IV

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Pedro Tófani

No sábado, teria de ir na casa do Jão, a pedido dos pais dele. Fiz uma cópia do roteiro, que tinha sido entregue no final da aula que ele apareceu pela primeira vez.

A peça se chama "As Máscaras"

Nessa peça, os dois personagens principais são Pietro e Alex. Ambientada em um contexto de desigualdade social, a peça aborda as diferentes máscaras que as pessoas precisam usar para se adaptar à sociedade. Pietro representa a classe mais privilegiada, enquanto Alex representa aqueles que sofrem com a desigualdade. Através de diálogos e performances teatrais, a peça explora as injustiças sociais e as dificuldades enfrentadas por aqueles todos que vivem em sociedade. Ao decorrer de ver os por trás das máscaras, Pietro se encontra com Alex, mostrando que eles também tem dores, que precisam se aliviar e então os dois se ajudam.

E adivinha quem pegou papel principal? Eu! Como Alex! E por incrível que pareça, estávamos sem um Pietro, e Jão entrou bem na hora.

Então seremos os dois principais da peça. E como ele não tem experiência, farei de tudo pra ele ser o melhor personagem principal. Não melhor que eu, claro.

Assim que saio do banho arrumado, desço pra almoçar com meus pais, contando sobre a peça, e como vou tentar ensinar o Jão com técnicas de teatro.

Logo que saio de casa, já imagino o quanto vai ser difícil passar um dia com um menino que só vai me chamar de caipira.

E ao chegar na casa dele eu me sinto surpreendido. Uma casa não muito grande, mas ainda sim bonita.

Não demora pra ser atendido pelos pais dele que já estavam de saída, junto com a irmã que estava indo pro shopping com a prima, pra deixar a casa livre. Subo pro quarto dele e bato na porta, ouvindo o piano parar. A melodia que tocava parecia com Carinhoso, da Marisa monte.

- Entra!

Ouço e entro no quarto, dando um sorrisinho de canto, simpático.

- Você toca piano? - eu sabia, mas foi meu jeito de iniciar uma conversa.

- Não, esse teclado tá aqui de enfeite. Toco!

Ignoro o jeito dele, tentando ser o máximo simpático.

- Gosta da Marisa Monte?

- Gosto. Mas a gente vai falar de teatro..Ou do que eu gosto, faço ou não faço?

Jogo o roteiro no peito dele.

- Você é o Pietro, o segundo personagem principal.

- E quem é o primeiro?

- Eu.

Percebo o olhar dele, e solto uma risada

- Assustado? Relaxa aí! Hoje eu pensei de fazermos algumas atividades e depois treinarmos sua entonação no roteiro.

- Tá..

- Primeiro a brincadeira do troca. Você vai fazer um monólogo pra mim, e toda vez que eu dizer, troca, você muda a frase ou a palavra. Certo?

- Certo. Mas o que seria um monólogo?

- Nunca teve aula de português? Monólogo é um texto do personagem, onde ele fala consigo próprio, ou, com a plateia.

Ele revira os olhos e me sento na cadeira na frente do seu piano.

- Pode ser um monólogo de drama!

- Drama? É.. tá bom.

Jão Romania

- Destruíram nossa terra, nossa cidade, nossas casas, fábricas, prédios, mercados, lojas, e tudo que eles levam como importante! Eu não! Só me sinto triste, vazio e perdido pois arrancaram meu amor!

- Troca!

- Meu pai!

- Troca!

- Meu amigo!

- Troca!

- Meu dinheiro! Meu dinheiro que fazia a diferença pra muito, que me levava aos lugares mais loucos que já vi. Mas do que adianta!? Agora eles nem exitem! Foram destruídos! Veja o dinheiro não vale nada!

- Troca!

- O dinheiro vale tudo! Mas não vale o amor! Estava namorando!

- Troca!

- Estava casado!

- troca!

- Estava noivo!

- Troca!

- Estava solteiro!

- Troca!

- Estava morrendo sozinho! E o amor ao dinheiro me salvou. Mas agora de que adianta, se ele me deixou? Me deixou agora, que mais preciso dele.

Vejo ele batendo palmas, se levantando

- Você tem talento! Só preciso de mais sofrimento e expressão! Não tenha medo de gritar ou se exagerar no teatro! Todos precisam te ver e ouvir! Esse exercício é ótimo pra improviso! Você foi muito bem! E se solta mais! Movimenta! Usa as mãos! Se movimenta! Anda pelo palco!! Olha nós olhos de quem estiver te assistindo!

- Já vi que trabalhar com um mandão como você vai ser terrível!

- Eu tô fazendo isso pro seu bem! Seus pais estão cobrando que você vá muito bem!

- Tá caipira! A gente faz o que agora?

- Vamos ler sobre o seu personagem! Abre na primeira página depois da do cast

Depois de ler um pouco, vi que ele tinha alguns traços de personalidade esquisitos, então lemos algumas falas e fomos moldando o personagem. Horas trocando algumas farpas, outras horas estávamos de boa.

- A gente já não fez coisa de mais por hoje?

- Por mim faríamos mais..

- Vamos parar! Você vai embora e volta amanhã ainda!

- Tá bom.. Mas você pode tocar no piano, carinhoso?

- Não! Quer fazer um lanche?

- Tá.. aceito

Fomos pra cozinha e fizemos um lanche, totalmente em silêncio. Assim que terminamos levei ele até a porta.

- Amanhã eu não venho.

- Melhor.

Digo em resposta e ele finalmente vai embora, me fazendo subir pro meu quarto, me jogando na cama.

Amor teatral  | pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora