15| confident

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O refeitório ecoava o silêncio, a boca cheia de comida e a bagunça em torno dela não evitavam as piscadelas lentas de sono. A rotina da faculdade era exaustiva. O trabalho se acumulava a cada dia e eu tinha certeza que Off fazia de propósito, tinha ido embora tarde da noite todos os dias desde o meu primeiro dia. Gumpa ao menos se sentiu confortável depois de um tempo pra confiar boa parte do trabalho a mim. Grande erro. Estava tão cansado que mal saberia diferenciar um documento financeiro de mais um livro didático. Abri os olhos com o barulho, a cadeira ao meu lado sendo arrastada e logo ocupada.

- Que susto, Mark!

- Mais um pouco e começava a babar em cima da sua bagunça.

- Eu tô cansado me dá um desconto, e por quê tá vestido assim?

- São oito e meia da noite, já acabei por hoje. - Ele enfiava o relógio meu meu rosto e eu olhava os números digitais atônito.

- Merda! Era pra eu ter entregado isso tem meia hora.

Virei o iPad grunindo e dando alguns socos de leve, levantei o copo na minha frente engolindo todo o líquido do copo, afastei tudo deixando que alguns papéis escorregassem pela mesa me debruçando em cima da mesa.

- Dia difícil?

- Semanas, já fazem duas semanas e meia que tenho tido um dia difícil. Eu odeio ele, faz de tudo pra dificultar minha vida.- Levantei a cabeça de leve.-Sabe onde ele está?

- Já foi embora tem uma hora. Eu até sentiria pena de você se não te conhecesse.- Ele forçou um biquinho debochando.

- Se quer rir da minha desgraça vá gargalhar em outro lugar, eu ainda tenho que ir pra casa pra voltar daqui a algumas horas.

- Eu não deveria estar sendo tão bondoso... quer dormir no meu quarto?

- No chão? Ou dividir uma cama com o "senhor espaçoso" ou Payu que parece estar em um estresse interminável? Dispenso.

- Ele não foi pra o dormitório hoje, o que é estranho, não deve voltar tão cedo. Continue amanhã, não vai conseguir chegar a lugar nenhum trabalhando com sono.

Mark ajudou a eu recolher todas as minhas coisas depois que aceitei. "O descanso dos merecedores" ele repetia passando pelos corredores até chegar no quarto. Me joguei na cama vazia apenas tirando os sapatos e caindo num sono profundo. Provavelmente tinha caído num sono tão pesado que nem tinha o escutado chegar. Encarava a porta do banheiro vendo a luz invadir o cômodo e sua imagem sair, sentando na ponta da cama de costas depois de desligar as luzes.

- Que horas são? Se quiser eu posso ir embora...

Fiz menção de me levantar depois de ele virar o corpo. Ele levou o indicador a boca pedindo silêncio, me pressionava contra cama de volta e deitando logo em seguida e cobrindo nós dois.

- Fala mais baixo ou Mark vai reclamar comigo, volta a dormir são quatro da manhã.

Nossos rostos estavam próximos o suficiente pra ver seu rosto sério e os olhos arregalados grudados nos meus.

- Onde você tava?

- Não é da sua conta.

O silêncio tomava o ambiente, o cansaço não deixava eu retrucar mas ainda via seu semblante sério, não tinha sido uma resposta grosseira mas como se ao perguntar isso tivesse sido a coisa mais invasiva possível de se questionar.

- Posso te perguntar uma coisa?

Acenei com a cabeça vendo ele tomar coragem pra voltar a falar, sua voz agora estava mais suave, e cochichar fazia parecer que estávamos dizendo algo confidencial, um segredo.

IMPETUOSOSOnde histórias criam vida. Descubra agora