Fifteen; E

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Ellie

Começa lentamente.

A chuva.

Um respingo aqui, um borrifo ali. Primeiro no para-brisa à minha frente e depois nas janelas ao meu redor. As gotas começam a fazer o barulho de milhares de dedos tamborilando no teto do meu carro, mas não em uníssono.

Tap-tá-tap-tap-tá-tá-tap-tá-tap.

O barulho passa a me cercar completamente. Parece vir de dentro de mim, tentando sair.

A chuva começa a escorrer pelo vidro, grossa o bastante para formar rastros compridos parecidos com lágrimas. Elas deslizam até a base e desaparecem em algum local além do que vejo. Tento acionar os limpadores, mas meu carro está desligado.

Por que meu carro está desligado?

Limpo o vidro embaçado com a palma da mão para poder enxergar o lado de fora, mas a chuva está tão forte que não consigo ver nada.

Onde estou?

Me viro para olhar o banco de trás, mas não tem ninguém ali. Depois me volto para a frente.

Pense, pense, pense.

Para onde eu estava indo? Devo ter cochilado.

Não sei onde eu estou.

Eu... eu... eu...

Quem eu sou?

Parece tão natural ter pensamentos com a palavra eu. Mas todos os meus pensamentos são ocos e leves, porque a palavra "eu" não está associada a ninguém. A nenhum nome, a nenhum rosto.

Eu sou... nada.

O zumbido de um motor chama minha atenção enquanto um carro desacelera perto do meu na rua. A água respinga no para-brisa quando o veículo passa. Observo os faróis traseiros enquanto o carro continua diminuindo a velocidade e, por fim, para na frente do meu.

Meu coração acelera e vai para na boca, nas pontas dos meus dedos, nas têmporas. As luzes em cima do carro são acesas. Vermelho, azul, vermelho, azul. Vejo alguém sair do veículo. Tudo o que consigo distinguir é a silhueta da pessoa que começa a se aproximar do meu carro. Enquanto ela segue até a porta do carona, mal mexo o pescoço e mantenho o olhar fixo nela, que vem se aproximando da minha janela.

Uma batida.

Toc, toc, toc.

Aperto o botão para abaixar as janelas... Como é que eu sabia fazer isso?

Abro a janela.

Um policial.

Socorro, é o que eu quero dizer.

Esqueci para onde estava indo, quero dizer.

— Ellie?

Sua voz me assusta. É alta. Grita a palavra Ellie para tentar competir com o barulho da chuva.

O que isso significa? Ellie. Talvez ele seja francês. Talvez eu esteja na França e Ellie seja um cumprimento. Talvez eu devesse responder Ellie também.

O homem pigarreia e diz:

— Seu carro quebrou?

Ele não é francês.

Olho para o painel de controle. Forço meus lábios a se separarem para que formem alguma palavra. Em vez disso, arquejo. Eu não tinha percebido que estava prendendo a respiração. Quando solto o ar dos pulmões, sai um som entrecortado... constrangedor. Olho para o policial parado do lado de fora da janela.

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora