32 | Agora temos problemas

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So don't think it's in the past
These kinda wounds, they last, and they last

Então não pense que isso ficou no passado
Esse tipo de ferida, isso dura e perdura


Bad Blood

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Há uma van esperando por nós do lado de fora. Acabei de mandar uma mensagem para a minha avó pedindo para nos encontrarmos em um restaurante mais tarde. Enquanto caminho com o time em direção ao veículo branco, fico bloqueando e desbloqueando a tela do meu celular, pensando em que mensagem posso enviar para Connie.

Disse que a apresentaria à minha avó, e sei que isso quer dizer apresentá-la à Andressa também, mas tudo o que a minha irmã me disse me faz hesitar. Conhecer Andressa não é apenas se deparar com uma versão mais elegante, mais profissional e que se acha muito mais inteligente do que eu. É conhecer quem eu sou quando estou perto dela. E não sei se gosto desse lado meu.

Enfim, a alguns metros da van, chego a abrir minha conversa com Connie. Clico na caixa de texto e começo a digitar, mas paro quando ouço Bianca me chamando:

— Ei, Becs, aquela não é a sua irmã secreta?

Levanto o rosto para encarar Bianca, que está de mãos dadas com Nadine, as duas prestes a entrar na van. Elas estão olhando para o lado, e meu olhar também segue essa direção.

Lá está Andressa, sentada no meio-fio do estacionamento praticamente vazio, encarando a tela do celular. O que ela está fazendo sozinha? Onde está a minha avó?

Eu me aproximo de Bianca e Nadine, dizendo:

— Peçam pro motorista esperar só um pouco.

As duas assentem, com as testas franzidas em expressões quase idênticas de confusão, e me viro, indo até Andressa. É impossível que ela não tenha visto o time deixando o estádio, a van parada ali. Somos um grupo grande e não fazemos esforço para falar baixo. Quanto mais chego perto, mais evidente fica que ela está se forçando a olhar apenas para o celular.

Paro ao lado dela, ainda de pé, e debato sobre qual a melhor forma de lidar com a situação. Ela está chateada. E posso não ir muito com a cara dela, mas sei que isso é culpa minha e que, depois de ter viajado só para me ver jogar, ela não merece ser tratada como um estorvo. Mesmo que seja um.

Além disso, a visão dela assim, sentada no meio fio, cutuca algo no meu peito. É como um déjà vu.

Só me dou conta do motivo para isso quando, tomando uma decisão, me abaixo e sento ao lado dela. Vejo nós duas, ainda crianças, na época em que estudávamos no mesmo turno. Nos sentávamos no meio fio, diante do portão já trancado da escola, eu lendo um livro e ela olhando para o celular, e esperávamos nossos pais nos buscarem. Eles viviam se atrasando. Uma vez, aguardamos por duas horas e, durante todo o tempo, não trocamos uma palavra sequer.

Ao longo da minha vida, houve várias situações em que esperei meus pais aparecerem. Não passou pela minha cabeça que talvez a minha irmã fizesse o mesmo.

Exceto que, desta vez, ouso cogitar que ela estivesse esperando por mim também.

— O que você está esperando? — pergunto. Apesar de não ter olhado na minha direção, sei que ela notou a minha presença.

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