Amor teatral | pejão

IX

Jão Romania

A aula de piano tinha acabado de terminar, dessa vez eu não estava tão viciado em tocar carinhoso no piano. Eu estava gostando muito de tocar exagerado, mania de você, o tempo não para, codinome beija-flor.. entre algumas outras.

Enquanto treinava, escuto batidas na porta, Pedro. Digo pra ele entrar, enquanto me viro pra ele, com um sorrisinho de canto, já vendo ele deixar a sua mochila no canto tradicional.

- Oi..
Arrisco em dizer, num tom baixo e calmo. Pensei no que Isa tinha me falado, e tentaria ter uma boa relação com ele.

- Oi. O professor ficou irritado por você não ter voltado pra aula.
Ele me responde, tirando o roteiro da bolsa.

- Imagino.. Não, não, guarda o roteiro.

- Vai me pedir o que hoje?

- Eu queria me desculpar com você. Acho que começamos da forma errada.. Queria saber se você aceita ir dar uma volta comigo..

- Vai aprontar o que comigo? Me prender na parede, me ameaçar, me chamar de nerd. Eu fiz o que dessa vez? 

- Você não fez nada! Eu tô falando sério com você! Quero ir dar uma volta, a não ser que você queira ficar aqui, ensaiar nossa dança de valsa.

- Não quero..
Ele abaixa a cabeça, enquanto estendo minha mão pra ele.

- Vamos então?

- Vamos.

Puxo a mão dele, saindo do quarto, voltando pra pegar meu violão, saindo com ele escondido. Durante o caminho fiquei em total silêncio, enquanto ele só me acompanhava.

- Então.. É.. Você é amigo da Malu?
Arrisco dizer.

- Sou..

- Ta explicado por que é tão estiloso. Vocês se relacionam? Sempre estão juntos sabe.
Ele solta uma risada, incrivelmente gostosa.

- Não! A Malu é como uma irmã.. Crescemos juntos.

- Ah, desculpa..

- Tranquilo.. Já são tantos anos dessa pergunta, que estou completamente acostumado.

- imagino..

- Você é primo da Giovana?

- Sou!

- Ela é uma graça, diferente de você.

- Ei! Eu fiz muita coisa errada com você! Mas vou corrigir, você verá que sou muito legal!

- Tenho minhas dúvidas..

- Vou tirar todas elas..

Logo chegamos em uma trilha, que nos levava a um lugar mais alto da onde estávamos, subimos com certa dificuldade, mas logo chegamos, ao um lugar com uma pequena cascata, e uma escadinha, pra subir no alto da cascata.

Puxei ele pra subirmos e pronto, a vista inteira da cidade estava diante dos nossos olhos.

- Valeu a pena?

- Tá, até que valeu.. Mas a gente vai fazer o que aqui?

- Queria tocar pra você..

Me sento e logo em seguida ele se senta na minha frente

- Tocar pra mim?

- É..

Tiro o violão da bolsa, pegando ele, afinando os acordes, começando a tocar as cifras de garota de Ipanema, do Vinícius de Moraes.
Tirando um pouco da minha voz, pra cantar pra ele.

Ele me olha surpreendido, dando uma risadinha, se aconchegando na música.

A cascata batia com a água nas pedras, fazendo um barulho suave, nada de sol, um tempo tanto quanto nublado, os acordes do violão, minha voz baixa e suave, enquanto o vento batia em nossos rostos, levando as folhas sem uma completa sintonia.

Assim que termino ele bate algumas palmas, com um sorrisinho de canto

- Tem talento hein..

- eu sei! aí, desculpa

- convencido!

Coloco meu violão de canto, colocando num som baixo, minha playlist com algumas músicas Mpb, que eram recomendas pra mim, depois de te salvo quase todas as músicas do Cazuza.

Sentei ao lado dele, olhando pra vista em frente, logo vendo ele tirar uma câmera digital do bolso, tirando fotos da paisagem, guardando novamente

- gosta de câmeras?

- gosto!

Ficamos o resto da tarde ali conversando, até percebemos que deveríamos voltar pra casa, rápido.

Corremos como nunca, subimos as escadas em silêncio, nos jogando no chão

- Eu nunca mais saio com você!

- Para! Você adorou!

- talvez tenha sido legal mesmo.

Dou um sorrisinho de canto, totalmente satisfeito.