𝑴𝒐𝒓𝒕𝒆 𝒆𝒎 𝑽𝒊𝒅𝒂

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"Quanto mais você tem, mais eles tomam".


Aquilo não estava acontecendo, não podia estar acontecendo com ela. Não quando Lidia havia chegado tão perto de ter sua família completa.

— Abençoada Luna, tão radiante no céu — ela ouviu Flynn começar a rezar do outro lado da sala. —, poupe sua filha...

Sem oração! — Ithan interrompeu, vociferando tão alto que os vidros balançaram. Ele olhou com fúria para o amigo, repetindo: — Sem oração, porra. Ela não está morta!

Não, ela não estava morta. Ela não podia estar morta. Havia lutado tanto e feito tanto... tinha salvado vinte pessoas naquela praça antes de ser pega. Morana era uma heroína, uma sobrevivente. Ela não estava morta. Não podia estar.

— Como está, Declan? — ela perguntou sombriamente, agarrada ao celular da filha numa mão e segurando firme uma pistola com a outra.

Ruhn tinha chegado no lugar três minutos depois dela ser levada. Apenas três minutos o separando de ter conseguido impedir os homens da Rainha Víbora de terem levado-na para onde apenas os deuses sabem. Ruhn se encontrou com Lidia e Bryce na esquina da praça onde o tiroteio aconteceu. O cheiro do sangue de Morana ainda enchia o quarteirão quando a ficha do que aconteceu tinha caído sobre ela: a Rainha Víbora a levou como uma vingança pelo tiro que Lidia acertou nela naquele dia do poço.

Lidia apertou o celular e a arma mais forte. Uma almofada em seu sofá pegou fogo. Tharion jogou uma lança de água no tecido, apagando as chamas.

Bryce estava atrás de Declan, roendo as unhas. Ruhn montava e desmontava um rifle de precisão como se apenas isso o mantivesse com a mente sã o bastante no momento para não começar a colapsar. Flynn e Ithan se mantinham próximos de Declan.

E, Lidia se deu conta, tinha Sunnyday. A gata estava deitada sobre a jaqueta de couro que pertencia a Morana, que a filha sempre esquecia de colocar no armário de jaquetas. A gata olhava para eles, analisava seus espíritos nervosos, e então deslizava o olhar azul para a porta, como se esperasse que Morana fosse passar por ali a qualquer momento.

E por um segundo, quando a porta se abriu, Lidia pensou que fosse desmaiar de alívio ao imaginar a filha na entrada — mas era Hunt, com um semblante pálido e sôfrego. O anjo fechou a porta e então ergueu um CD entre os dedos.

— O porteiro disse que acabaram de entregar. É para a Lidia.

Ela tomou o CD da mão do anjo e o ofereceu para Declan. O feérico imediatamente colocou o CD na entrada do notebook e abriu o arquivo de vídeo.

A primeira imagem quase colocou Lidia de joelhos.

Morana estava amordaçada e algemada com os braços erguidos e esticados. Seu vestido estava ensanguentado e com metade da saia rasgada, erguido o bastante para mostrar a lateral do quadril esquerdo. Dois buracos nas coxas expeliam sangue e gosma azul, as balas gorsianas que atravessaram seus ossos e seus músculos, incapacitando-a de usar magia. O rosto da filha estava cheio de lágrimas e manchado com rímel, aprofundando o semblante assustado e doloroso que Morana exibia.

Lidia teve a vaga noção de que alguém começou a xingar e outro começou a chorar — mas ela permaneceu imóvel, inescrutável conforme um segundo corpo apareceu na tela.

Bastou um olhar para as asas imponentes, o sorriso presunçoso e os olhos mortos de peixe que Lidia sabia quem era.

Ephraim.

✓ 𝑵𝒐𝒃𝒐𝒅𝒚'𝒔 𝑫𝒂𝒖𝒈𝒉𝒕𝒆𝒓 | (𝐶𝐶𝐼𝑇𝑌 𝑎𝑓𝑡𝑒𝑟 𝐻𝑂𝐹𝐴𝑆)Onde histórias criam vida. Descubra agora