Aniversário frustrado

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Dez dias depois...

A corrida matinal se tornou mais do que um exercício para mim. Era um símbolo da minha luta para recuperar minha memória, mas também era um símbolo da minha esperança. Todos os dias Olivia me acompanha para corrida, ela não conseguia concluir o trajeto. Era estranho meu corpo sem lembrar do preparo físico, mas não se lembrar da minha vida familiar. Encontro ela sentada no banco, assim que me vê abre o sorriso. Saímos em direção ao carro. Observo a cidade pela janela do carro.

O sábado estava radiante, um sol banhava a casa com sua luz dourada. Era o aniversário de 8 anos dos meus gêmeos, Laura e Henrique. A casa dos meus pais estava enfeitada com balões coloridos, bandeirinhas e um bolo confeitado com velas cintilantes. Tudo pronto para uma festa inesquecível.

Mas, dentro de mim, a alegria era envolta em uma névoa de tristeza. Eu não me lembrava de nada. Nem do meu casamento com Olivia, nem dos meus filhos, nem dos momentos felizes que havíamos vivido juntos.

Um acidente de carro há alguns dias atrás, havia apagado todas as minhas memórias. Era como se eu tivesse nascido de novo, um estranho em minha própria vida.

Olivia, com sua força e amor incondicional, havia me ajudado a superar as dificuldades e a me adaptar à nova realidade. Ela me ensinou tudo sobre nossa família, sobre as nossas histórias e sobre o amor que nos unia.

Os gêmeos, com sua inocência e alegria contagiante, eram a minha maior fonte de inspiração. Ver seus sorrisos e sentir seus abraços me dava a esperança de que um dia eu poderia recuperar minhas memórias.

No entanto, a culpa me consumia por dentro. Eu me sentia um monstro por não lembrar dos meus filhos, por não poder participar das suas vidas como um pai deveria.

Diante dessa situação, Olivia decidiu cancelar a festa. Ela sabia que eu não estava preparado para enfrentar a alegria e a nostalgia que a data traria.

Naquele dia, enquanto a casa se enchia de silêncio, eu me senti mais perdido do que nunca. As memórias perdidas eram como um fantasma que me assombrava, impedindo-me de viver o presente com a minha família.

No fim da tarde, quando a casa ainda estava envolta em um clima melancólico, a campainha tocou. Olivia foi atender e, para sua surpresa, se deparou com Estela, sua ex-sogra, acompanhada de Valquíria, sua ex-cunhada.

Valquíria era a responsável pelo acidente que me deixou amnésico, mas ninguém sabia, nem eu. Ao ver Valquíria, senti uma onda de raiva e repulsa tomar conta de mim. Mas, ao mesmo tempo, me senti confuso. Eu não sabia quem era essa mulher, nem o que ela havia feito para ter esse sentimento por ela.

Olivia, furiosa com a presença indesejada, confrontou Valquíria e Estela. Uma discussão acalorada se iniciou, com ofensas e acusações voando de ambos os lados.

- Vocês não foram convidadas, podem ser retirar, por gentileza. Olivia fala. Acompanho tudo da sala.

- Resolveu opinar na casa que nem é sua, criada imunda. Estela ofende Olivia.

- Pior é você sua mal parideira, esse útero só deu coisa ruim, sua psicopata.

- Não fala assim com minha mãe.

- Cala sua boca, eu sei que está envolvida no que aconteceu com meu marido, mas a justiça será feita seja pelos homens ou por Deu.

- Seu marido? Ele foi marido da minha filha. Coitada, mas se esqueceu de você e ainda se lembra da minha Valentina. Ela sim, era mulher certa para Fernando, não uma garota de quinta e órfã.

Em um momento de fúria, Olivia agarrou os cabelos de Estela e a puxou para o chão, quando Valquíria a segura pelos cabelos, mas Olivia consegue se soltar e deferiu um tapa no rosto de Valquíria que cai no chão, As duas rolaram pela sala, em uma briga violenta e descontrolada.

Eu, ainda confuso e sem entender o que estava acontecendo, me joguei entre elas para separá-las. Ao me ver defendendo Valquíria, Olivia ficou perplexa e magoada.

Valquíria, aproveitando-se da situação, começou a chorar e a gritar, fazendo cena para tirar vantagem. Ela acusava Olivia de agredi-la sem motivo. Vou caminhando com elas até o sofá, peço Ritinha para pegar um copo de água.

- Por mim elas morrem de sede. Ritinha cruza os braços. Olho para Olivia e digo.

- Por que, fez isso com elas? Digo.

- Por que me ofenderam, cheguei no meu limite com essas psicopatas, mas se que defendê-las pode ficar à vontade.

- Não estou defendendo ninguém. Vou levá-las embora.

A cena era caótica e surreal. Todos os presentes estavam perplexos com o que estava acontecendo. Olivia, humilhada e ferida, se afastou de mim com os olhos cheios de lágrimas.

Victor chega com sua família para a festinha. Ele fica confuso com a presença daquelas pessoas. Felipe e Pedro também chegam logo atrás com sua respectiva família.

- Pode deixar, Fernando eu as levo para casa. Meu cunhado Clóvis se oferece.

Vou junto até a rua. Clóvis entra no carro do meu pai, antes delas entrarem.

- Eu conheço você, Estela. Nunca mais voltei aqui e ofenda qualquer pessoa dessa família. E outra coisa, não desejo ter mais nenhum contato com sua família. Isso serve para você também. Olho para Valquíria.Podem ir.

Quando estou chegando na porta, Olivia está saindo com Juliana no braços, Laura e Henrique atrás. Minha mãe tentando convencê-la. Ela passa por mim. Estou confuso. Quando ela se vira e diz. Vejo decepção no olhar da minha mãe. Vejo ela caminhar para dentro novamente.

- Se você não se permitir que seu coração se lembre da sua família, você vai continuar suprindo as suas lembranças ou será que deseja continuar preso no passado. Vou embora para casa.

- Olivia, por favor. Vamos continuar a festa das crianças.

- Eles são seus filhos, Fernando. Ainda que você não lembre.

Ela caminha em direção a residência. Entro todos estão em silêncio. Carol não aguenta e quebra o clima tenso.

- Você voltou a ser um idiota total. Sabia, Fernando Fontes?

- Assino embaixo. Defender aquelas mulheres, mesmo com amnésia daria para confundir que e do bem e quem e do mal, seu babaca. Vou me deitar, não consigo olhar para você. Carmen diz e some no corredor.

- Acho melhor irmos embora. Victor disse para todos na sala. Ele chama a esposa e filho. Pedro e Felipe o acompanham.

- Desculpa, por tudo pessoal. Meu pai se levanta e vai em direção ao quintal do fundos.

Fico sozinho na sala. Não consigo entender o porquê não me lembro.

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