𝐷𝐼𝐴 9

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"Eu queria tudo o que nunca tive, como o amor que vem com a luz".


Por favor.

Sempre as mesmas palavras. As únicas palavras que as pessoas tendiam a dizer na presença da Carnifex.

Através do sangue salpicado em seus olhos, Morana observava o metamorfo encolhido a sua frente, cheio de dor pelas horas de tortura. As mãos em garra erguidas, trêmulas.

— Por favor — implorava o macho.

Cada palavra dissociava ainda mais Morana da cena. Até que seu braço estendido se desligasse do corpo, até que a arma apontada para a cabeça do macho fosse apenas um pedaço de metal.

Morte por vida. Essa era sua maldição.

— Por favor.

Ela havia feito coisas terríveis. Coisas indescritíveis. Ela merecia a morte. Merecia punição pior. Merecia alguma coisa pior do que a morte.

— Porfavorporfavorporfavor.

Morana não era nada senão uma sombra, um fiapo de vida, um instrumento de morte. Não era nada nem ninguém e merecia morrer.

— Por...

Ela puxou o gatilho.

* * *

Morana encarava o segundo homem do dia morto à sua frente sem nenhuma emoção. Ele já estava morto, de que adiantaria chorar por isso?

Ela escutava o pingar constante do sangue, ainda sentia o cheiro do projétil da bala que se enterrou dentro da cabeça do homem. Não sentia nada, ainda mais depois da segunda morte do dia; estava tão vazia de tudo que estava prestes a pegar a arma e apontar para a própria cabeça antes de apertar o gatilho. Seria mais fácil, acabaria com tudo e então... seu celular tocou.

Ela pegou o celular do bolso e guardou a arma de volta no coldre em sua coxa. O nome de sua mãe brilhava na tela. Morana pensou antes de atender, se aceitaria essa aproximação ou não, e por fim resolveu aceitar. Precisava de uma distração depois do que tinha feito.

Precisava de absolvição.

Atendeu a ligação e colocou o celular na orelha. Não disse nada por um segundo. Nem mesmo sabia se ainda tinha voz depois do que havia feito.

— Oi, você está aí? — ouviu a voz hesitante de Lidia do outro lado da chamada. — Alô?

— Oi.

— Te liguei num momento ruim?

Lidia tecnicamente tinha acabado de salvar Morana de dar um tiro na própria cabeça, mas ela não precisava saber disso. Pessoas normais não saiam contando sobre suas idealizações suicidas.

— Não.

— Ah, que bom. Eu odiaria te atrapalhar — elas ficaram em silêncio por um tempo, e Morana ouviu alguém sussurrando alguma coisa para Lidia do outro lado da linha. Sua mãe suspirou antes de falar: — Eu liguei porque eu queria saber... nós aqui em casa queremos convidar você para jantar hoje à noite.

Morana ficou em silêncio, encarando o corpo do macho que tinha sido assassinado minutos atrás. Como podia estar viva depois de ter feito uma coisa abominável como essa?

— Se você quiser aparecer, é claro. Não quero pressionar você.

— Sim — Morana se viu falando, sentindo os olhos lacrimejar.

✓ 𝑵𝒐𝒃𝒐𝒅𝒚'𝒔 𝑫𝒂𝒖𝒈𝒉𝒕𝒆𝒓 | (𝐶𝐶𝐼𝑇𝑌 𝑎𝑓𝑡𝑒𝑟 𝐻𝑂𝐹𝐴𝑆)Onde histórias criam vida. Descubra agora