As Novas Românticas ⚢

35 | Em retrospectiva

You'll see me in hindsight
Tangled up with you all night
Burning it down

Você me verá em retrospectiva
Enroscada com você a noite toda
Ateando fogo nisso

Wildest Dreams

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No vestiário, prestes a entrar em campo contra a Espanha, Emily e eu trocamos um olhar significativo.

Só nós sabemos exatamente o que vamos enfrentar. Para as outras, a Espanha é a atual campeã mundial, e isso já é pressão o suficiente. Para nós, no entanto, são muitas das nossas amigas do outro lado. E vencer amigas é muito mais gostoso do que vencer campeãs do mundo.

— Pronta? — Emily pergunta, comprimindo os lábios em um sorriso nervoso.

Eu relaxo contra o encosto do banco, suspirando.

— Pronta para tudo.

Dois dias atrás, eu não estaria tão confiante. Agora, no entanto, um desafio como esse é exatamente o que eu preciso. Terapia é bom, estou gostando das conversas com o psicólogo, mas nada se compara ao futebol. Desde pequena, ele é a força que me move, me derruba e me abraça.

Hoje estou pronta para entregar tudo para o campo, sem deixar nada para trás.

Pela duração do jogo, não existe uma conversa pendente com Connie — e seu final inevitável. Não preciso me preocupar com o passado ou com o futuro, só com o placar.

Ainda não consegui um tempo sozinha com Emily para conversarmos sobre o que aconteceu no jantar. Quero saber o que ela e Andressa discutiram quando estavam sozinhas e por que a minha irmã voltou tão contrariada para a mesa. Posso até ter começado a não pensar nela com tanta mágoa depois dos nossos desabafos, mas sempre ficarei empolgada em saber de algo que deixa a minha irmã com raiva.

Além disso, a necessidade de desabafar sobre o que Connie fez é tão forte que se manifesta como um nó constante na garganta. Nem consegui dormir direito.

Mas, fora isso, não foi tão difícil assim adiar essa conversa. Com os treinos, a rotina na academia e a entrevista que demos para a TV aberta, não faltaram compromissos para me distrair.

E um jogo contra a Espanha é o compromisso perfeito.

Assim que nos levantamos, eu aliso a camisa verde e amarela. Uma pressão comprime o meu peito, meus olhos se enchem de água e eu os fecho, soltando o ar pela boca. Emily para ao meu lado, familiar pelo cheiro do seu shampoo e pelo toque reconfortante da sua mão no meu ombro. Mesmo de olhos fechados, sempre vou reconhecer a minha melhor amiga.

— Aguenta firme — ela sussurra, talvez interpretando que estou emocionada pelas razões erradas.

Mas não estou triste. Ou, bem, não é a tristeza que me domina agora.

Estou orgulhosa.

A garotinha magricela de joelhos ralados que se sentia apagada perto da irmã e ignorada pelos pais, que saiu cedo de casa para correr atrás de um sonho mesmo sem grandes perspectivas... bom, ela realizou tudo. Vestir esta camisa sempre vai ser motivo de orgulho.

Eu volto a andar, e a cada passo me sinto mais forte. Assim que pisamos no gramado, há uma pequena comoção nas arquibancadas, mas nada demais comparado com a torcida do Barcelona. Mesmo assim, eu sorrio e deixo a energia das pessoas e, principalmente, do estádio em si, me encher de propósito.