Eleven; D

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Daisy

Estou parada na beirada da grama, olhando para a rua quando ela se aproxima atrás de mim. Não a escuto chegar, mas sinto seu cheiro. E não me pergunte como, pois ela tem cheiro de mato.

— O que está olhando? — pergunta Ellie.

Fico encarando as casas, cada uma delas imaculada e tão bem cuidada ao ponto de ser irritante. Se tivesse uma arma, daria um tiro para cima, só para ver todas as pessoas silenciosas lá dentro saírem atrapalhadas.

Essa vizinhança precisa de um pouquinho de animação.

— É estranho como o dinheiro parece silenciar uma vizinhança — digo baixinho. — Na minha rua, onde ninguém tem dinheiro, é tanto barulho. Sirenes soando, pessoas gritando, portas de carro batendo, aparelhos de som retumbando. Sempre tem alguém fazendo barulho em algum lugar. — Eu me viro e olho para ela, sem esperar a reação que tenho ao me deparar com seu cabelo ruivo molhado e penteado para trás, me dando total visão de seu rosto. Foco nos olhos verdes, mas não ajuda muito. Pigarreio e desvio o olhar. — Acho que prefiro barulho.

Ela dá um passo à frente e ficamos com os ombros próximos, encarando a rua taciturna.

— Não, não prefere. Você não prefere nenhum dos dois. — diz ela, como se realmente me conhecesse, e quero lembrá-la de que não me conhece nem um pouco, mas ela põe a mão na minha entrelaçando nossos dedos. — Vamos dar o fora daqui — sugere. — Vamos fazer alguma coisa que não pertença a Daisy e Ellie. Alguma coisa nossa.

— Está falando como se a gente fosse invasoras de corpos.

Ellie fecha os olhos e inclina a cabeça para trás, mordendo o lábio inferior.

— Você não faz ideia de quantas vezes por dia eu penso em invadir o seu corpo.

Abro a boca em um perfeito "O", antes de cair na gargalhada.

Não queria rir tanto quanto rio, mas tropeço nos meus próprios pés e Ellie me segura. Nós duas estamos rindo enquanto ela me ajuda a levantar e esfrega as mãos pelos meus braços.

Desvio o olhar. Cansei de gostar dela. Só tenho um dia e meio de lembranças, mas em todas eu gosto de Ellie. E agora a missão pessoal dela é me fazer amá-la novamente. É irritante que eu goste disso.

— Afaste-se — digo, desvencilhando nossas mãos.

Ela ergue as mãos em rendição e recua um passo.

— Está bom assim?

— Mais.

Outro passo pra trás.

— Melhorou?

— Sim — confirmo, tentando esconder o pequeno sorriso que se forma em meu rosto.

Ellie sorri.

— Não me conheço muito bem, mas dá para perceber que sou muito boa no jogo da conquista.

Reviro os olhos.

— Até parece — digo — Você está mais para jogo da paciência. Enche tanto o saco que todo mundo acaba traindo, só pra acabar logo com tudo.

Ela fica em silêncio por um minuto. Instantaneamente me sinto mal por ter dito algo tão constrangedor, mesmo que tenha sido a tentativa de uma piada.

— Você deve ter razão. — Ela ri. — É por isso que me traiu com aquela imbecil da Abby. Sorte sua que não gosto mais do jogo da paciência. Agora estou viciada em Tetris. Todas as minhas peças vão se encaixar nas suas.

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora