JÉSSICA
Naquele instante, sentindo-me sobrecarregada pela intensidade dos acontecimentos, respirei fundo e me afastei da aglomeração. Encontrei um canto tranquilo e me permiti abaixar, deixando as lágrimas finalmente escaparem.
— Eu só queria estar na minha casa, eu só queria estar longe de tudo isso! — Desejei em meio aos soluços, permitindo-me expressar a exaustão e o desespero que se acumulavam dentro de mim. A sensação de querer fugir para um refúgio seguro, onde pudesse encontrar paz e conforto, era avassaladora naquele momento de vulnerabilidade.
De repente, as luzes vermelhas das sirenes das viaturas dominaram o ambiente. A princípio, pensei que talvez fosse uma alucinação, que estivesse sonhando, mas ao abrir os olhos, percebi que minhas mãos e minhas roupas estavam cobertas de sangue. A realidade sombria daquela loucura finalmente se impôs, e eu soube que tudo aquilo realmente tinha acontecido. Ainda atordoada, levantei-me e me dirigi até o carro do homem que havia acabado de salvar. O delegado de plantão se aproximou e me conduziu até a delegacia para prestar depoimento. Ao chegar, expliquei detalhadamente tudo o que havia acontecido, inclusive compartilhando sobre o encontro anterior que tive com a vítima naquela mesma noite. Após ser escutada, fui liberada, e o rapaz que se apresentara como amigo da vítima gentilmente me acompanhou até minha casa. Ao chegar em meu apartamento, me livrei das roupas ensanguentadas, girei o registro do chuveiro e deixei a água gelada me banhar.
Naquele momento, eu estava tão anestesiada que mal sentia a água em contato com meu corpo. Meu único pensamento era: "Como tudo isso pôde acontecer?" Envolta na toalha, fui até o quarto para pegar o amuleto da sorte que havia ganhado e me dirigi até a varanda, ansiosa para me livrar de toda a tensão que havia se acumulado dentro de mim. O silêncio da noite e a brisa suave me acolheram, oferecendo um breve momento de calma e tranquilidade em meio ao caos que acabara de enfrentar. Agarrada ao amuleto, em um estalo silencioso, meu olhar se fixou na vista panorâmica deslumbrante da cidade à minha frente. Meus olhos se arregalaram e a mandíbula caiu lentamente enquanto eu tentava processar tudo o que havia passado naquela noite. Meu coração batia forte e minhas pupilas dilataram, absorvendo a magnitude dos eventos que acabara de vivenciar. Diante de mim, o horizonte se estendia em uma vastidão infinita, as luzes da cidade cintilando como estrelas em um firmamento urbano.
Meus cabelos pareciam eriçados pelo vento súbito que soprava pela varanda, e o som da ventania zunindo em meus ouvidos era a única coisa que quebrava o silêncio que me envolvia. Naquele momento de introspecção e contemplação, eu me sentia pequena diante da grandiosidade da cidade, mas também forte e resiliente diante dos desafios que havia enfrentado. Enquanto o mundo lá fora continuava a girar, eu permanecia ali, firme e determinada, pronta para enfrentar o que quer que viesse pela frente. Segurei o amuleto próximo ao peito, sentindo sua presença reconfortante enquanto me esforçava para encontrar uma posição confortável. Foi então que notei um pequeno pedaço de papel no interior dele. Curiosa, puxei o papel e me esforcei para ler o que estava escrito: "Irei realizar apenas um desejo seu."
"Que absurdo, isso é ridículo!" Ponderava, desacreditada, enquanto deixava escapar um suspiro profundo e jogava o amuleto em um canto qualquer. Mas, aos poucos, um pensamento persistente começou a se formar em minha mente: "E se... bem, não custa tentar!" Decidida a experimentar, levantei-me para pegar o amuleto novamente. Segurei a peça entre os dedos e proferi em voz alta: — Quero ser rica! Não, eu quero ser milionária, esse é o meu desejo. Após pronunciar minhas palavras, olhei ao meu redor, esperando algum sinal de mudança. No entanto, tudo permanecia igual. Com uma mistura de frustração e incredulidade, acabei pegando no sono naquela varanda. Fui despertada horas depois, revivendo todo o trauma daquela fatídica noite.
O homem ferido, as vozes ecoando na minha mente, cada detalhe se repetindo como um filme macabro. Noites turbulentas tornaram-se uma constante rotina, deixando-me exaurida e emocionalmente abalada. O peso da culpa e da preocupação com o destino daquele homem não me deixava em paz. Com o passar dos dias, a sombra daquela noite assombrou minha vida, interferindo até mesmo no meu trabalho. O impacto emocional era avassalador, obrigando-me a afastar temporariamente das minhas responsabilidades para lidar com as consequências do que parecia ser um simples capricho. Enquanto descansava na acolhedora casa da minha tia, eu acompanhava diariamente as notícias sobre o caso, ansiosa por qualquer atualização que pudesse oferecer alguma esperança. Até então, tudo o que havia sido noticiado era sombrio:
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Entre folhas e suspiros
RomanceEm "Entre Folhas e Suspiros", acompanhe a cativante jornada de Jéssica Torres, uma mulher determinada a superar os desafios do trabalho e do amor. Em meio a decepções românticas e dificuldades financeiras, ela guarda o sonho de encontrar um verdadei...