Four; E

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Ellie


Tiro o edredom da frente para olhar melhor a bagunça no pé da cama. Há manchas de lama endurecida nos lençóis. Estão secas. Pedaços racham e se desfazem quando estico o lençol.

— Isso é... — Daisy para de falar e puxa o canto do lençol de cima da minha mão, jogando-o longe para ver melhor o lençol com elástico de baixo. — Isso é sangue?

Sigo com os olhos até o mesmo ponto em que os seus estão fixos, perto da cabeceira da cama. Ao lado do travesseiro há uma mancha de uma palma ensanguentada. Olho imediatamente para as minhas mãos.

Nada. Não tem qualquer sinal de sangue ou lama.

Eu me ajoelho ao lado da cama e ponho a mão direita sobre a marca no colchão. Encaixa perfeitamente. Ou talvez isso não seja nada perfeito, depende da interpretação. Olho de relance para Daisy, e ela desvia  a vista da minha, quase como se não quisesse saber se a marca da mão é minha mesmo ou não.

O fato de ser minha só traz mais perguntas. Já acumulamos tantas perguntas a essa altura que parece que tudo irá desmoronar e nos afundar com tudo, menos respostas.

— Deve ser meu próprio sangue — digo a ela. Ou talvez tenha dito a mim mesma. Tento fazer pouco-caso de quaisquer que sejam os pensamentos que devem estar passando pela cabeça dela. — Posso ter caído lá fora ontem à noite.

Parece que estou inventando desculpas para alguém que não sou eu. Parece que estou inventando desculpas para alguma amiga. Essa tal de Ellie. Alguém que com certeza não sou eu.

— Onde você estava ontem à noite?

Não é uma pergunta de verdade, só algo que nós duas estamos pensando. Puxo o lençol de cima e o edredom, e os espalho pela cama para cobrir a bagunça. A prova. As pistas. O que quer que sejam, quero cobri-las.

— O que isso significa? — pergunta ela, virando-se para mim.

Ela está segurando um papel. Eu me aproximo dela e tiro das suas mãos. Parece ter sido dobrado e desdobrado tantas vezes que um pequeno buraco de desgaste se formou bem no meio. A frase na folha diz: Nunca pare. Nunca esqueça.

Deixo o papel na mesa rapidamente, o querendo tirar das minhas mãos. O papel também parece uma prova. Não quero tocar nele.

— Não sei o que significa.

Preciso de água. É a única coisa que me lembro o gosto.

Talvez porque não tenha gosto.

— Foi você que escreveu? — pergunta ela.

— Como vou saber?!

Não gosto do tom da minha voz. Pareço irritada. Não quero que pense que estou irritada com ela.

Ela se vira e rapidamente alcança sua mochila. Vasculha ali dentro e pega uma caneta, depois volta até onde estou e a coloca na minha mão.

— Copie a frase — disse séria.

Ela é mandona.

Olho para a caneta, rolando-a entre os dedos. Passo o dedão nas palavras em relevo na lateral do papel.

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— Veja se sua letra é igual a essa.

Ela vira o papel para o lado branco e o empurra na minha direção. Encontro seu olhar, me perdendo um pouco nele. Mas depois fico irritada.

INERENTE; ellie williamsOnde histórias criam vida. Descubra agora