Five; D

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Daisy


— Mãe? — minha voz está fraca, como um chiado. Pigarreio tentando recuperar a tonalidade natural. — Mãe? — chamo novamente.

Ela surge no corredor, e imediatamente penso em um carro sem freios. Recuo dois passos até bater com as costas na porta de casa.

— O que você estava fazendo com aquela garota? — ela sussurra próxima ao meu rosto.

O cheiro de álcool é forte em seu hálito.

— Eu... ela me trouxe para casa.

Enrugo o nariz e respiro pela boca. Ela está invadindo meu espaço pessoal. Estendo o braço para trás e seguro a maçaneta, para caso precise sair depressa.

Eu esperava sentir alguma coisa quando a visse. Ela foi o útero que me gerou e quem organizou minhas festas de aniversário nos últimos 19 anos. Eu esperava alguma atitude de carinho ou uma rajada de lembranças, alguma familiaridade. Mas nada. Estremeço, afastando-me da desconhecida à minha frente.

— Você matou aula! Estava com aquela garota! Pode se explicar?

Parece que um bar inteiro vomitou em cima dela.

— Não estou me sentindo... eu mesma. Então, pedi que ela me trouxesse para casa. — Recuo outro passo. — Por que está bêbada no meio do dia?

Ela arregala os olhos. Olhos azuis como os meus. Por um momento penso que ela realmente vai me bater. No último momento, ela cambaleia para trás encostando-se na parede e desliza por ela até se sentar no chão. Lágrimas enchem seus olhos.

OK. Eu não esperava por isso.

Consigo lidar com gritos, mas lágrimas me deixam nervosa. Ainda mais quando é de uma completa desconhecida e não sei o que dizer, ou o que fazer.

Passo lentamente ao seu lado, enquanto ela enterra o rosto nas mãos e começa a soluçar bastante. Não sei se isso é normal para ela. Hesito, parando bem no meio do corredor entre a entrada e a sala de estar. Por fim, deixo-a chorando e decido descobrir onde fica o meu quarto. Não posso ajudá-la, sequer a conheço.

Quero me esconder até desvendar alguma coisa. Tipo, quem eu sou, afinal.

A casa é menor do que eu imaginava. Logo depois de onde minha mãe está chorando no chão, há uma cozinha e uma pequena sala. Os dois cômodos são organizados, completamente cheio de móveis que não combinam muito com o local. Coisas caras em uma casa barata. Encontro três portas. A primeira está aberta, dou uma olhada lá dentro e encontro um coberta xadrez. Será que é o quarto dos meus pais? Sei apenas pela coberta que não é meu. Gosto de flores.

Abro a segunda porta: um banheiro. A terceira é outro quarto que fica do lado esquerdo do corredor. Entro. Duas camas. Solto um gemido frustrado. Tenho um irmão ou uma irmã.

Tranco a porta depois de entrar, e meus olhos analisam o espaço compartilhado ao meu redor. Tenho uma irmã, e pelas suas coisas, ela é pelo menos alguns anos mais nova do que eu. Encaro os pôsteres de banda que decoram seu lado do quarto. Meu lado é mais simples: uma cama de solteiro com um edredom roxo-escuro e um desenho emoldurado em um quadro. No mesmo instante sei que é um desenho de Ellie. Os traços são os mesmos dos desenhos na parede de seu quarto. Há uma pilha de livros na minha mesa de cabeceira. Estendo o braço para ler algum dos títulos quando meu celular apita.

Ellie: Você está bem?

Eu: Defina bem. Acho que minha mãe é alcoólatra, e tenho uma irmã.

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora