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Ellie


A porta da minha casa se abre enquanto desligo o carro, e Audrey sai, esfregando as mãos nervosamente. Saio do carro e me aproximo dela, que está de olhos arregalados.

— Ellie — diz ela, com a voz trêmula. — Achei que ele soubesse. Eu nem comentaria que Daisy esteve aqui, mas você não parecia estar escondendo isso, então achei que as coisas tinham mudado e que ela podia vir pra cá...

Estendo a mão para impedi-la de continuar se desculpando sem necessidade.

— Está tudo bem, Audrey. De verdade.

Ela suspira e passa a mão no avental que ainda está usando. Não entendo seu nervosismo, ou por que pensou que eu ficaria zangada com ela. Sorrio mais do que o necessário para tranquilizá-la, pelo visto, ela está precisando disso.

Eu era tão má assim com Audrey?, penso.

Ela assente e me segue para dentro. Paro na entrada, sem ter familiaridade suficiente com a casa para saber onde meu pai estaria nesse momento. Audrey passa por mim, murmurando "boa noite", e sobe a escada. Ela deve morar aqui.

— Ellie.

A voz é grossa e firme, um tanto desgastada. Eu me viro e fico frente a frente com o homem de quase todas as fotos que estão nas paredes. Mas nesse momento ele não está sorrindo como nas fotos.

Ele me olha dos pés à cabeça, como se estivesse desapontado.

Ele se vira e passa por uma porta logo na entrada. Seu silêncio e a determinação dos seus passos exigem que eu o siga, então é o que faço.

Entramos no seu escritório, ele lentamente dá a volta na mesa e se senta. Inclina-se para a frente e depois cruza os dedos sobre a mesa.

— Quer se explicar?

Eu me sinto tentada a fazer isso. De verdade. Quero contar que nem imagino quem ele é, nem por que está bravo, que sequer faço ideia de quem eu sou.

Provavelmente eu deveria me sentir nervosa ou intimidada por ele. Tenho certeza de que é assim que a Ellie de ontem teria ficado, mas é difícil de ser intimidada por alguém que desconheço completamente. Até onde sei, ele não tem nenhum poder sobre mim, e poder é o principal ingrediente da intimidação.

— Quero explicar o quê? — pergunto.

Olho para uma prateleira de livros na parede atrás dele. Parecem ser clássicos. Colecionáveis. Será que ele leu algum desses livros? Até que meus olhos param em um livro com o título "Os gigantes do passado", e isso por algum motivo me traz uma familiaridade.

— Ellie! — A voz dele é tão grave e cortante que parece que a ponta de uma faca perfurou meus ouvidos. Coloco a mão na lateral do pescoço e aperto antes de olhar para ele mais uma vez. Ele fita a cadeira do outro lado da mesa, ordenando silenciosamente que eu me sente.

Tenho a impressão de que a Ellie de ontem diria "sim, senhor" neste exato instante.

A Ellie de hoje sorri e anda devagar até a cadeira.

— Por que ela entrou nessa casa hoje?

Ele está se referindo a Daisy como se ela fosse um veneno. Está se referindo a ela da mesma maneira que a mãe dela se referiu a mim. Olho para o braço da cadeira e fico remexendo um pedaço do couro desgastado.

— Ela não estava se sentindo muito bem na faculdade. Precisava de uma carona pra casa, e nós fizemos um rápido desvio.

O homem... meu pai... se encosta na cadeira. Ele leva a mão até a gravata a afrouxando.

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora