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Chan estava buzinando em frente a casa de Minho há, pelo menos, dez minutos. Ele havia ligado antes de dirigir até ali para avisá-lo que estava à caminho — eram menos de cinco minutos entre uma moradia e outra, se localizava na mesma reserva. No entanto, Minho não deu quaisquer sinais de vida.

Sinceramente, estava preocupado com ele. Minho nunca foi uma pessoa de contato assíduo, mas não era como se ele ignorasse todas as mensagens de Chan por dias seguidos sem ao menos apresentar uma boa justificativa. Eram amigos desde criança e se conheciam profundamente, tal qual um historiador entende de história. A única informação que Chan recebeu foi que Haru havia sido entregue para o serviço social para que encontrassem um novo lar para ele.

Chan ligou para Felix para consultar sua opinião — já que agora considerava que os dois pensavam como um só, embora Felix tivesse mais força em qualquer embate e hierarquicamente sua opinião fosse superior mediante a do outro — e ouviu dele que, porventura, não faria mal arrombar a porta da casa de Minho apenas para verificar se ele estava vivo.

Quando se cansou de esperar, acatou o conselho de seu namorado e bufou, subindo lance por lance da escada até a porta, não encontrando necessidade de derrubá-la à força porque tinha uma chave reserva consigo. Assim que abriu, foi onde geralmente Minho passava mais tempo e o viu sentado em sua cadeira confortável, no escritório que, fugindo da regra, estava tão desorganizado que Chan se perguntou se a casa tinha sido invadida.

Minho usava pijamas, ele não tomou banho e sequer lavou o rosto. Ele estava cabisbaixo e parecia ter chorado a noite inteira. Havia algo de muito errado com ele, uma nuvem cinza sobrevoando o alto de sua cabeça e uma atmosfera deprimente o cercando. Chan se lembrava de poucas vezes ter visto Minho cair ou demonstrar o seu lado mais vulnerável. No geral, ele era irredutível e muito convicto de si mesmo.

Mas, naquele dia, ele se assemelhava mais a um cadáver. Ele parecia exatamente uma obra de artes tal qual "Noite Estrelada Sobre o Ródano", de Vincent Van Gogh. Era uma representação da natureza-mortal, com flores e cenário noturno reluzente, mas turbulento e caótico. As águas azuis eram cintilantes, o céu era iluminado pela constelação Ursa Maior e em primeiro plano, dois amantes passeiam nas margens do Rio Ródano, sobre a areia. Inicialmente inofensivo, se não for observada a profundidade impressa no uso de pinceladas enérgicas para a formação dos reflexos que enchem os olhos. Tudo era azul.

Azul. Azul. Azul.

Transitava entre a calmaria — como se tudo estivesse certo e em seu devido lugar — e a desordem, uma turbulência interna. Era terrivelmente fascinante o contraste que, contraditoriamente, transpassa a calma que não partia do autor dentro de um colapso nervoso e um confronto emocional apresentava divergência em suas cores bronzeadas e majoritariamente azuladas.

Confronto emocional.

Minho sempre foi muito rigoroso dentro de sua regra de moralidade, dentro do que era certo e errado, dentro do que foi estipulado em convenção que era o correto e o que não era.

A violência de sua psique perturbada era totalmente expressa. Era como se ele tivesse duas naturezas e estas estivessem colidindo.

Ainda que suas noites fossem mais ricamente coloridas do que o dia, suas estrelas estavam sendo devoradas até que restasse a escuridão sem desprezar os modelos e a realidade dos fenômenos. Não era belo, nem alegre, era triste.

— Estou agora pegando seus artigos de pesca e colocando no porta-malas do meu carro — Chan notificou, mantendo-se alheio ao desânimo de seu amigo ou senão, os dois não sairiam do lugar.

— Jisung está grávido.

Chan iria sair, ele estava no processo de dar uma meia-volta e marchar até a garagem onde ficavam guardados itens e artigos de pescaria que Minho colecionava, congelando no instante em que aquelas palavras começaram a serem processadas em seu cérebro.

VERÃO AUSTRALIANO | CHANLIXOnde histórias criam vida. Descubra agora