Estava de pé manuseando a tesoura, Dunk se ajeitava sentado na tampa do vaso sanitário com os cabelos molhados esperando, passava o pente mais uma vez e acertava sua postura como um profissional.- Essa mecha ficou muito grande você perdeu o jeito! Vamos trocar.
Revirava os olhos e trocava de lugar, ele assumia meu papel molhando mais um pouco meu cabelo na pia, antes de um corte perto da orelha.
- Estou com frio, sinceramente acho que não podemos mais fazer isso como antes, perdemos a prática.
- Não se desaprende a cortar o cabelo! É como andar de bicicleta fazemos desde criança fui eu quem cortou seu cabelo quando grudou chiclete, se lembra?
- Com certeza eu me lembro dessa experiência traumática! - Nós ríamos começando a limpar as mechas jogadas pelo chão do banheiro.
- Eu sinto falta disso, falta de sermos só crianças.
- Agora vai ter uma criança pra poder relembrar de como era bom.
- Sinto como se nos tivéssemos sido crianças por mais tempo que Tay, não consigo me lembrar da última vez em que ele não esteve preocupado com a gente, não acha estranho ele não ter se casado?
- Sempre achei que ele seria o primeiro a ser pai, ele segue Papi cegamente e trabalha muito, mesmo tendo crescido seus negócios o suficiente pra o dinheiro trabalhar pra ele.
Eu sorria. Sentia uma ponta de nostalgia quando me lembrava sobre nossos bons momentos, os desentendimentos e também os acertos. Pensava se Tay também estava do lado de meu marido durante aquela crise e logo pensava em mais nomes que preencheriam uma lista caso eu precisasse.
- Faz três semanas hoje da última vez que Gumpa ligou, o que você vai fazer?
- Eu tenho um plano, vou executar daqui a duas horas, minha malas já estão arrumadas.
- Gun! Eu pensei que estava tudo bem.
- Uma semana de atraso, isso é muita coisa, eu não sei onde ele está, é frustrante esperar eu não aguento mais. Sei que a inauguração é daqui a algumas semanas, isso é mais importante Dunk. Papi é minha família, me desculpa.- Secava as lágrimas que insistiam em descer, nunca tinha sido alguém que lidasse bem com incertezas, ele me abraçava forte respirando pesadamente.
- Eu vou ficar com você quando for executar seja lá o que esteja pensando. Também somos sua família, não vou te culpar isso é bem mais importante, se Joong estivesse em perigo eu nem sei o que faria.
Ficávamos um tempo abraçados em silêncio até nos encaramos e um sorriso solidário nos atingir.
- Você parece um tomate quando chora.
- E você deveria poupar suas linhas de expressão, crianças dão rugas.
O toque leve na porta entreaberta chamava nossa atenção.
- Desculpa atrapalhar esse momento de irmandade super esquisito entre vocês meninos, o jantar já está pronto.O jantar seguia num clima esquisito, como se todos soubessem que aquela era a calmaria antes da tempestade. Ainda estávamos sentados na mesa quando Dunk olhava seu relógio tentando disfarçar as mãos trêmulas. Subia as escadas e me sentava na poltrona onde tinha feito minha morada das noites de insônia. Respirava fundo escutando o som agonizante da chamada cutucando um laço branco preso ao berço.
- Tawan?
- Não esperava que fosse me ligar tão cedo.
- Tawan, onde Gumpa está?
- Eu não sei, ele sumiu faz dois dias depois de ir procurar por Jumpol na propriedade privada de Way num canto mais afastado da cidade, eu disse pra ele não ir sozinho. Eu o avisei.
Meu coração começava a acelerar e as lágrimas se formavam junto ao bolo na garganta.
- Quantos dias Jumpol está desaparecido?
- Hoje vai fazer uma semana sem nenhum sinal, eu sinto muito Gun.
- Eu estou voltando, agora.
- Não é o que ele iria querer, ele estava nos fazendo mentir pela sua segurança. Depois que foi embora as brigas de rua se intensificaram, as rondas nas nossas áreas ficaram impossíveis de ser feitas e quando Jumpol estava prestes a assinar um acordo ele sumiu, a única opção que resta ao investidor é Way.
- Quem são essas pessoas?
- Ele estava mantendo tudo restrito.
- E ainda acha que eu não voltar vai ser a melhor opção? Não adianta, eu estou voltando pra casa.
- Fiat está liderando a inteligência, ele está mantendo as ordens de serviço, até agora sem nenhum avanço.
- Devo chegar em menos de um dia, não os avise da minha ida.
- Como vai fazer isso?
- Eu vou dar um jeito.
- Independente do que acontecer ainda vou estar do seu lado, irmãozinho.
A ligação encerrava após a deixa melancólica de Tay, apostava que assim como eu também tinha que engolir suas emoções, eu sentia dor, meu coração estava quebrado. Dunk e Joong entravam pelo quarto, eu não precisava de palavras, o simples ato de os abraçar enquanto um choro me consumia dizia tudo.
Naquela mesma noite eu prestava contas com os ambos sobre o meu trabalho, mantinha uma frieza assustadora em vista de os ver completamente abalados. Me despedia dos dois como quem fosse pra guerra. E eu realmente iria.
- Não chore, Dunk.- Limpava uma lágrima de seu rosto.- Quando estiver tudo resolvido vamos vir ver vocês e ver a pequena Tian também.
- Não aguento te ver partir assim e não poder fazer nada isso é tão injusto.- Ele se afastava afundando o rosto no peito do marido que me olhava sério.
- Estou enviando meus seguranças e os contatos clandestinos pra sede, vou arrumar um jeito de mantermos contato. Por favor, toma cuidado.
- Obrigado Joong.- Pegava minha bolsa que estava em suas mãos.- E também tenho que agradecer por dar ao meu melhor amigo uma família linda.

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IMPETUOSOS
FanfictionQuando um encontro repentino conseguiu revirar toda minha vida? Não. Não foi um simples encontro. Foi o encontro com Off Jumpol com que fizesse que eu me casasse com os homens mais perigosos da cidade. Como isso foi acontecer? Talvez se eu não tives...