IMPETUOSOS

23| good morning

Não acredito que fiz isso. Eu não acredito que fiz isso de novo. Espalmava a cama sentindo o vazio ao meu lado, me sentia cansado o suficiente pra não questionar saber onde ele estava e nem de onde aquele barulho vinha. Parecia estar virando rotina acordar numa cama específica, que não era minha, sem o dono dela lá. Virava vendo a janela fechada, apenas alguns pontos de luz clareavam sendo impossível distinguir que horas eram. Ouvia os passos indo em direção a cama e logo ele estava ao meu lado.

- A gente se fala mais tarde eu vou desligar. Você acordou... durma mais um pouco, ainda estou cansado e disse que só ia descer quando você acordasse.- Ele se mexia na cama fechando os olhos resmungando.

- Disse pra quem?

- Mond, a festa é hoje, tem pessoas pelo meu prédio e não quero lidar com isso agora.

- A festa é hoje! Eu me esqueci completamente.

Ameaçava me levantar e Off pressionava meu corpo devolta na cama.

- Ainda estou com sono, então ainda está com sono, durma.

- Por que está tão frio?- Voltava a me cobrir.

- Estava calor ontem à noite e você só para de se mexer quando está totalmente coberto.

Piscava algumas vezes me tomando por conta, seu rosto permanecia zangado com o cenho franzido, seus segundos acordados acabavam quando ele afrouxava a mão que tinha me impedido de levantar anteriormente. Ele tinha voltado a dormir.

- Você sabe onde é minha casa e sempre me traz pra cá, P'Off.- Cochichava.- Você é horrível, sabia? É um péssimo chefe e muito cabeça quente, eu odeio trabalhar pra você.

Nada. Ele realmente tinha entrado num sono profundo, o peito subia e descia calmo, seu cenho franzido me incomodava o suficiente pra ir com o indicador entre suas sobrancelhas desfazendo.

- Você é muito estressado, Papi. Papi.- Repetia me aproximando.- Você não gosta quando eu te chamo assim quando está acordado, ou finge que não gosta?

O sono pesado permitia que eu deslizasse pra fora da cama, ele agarrava somente o cobertor onde eu estava. Alcançava no chão minha bolsa constatando celular sem bateria, em compensação o iPad borbulhava de notificações de confirmação de comparecimento. Fazia o possível pelo quarto andando na ponta do pé pra que não o acordasse. Entrava na suíte depois de furtar alguma das suas roupas menores, por sorte eu não me importava em usar roupas maiores, pelo contrário eram perfeitas. Até as suas roupas mais simples eram de grife o que me surpreendia, quem se importava se suas blusas brancas lisas eram Balaciaga? Fechava o box fosco deixando a água morna relaxar meus músculos.

- Se sente mesmo a vontade assim, por quê não vai logo pra banheira?- Sua voz sonolenta batia em meus ouvidos fazendo eu abrir os olhos.

- Você me assustou! Foi você quem me trouxe pra cá e não vou usar sua banheira.

- Tá com medo do que eu já fiz dentro dela?

- Você é nojento.

Ele ria fraco, ouvia o som dele escovando os dentes simultâneo ao término do banho.

- Esqueceu a toalha.

Via sua sombra sumir e reaparecer em questão de segundos fazendo minha espinha gelar quando o via se aproximando do box.

- P'Off! Pode deixar em cima da bancada eu já saio.

- Gun, eu vi as marcas ontem.

- Eu estou bem agora.

- Pode dizer que está tudo bem mas toda vez que eu olho você o seu corpo sinaliza que não, de alguma forma me sinto mal, não sei o que aconteceu e penso na possibilidade de ter feito algo parecido com você.