Sixteen; E

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Ellie

Assim que entro em casa, a primeira coisa que faço é parar.

Nada me parece familiar, sequer as fotos nas paredes. Fico aguardando alguns segundos, assimilando tudo. Eu poderia procurar pela casa ou dar uma olhada nas fotos, mas já devo ter feito isso. Tenho pouco tempo, e, se quero descobrir o que aconteceu com Daisy — o que aconteceu com a gente —, preciso continuar focada nas coisas com as quais ainda não perdemos tempo.

Encontro meu quarto e vou direto para o armário, para a prateleira onde estão todas as outras coisas que juntamos. Espalho tudo na cama, incluindo o que tem dentro da mochila. Enquanto remexo tudo, tento descobrir por onde devo começar. Tem coisa demais. Pego uma caneta para anotar algo que possa ser útil, caso eu esqueça tudo isso de novo.

Sei muita coisa recente sobre meu namoro com Daisy, mas só isso. Não sei quase nada sobre como nós duas começamos a nos relacionar ou como nossa família se afastou. Sequer faço ideia se isso influenciou o que aconteceu com a gente, mas sinto que é melhor começar pelo início.

Pego um bilhete endereçado a Daisy que parece ser mais antigo, algo que eu mesma escrevi. A data é de mais de cinco anos atrás, e é uma das muitas cartas que peguei no sótão dela. Talvez ler algo do meu ponto de vista me ajude a entender o tipo de pessoa que sou, mesmo a carta tendo mais de cinco anos.

Eu me sento na cama, encosto na cabeceira e começo a ler.

Daisy,

Você se lembra de alguma vez em que passamos as férias separadas? Eu estava pensando nisso hoje. Que nunca foi somente eu e minha família. Sempre foi seus pais, o meu pai, Sarah, Lily, você e eu.

Uma grande família feliz.

Também acho que nunca passamos nenhum feriado separadas. Natal, Páscoa, Dia de Ação de Graças. Sempre estivemos juntas, ou na minha casa ou na sua. Talvez seja por isso que nunca achei que tinha apenas uma irmã mais nova. Minha sensação sempre foi a de ter três irmãs. E não consigo me imaginar sentindo algo diferente disso, sem que você faça parte da minha familia.

Mas estou com medo de ter arruinado isso. E nem mesmo sei o que dizer, porque não quero me desculpar por ter beijado você ontem à noite. Sei que deveria me arrepender, eu nem sei se você gosta de garotas, e sei que deveria estar fazendo de tudo para compensar o fato de que devo ter estragado oficialmente nossa amizade, mas não me arrependo. Já faz muito tempo que eu queria cometer esse erro.

Estou tentando descobrir quando foi que meu sentimento por você mudou, mas esta noite percebi que não mudou. O que sinto por você, sendo minha melhor amiga não mudou nem um pouco... apenas evoluiu.

Sim, eu te amo, mas agora estou apaixonada por você. E, em vez de olhar para você como se fosse apenas minha melhor amiga, agora você é minha melhor amiga que eu quero beijar.

E, sim, eu amava você como uma irmã ama uma irmã. Mas agora amo você como uma garota ama uma garota.

Então, apesar daquele beijo, prometo que nada mudou entre nós duas. Apenas se tornou algo a mais. Algo bem melhor.

Ontem à noite, quando você estava deitada ao meu lado nessa cama, olhando para mim, sem fôlego de tanto gargalhar, não consegui me conter. Por tantas vezes você me deixou sem fôlego ou me fez sentir como se meu coração estivesse na boca. Mas nenhuma garota de 14 anos teria conseguido se segurar ontem à noite. Então segurei seu rosto e te beijei, algo que sonho em fazer há mais de um ano.

Ultimamente, quando estou perto de você, me sinto como se estivesse bêbada demais para falar. E nunca senti o gosto de bebida alcoólica, mas tenho certeza de que beijar você é igual a ficar bêbada. Se for esse o caso, já estou preocupada com minha sobriedade, porque posso muito bem ficar viciada em beijar você.

Não tenho notícias suas desde que você se livrou de mim e foi embora do meu quarto ontem à noite, então estou começando a ficar preocupada que você não se lembre do beijo da maneira como me lembro. Você não atendeu o celular. Não respondeu às minhas mensagens. Então estou escrevendo esta carta caso precise ser lembrada do que realmente sente por mim. Porque parece que esta tentando esquecer.

Por favor, não esqueça, Daisy.

Nunca deixe sua teimosia convencê-la de que nosso beijo foi errado. Nenhum amor deve ser errado.

Nunca se esqueça de como pareceu certo quando meus lábios finalmente tocaram os seus.

Nunca deixe de sentir necessidade de que eu a beije daquele jeito.

Nunca se esqueça de como você se aproximou... querendo sentir meu coração batendo dentro do peito.

Nunca me impeça de beijá-la no futuro, quando uma das suas gargalhadas me deixar com vontade de fazer parte de você novamente.

Nunca deixe de querer que eu a abrace como finalmente a abracei ontem à noite.

Nunca esqueça que fui seu primeiro beijo de verdade. Nunca esqueça que você vai ser meu último beijo. E nunca deixe de me amar entre todos os beijos que der.

Nunca deixe, Daisy.

Nunca esqueça.

Inerente.

— Ellie

Não sei por quanto tempo fico encarando a carta, mas é o suficiente para me deixar confusa em relação a como essa situação me faz sentir. Confusa em relação ao fato de que, por alguma razão, acredito em todas as palavras da carta, apesar de não conhecer a garota. E talvez eu até sinta um pouco das palavras. Minha pulsação acelera, pois na última hora fiz tudo o que podia para encontrá-la, e preciso muito saber se Daisy está bem.

Estou preocupada com ela.

Preciso encontrá-la.

Pego outra carta em busca de mais pistas, e nesse momento meu celular toca. Atendo sem olhar o identificador de chama-das. Não adianta ver o nome se não reconheço nenhuma das pessoas que me telefonaria.

— Alô?

— Oi garota. Você tem noção de que esta noite é um dos jogos mais importantes da sua carreira no futebol, não é? Por que não está no treino? — O tom de voz é lento e pausado.

Deve ser meu pai.

Afasto o celular da orelha e olho para o aparelho. Não faço ideia do que dizer. Preciso ler mais cartas para saber como Ellie normalmente responderia ao pai. Preciso descobrir mais sobre essas pessoas que parecem saber tudo sobre mim.

— Alô? — repito.

— Ellie, não sei o que está acontecendo com...

— Não estou escutando — digo mais alto. — Alô?

Antes que ele possa falar de novo, encerro a ligação e largo o celular na cama. Pego todas as cartas e os diários que cabem na mochila. Eu me apresso para sair, pois nem deveria estar aqui. Pode aparecer alguém com quem ainda não estou pronta para interagir.

Alguém como meu pai.

*

Oi amores, um pequeno capítulo, só porque achei interessante colocar algumas coisinhas do passado delas. Terá mais!

Espero que tenham gostado <3

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora