33 | Sal na ferida

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Did you think it all through?
All these things will catch up to you

Você pensou bem no que estava fazendo?
Todas essas coisas vão te alcançar


Bad Blood

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Não ligo nem mando mensagem para Connie, aterrorizada pela possibilidade de ela não atender ou não responder, e igualmente receosa do que ela diria se quisesse falar comigo. Enquanto me arrumo no hotel, me convenço de que ela não vai aceitar o convite de Andressa e aparecer no jantar. Connie é esperta demais para cair em uma armadilha tão óbvia de drama familiar.

Andressa, na plenitude dos opressores, decide continuar usando as mesmas roupas de antes, afirmando que as minhas ficariam muito largas nela e que, de qualquer forma, não fazem seu estilo. Ela deita de um lado da cama de casal e fica mexendo no celular o tempo todo, enquanto eu me desespero por causa de algo que foi culpa dela.

A hora do jantar chega e a minha avó me liga, dizendo que já está a caminho do restaurante com dona Marisa e os irmãos de Emily. Isso só me lembra de que, além de a minha família estar lá para presenciar o que só pode ser um desastre, a minha melhor amiga e sua família também estarão.

Encontramos com Emily no lobby do hotel e vamos juntas até a calçada para esperar o motorista de aplicativo. Depois de alguns segundos arrastados de silêncio, Emily pergunta:

— Jantares em família são um evento tão assustador assim para vocês? — Ela está terminando de colocar alguns grampos no cabelo, preso em um coque baixo. Sempre prefiro os cachos dela soltos, mas dessa vez o penteado combina com o visual, completo pela camisa verde social e pela calça cáqui. — Nunca vi duas pessoas tão tensas. Até na Copa você estava mais relaxada, Becs.

Na Copa, eu sabia que não tinha grandes responsabilidades no time, estava ali como reserva. E, ainda assim, não estava relaxada. Estava uma pilha de nervos e tinha acabado de terminar um relacionamento de anos, além de estar em observação depois do rompimento parcial no meu ligamento do joelho, meses antes. Eu tinha medo de me machucar, de jogar mal e, mais do que tudo, da derrota.

E agora, neste momento? Bem, eu ainda posso me machucar, fazer merda e perder tudo. Se a Connie decidir que eu não sou o que ela esperava, vai ser pior do que uma derrota em campo.

— Não é que os nossos jantares em famílias sejam assustadores — Andressa responde à pergunta de Emily. — É só que eles sempre machucam.

Ela me encara, impecável na maquiagem que usa, no queixo erguido e no olhar austero. Tudo o que um dia categorizei como frieza em sua expressão agora só me parece cautela. E talvez, só talvez, outras pessoas ao meu redor já tenham me visto com uma expressão parecida.

Talvez eu esteja com uma expressão parecida agora mesmo.

Apesar de reconhecer algo da minha irmã em mim — e, caramba, ainda não sei como lidar com isso — eu não perco a chance de apontar:

— Mesmo sabendo disso, você convidou a Connie para jantar conosco.

— Se eu não convidasse, nunca teria a chance de conversar de fato com ela.

— Como você sabe? Eu poderia fazer um convite em outro momento, quando estivesse pronta.

— Você nunca estaria pronta, Rebeca. Não é à toa que o seu ex-namorado de anos nunca conheceu a nossa família.

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