VI

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Pedro Tófani

A verdade é que eu não tinha ido na casa do Jão por dois motivos.

Um- Eu estava com um passeio marcado
Dois- Eu não sei se gostaria de aturar ele.

Eu tinha um passeio marcado com uma menina, que eu troco ideia a um tempo.
O nome dela é Júlia, ela é legal, faz até o meu tipo, e claro, ela faz teatro comigo.

Ela gosta muito de câmeras também, e sempre me pede pra que eu tire fotos dela.
Mas eu não curto muito tirar foto dos outros. Principalmente na minha câmera como ela sempre pede.

Encontrei com ela numa sorveteria que ambos gostamos muito.

- Ju! Oi!

- Pe! Eai!

- Tudo bem?

- Sim! Como você tá?
Ela diz me puxando pra dentro, nós fazendo sentar na mesa.

- Bem! Já sabe o que vai querer?

- Um açaí.. Com ninho.

- Pede o de sempre pra mim. Sorvete de chocolate com calda de morango. E traz a conta que eu pago!

- Tá bom!

Ela se levanta da mesa, indo ao caixa fazer o pedido, logo ela volta pra mesa. Julia é morena ondulada, tem um sorriso bonito, os olhos castanhos escuros, usa roupas estilosas, gosta muito de botas, e ela tem um humor muito parecido com o meu.

Enquanto os sorvetes não chegavam, estávamos trocando conversas e risadas. Estavamos falando muito da peça, ainda mais que seu papel seria a mãe de Pietro.

Os sorvetes chegaram, e fomos tomando pela rua, depois que paguei.

- Acho que essa peça vai ser tudo!
Ela diz animada

- Dependendo, pode ser a melhor que a escola já fez!

- Totalmente!

- Quer um pouco do meu sorvete?
Digo com a colher do lado dela

- aceito!
Ela come
- Você não erra mesmo.. Chocolate com calda de morango nunca fica ruim!

- E você acha que eu não sei? Sempre peço o mesmo por isso!

Sentamos em um banco da praça, onde ela vê minha câmera digital no bolso.

- Pe, tira uma foto minha?

- Ah.. tá, cadê seu celular?

- Não! Na sua câmera!

- Ah.. tá bom..

Tiro a câmera do bolso com certa relutância, tirando duas fotos dela, forçando um sorriso.

- Ficaram lindas!

- Com um fotógrafo como você!

- Que isso.. Meu lugar é nos palcos mesmo.

Falo guardando minha câmera, enquanto ele puxa meu rosto pra um selinho. A gente nunca tinha feito isso. Eu nunca tinha beijado ela antes.

Me afasto meio sem jeito e sem graça, passando o polegar pelo lábio inferior. Ela solta uma risadinha e me olha.

- Desculpa.. Achei que já estaríamos prontos pra isso.

- Não! Tudo bem! Estamos!

- De verdade?

- Verdade!

Ela deita a cabeça no meu ombro, e apenas deixo, faço nada demais.

Conversamos muito, e andamos também. Fomos na livraria, numa fonte, em uma cafeteria. E quando já não tínhamos mais forças, fui acompanhar ela até sua casa. Só não esperava que passaríamos na frente da casa do Jão. Por sorte ele não estava ali.
Ela era vizinha dele e nunca me contou.

Ela me encostou na parede e me puxou pra um beijo. Não tive reação além de subir as mãos, como se estivesse rendido, pra não encostar nela e fechar os olhos assustado pra seguir.

- Valeu pelo dia pe!
Ela diz quando se afasta

- Que isso.. Gostei muito também..

- Me avisa quando chegar na sua casa, por favor!

- Pode deixar!

Ela entra na casa dela, que era simplesmente de frente pra casa do Jão.

- Ela é vizinha de porta dele! Simplesmente assim!
Exclamo pra Malu, durante o intervalo no outro dia.

- E não te falou nada?

- nadinha! Se ele me viu já era! Vai implicar comigo!

- Até agora ele não disse nada, né?

- Até agora não.. Não deu nem tempo.. O professor já chegou colocando a gente pra ensaiar.

Dito e feito, João vem até a nossa mesa, apoiando as mãos por cima do meu roteiro

- Augusto, precisamos conversar.

- Alguma dúvida sobre o roteiro?

- A sós.

Me levanto da mesa,indo atrás dele que me leva a um lugar quieto e vazio da escola, me colocando na parede

- Você não foi na minha casa pra ficar beijando, que feio Tófani.. Sabe, meus pais não gostam de pessoas que furam coisas que são de sua responsabilidade.. E ainda mais adolescente que são beijoqueiros..

Obviamente engoli seco, olhando pros lábios dele a cada sílaba que ele falava, quase enfiando o dedo na minha cara

- Vamos ter que fechar um acordo.. Ou você faz tudo o que eu quiser nos ensaios na minha casa, ou eu saio do teatro e volto feliz pro meu vôlei. Além de acabar com sua reputação pros meus pais, que claramente vão contar pros seus.

Ele da um sorriso malandro de canto.

- imagina, Augusto é um irresponsável beijoqueiro.. Temos um acordo?

Concordo com a cabeça

- Fala! Ou quer um beijinho meu também?

Ele se aproxima mais, dando pra sentir nossas respirações juntas, quase juntando nossos lábios, meus olhos estavam fechados, então, ele coloca a mão no meu peito, me prensando mais ainda na parede se empurrando pra trás.

- Acha mesmo que vou beijar alguém como você? Desculpa mesmo Augusto.. E você, tá muito bem avisado.

Ele se vira, indo embora.

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