Dezoito

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Finney não olhou para seu pai ao abrir a porta de casa, muito menos para Gwen. Os dois almoçavam na mesa de madeira da sala, mas Finney simplesmente passou correndo até seu quarto.

— Não, não, não... - Finney murmurava, fechando a porta e jogando a bolsa sobre a cama, indo até ela em seguida. — Tem que ser mentira.

Ele puxou o zíper lentamente, sabendo o que estava ali dentro, o que lhe aguardava para ser lido. De lá, Finney achou e tirou um papel amassado, desdobrando-o e encontrando as palavras que havia lido mais cedo.

"Ei, bichinha. Presumo que você saiba o que é isso aqui;

Fique à vontade para vir buscar o resto."

Finney tinha ido até seu armário, como sempre, depois da aula, para trocar os cadernos que levaria para casa e os que deixaria na escola. No entanto, ele encontrou um papel amassado e uma caneta que não era sua.

Seu corpo tremeu ao desdobrar o papel e perceber que era uma cartinha de ameaça, exatamente como as que recebia antigamente. Finney ficou assustado e temeu a possibilidade de que sua vida voltaria a ser infernizada.

Não havia nada que ele pudesse fazer senão ignorar e jogar a bola fora. Finney só precisava pensar no que faria com a caneta que havia recebido. Ela era rosa e repleta de estrelas em seu corpo, Finney até pensou que era em referência ao "bichinha", já que diziam que garotos que gostavam de rosa eram homossexuais.

Talvez seu corpo tivesse tremido como uma previsão de que aquilo que havia recebido era muito pior do que imaginava.

— Eu não acredito, não, não... - Finney sentiu uma vontade imensa de queimar aquele maldito papel. Ele não conseguia acreditar que tinham ido tão baixo ao ponto de furtar algo muito importante para Griffin apenas para atraí-lo.

Quando os meninos chegaram dizendo que tinham furtado as canetas coloridas de Griffin, Finney apenas perguntou se a caneta rosa choque era uma delas por garantia. Ele não esperava que fosse realmente a caneta de seu amigo.

Finney estralou as costas e suspirou com a lembrança; deveria ter imaginado que Vance avançaria sem pensar duas vezes se alguém parecesse suspeito em sua visão.

Eram só canetas na teoria. Mas, na prática, Griffin estava desolado, chorava mais do que Finney chorou no banheiro naquela manhã, parecia que ia desmoronar a qualquer momento.

Altruísmo não era algo com que Finney se identificava, porém os pensamentos de que deveria se entregar para recuperar simples canetas discordavam disso.

Ridículo, Finney deveria contar aos garotos a verdade e-

Não. Era sua culpa. Ele começou a andar com aquele grupo, ficou três semanas o usando como proteção, e a consequência, agora, havia chegado. Finney não tinha direito de recuar, de fingir que não era culpado.

Seu único direito era aceitar que três semanas seria o máximo de paz que conseguiria. As tremidas, o choro, o medo, a dor e o sufoco que havia sentido naquela manhã eram apenas a prova disso.

Finney suspirou mais uma vez e releu o papel. Sua situação ficou pior ao perceber que a carta não dizia nada: nenhum endereço, ponto de encontro ou lugar na escola.

Independentemente de onde fosse, Finney não queria encontrá-los, principalmente sozinho. Era assustador só de imaginar.

Mas se não o fizesse, como ficariam as canetas de Griffin? Merda, merda, merda. Finney sempre fugiu, deveria haver uma forma de fugir disso tudo também.

Em que mundo ele aceitaria apanhar por conta de canetas coloridas? Amizade era uma droga. Importar-se com pessoas era uma droga.

Finney Blake se sentia uma droga, mas, mesmo assim, cogitava a ideia de enfrentá-los para conseguir canetas de volta.

Príncipe Charmoso - REESCRITAOnde histórias criam vida. Descubra agora