

Valentina: Vó, posso te perguntar uma coisa?

Lurdes: Claro que sim, meu amor. Até duas! – Respondeu, parando tudo que estava fazendo e sentou na minha frente diante a mesa.

Valentina: Você acha errado eu sentir tanto interesse pela arte? Mais especificamente, pela música?

Ela levantou as sobrancelhas, fazendo que não com a cabeça e deu uma risada baixa.

Lurdes: Que pergunta é essa, bubi? Claro que não! Música é uma coisa tão fundamental na nossa vida, é a alegria que contagia nossos dias, não? – Sorriu

Valentina: É, é sim.. – Abaixei o olhar e suspirei.

Lurdes: Porque pergunta isso, bubi? O que aconteceu?

Valentina: Ah, não é nada demais. Só estou um pouco estressada com a escola e.. essa pressão que eles insistem em colocar na gente como se fosse uma obrigação você decidir o que quer fazer pelo resto da sua vida enquanto ainda é adolescente. – Bufei irritada e ela riu.

Caos Perfeito - VaLuWhere stories live. Discover now