Capítulo 3

74 19 1
                                    

Pete

Minhas mãos estão geladas e não tem nada a ver com o clima.Trancado no interior de um quarto de hotel pelos últimos dias, nem tenho ideia se está chovendo ou se é um dia ensolarado. Não estava autorizado a sequer me aproximar das janelas, mesmo estando num dos últimos andares.

Agora, dentro de uma van de uma empresa de telefonia, tampouco tive um vislumbre do céu. Fui do elevador direto para dentro do veículo, um carro descaracterizado. Nenhuma viatura é segura para eu andar nesse momento.

O agente Becker foi no banco da frente com o motorista e está falando sem parar no celular. Os outros dois policiais estão na parte de trás comigo, mas nem parecem me ver. Acho que não veem a hora de se livrarem de mim e voltarem para suas rotinas.

Quem pode culpá-los?

Nem eu queria estar perto de mim, nesta situação.

Vai ficar tudo bem, Pete.Tudo tem uma razão de ser… — vovó sempre falava isso, principalmente, quando algo acontecia e eu ficava chateado.

Ela me chamava para ajudá-la na cozinha e ali eu esquecia todos os problemas. Ficava tudo bem, como ela tinha prometido. Não que eu tivesse algum, na época, mas um adolescente de quatorze anos pode ser um pouco dramático, e eu não era diferente.

— Agora não está tão fácil, vó — sussurro, desejando que me escute e ore por mim de onde estiver.

O carro reduz a velocidade e, pela reação dos policiais, estamos chegando. O ambiente é de tensão. O veículo para e escuto vozes do lado de fora da van.O agente está conversando com alguém, provavelmente, a equipe que fará minha segurança.

Uma batida na porta é o sinal.

Os policiais a puxam e são os primeiros a descer, armas em punho e dedo no gatilho.
Em alerta.

— Pete, pode vir — anuncia Becker e, por mais que minha vontade seja ficar quieto e, quem sabe, acordar deste pesadelo, forço minhas pernas e desço com cuidado do veículo.

A primeira coisa que vejo é um par de botas militares, ergo os olhos e o tempo parece parar.
Seu olhar está em mim e…

O homem é…

Lindo, admita.

Intenso!

Nunca vi um olho tão escuro, lembra uma noite sem estrelas.O cabelo na altura dos ombros e  músculos bem distribuídos,perfeito.

Não para mim, é claro.

Um homem destes nunca sequer olharia na minha direção, mas admirar ainda não é crime.

— Pete, este é o Vegas. Ele vai cuidar de você.

Sim, Pete pare de babar no homem e foco na situação.Por segundos, até esqueci os motivos de estarmos agora frente a frente.Ele apenas assente, ainda me analisando. Nem a sombra de um sorriso confortador.

Nada.

Espera aí? Ele vai cuidar de mim? Tipo, apenas eu e ele?Não que ele não pareça capaz, pelo contrário, mas há tantas pessoas atrás de mim.

Desvia o olhar apenas para verificar os arredores, e só então percebo que estamos em algum estacionamento subterrâneo. Há alguns poucos carros estacionados, mas não faço ideia de onde estamos.

— Você tem que pegar algo na van? — dispara e levo alguns segundos para perceber que é comigo.

Agarro firme a pequena sacola de mercado, onde estão os poucos pertences que tenho comigo.
Um xampu, desodorante e escova de dente, além, é claro, do conjunto de moletom, cortesia do departamento de polícia.Podia ser pior, eu poderia estar ainda com a roupa do corpo, mas enfim, meus recursos são limitados.

Strong : VegasPete (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora