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(Luan)

Acordei cedo e fui caminhar pra tentar manter a cabeça no lugar. Mal comecei e senti a tontura me atingir, infelizmente minha ansiedade tá super atacada por conta da situação.

Voltei pra casa o mais rápido que consegui e tomei um remédio antes que a boiadera acordasse e se preocupasse comigo.

Preparei um café da manhã reforçado pra ela, já que ela passou mal esses dias todos e coloquei na bandeja pra levar pro quarto.

Subi as escadas e com toda delicadeza do mundo abri a porta, mas pra minha surpresa Ana não tava lá.

-Amor? - pergunto deixando a bandeja na bancada.

-Tô usando o banheiro só... - ela responde meio desesperada e aperta a descarga logo em seguida.

-Eu trouxe café pra você...

-Sério? Obrigado amor! - ela me abraça e me dá um selinho.

-Por nada! Fiz tudo do jeitinho que cê gosta... - sorrio - Ah, e tenho um presente!

-Eba! Deixa eu ver!

-Aqui... - entrego a caixinha.

Ela abre e vê a primeira botinha/texana do nosso boiadeirinho, bordada com a inicial dele. Mas ao contrário do que eu pensei, ela apenas abriu um sorriso fraco.

-Que lindo! - a boaideira responde meio sem emoção.

-O que foi? Tu não gostou? Se quiser posso trocar!

-Eu amei meu bem! Eu só ainda tô meio enjoadinha, passando mal, com cólica... Pega o remédio de dor pra mim por favor?

-Claro! - desço até a cozinha pra pegar.

-LUAN! LUAN! LUAN! - ouço Ana gritar do quarto e corro pra lá.

-O que foi amor? - pergunto desesperado e entro no banheiro.

Só vi ela chorando sem parar e assim que olhei pro chão entendi tudo. Uma quantidade não tão pequena de sangue tava descendo das pernas dela até o piso.

Sinto vontade de chorar ou gritar, mas me controlo pra transparecer calma e acalmar ela.

-Eu... Eu... Eu tô sangrando... - minha namorada falou meio sem ar.

-Se acalma! Respira! - seguro nas mãos dela e olho no fundo dos olhos - É só um sangramento normal! Não é nada demais!

-E se eu... - interrompo ela.

-Não aconteceu nada! Tá tudo bem! A gente só precisa ir na doutora pra você se acalmar!

-Eu não consigo me limpar sozinha... - ela chora com mais intensidade olhando pro chão.

-Não tem problema! Eu te ajudo! Vamos tomar um banho!

Com todo cuidado do mundo, tiro a roupa dela, e coloco ela embaixo do chuveiro. Entro de roupa mesmo, porque essa é a menor das preocupações no momento.

Deixo a água bem quente caindo nas costas dela, e aos poucos sinto o corpo da Ana relaxar, ficando mole.

Dou banho nela, seco, visto a roupa, e aí volto pro banheiro pra limpar o chão enquanto ela separa os documentos.

Aproveito esse momento sozinho e me permito tirar um pouco da pressão em cima de mim. Chorei um tanto, tentando me acalmar pra não demonstrar nervoso pra ela.

Depois de limpar, trocar de roupa e pegar a chave do carro, finalmente fomos pro hospital.

Chegando lá, prontamente já passaram a boiadeira na frente das outras gestantes e aí eu percebi que é sério mesmo.

-Ana Flávia Castela? - a doutora chama nos olhando.

-Eu! - ela responde quase sem voz.

-Podem me acompanhar por favor! - seguimos em direção a sala - Bom, pelo o que me foi passado, cê teve um sangramento médio hoje né?

-Na verdade, não só hoje... Eu já tenho sangrado há uns 2 dias, mas eram só gotinhas, hoje que caiu uma quantidade maior... - minha namorada fala encarando o chão.

Olho pra ela tentando entender o porquê dela não ter contado nada disso pra mim. Será que ela não confia em mim o suficiente?

-Entendi... E além disso, mais alguma coisa atípica?

-Sim... Eu tenho sentido cólicas também, iguais as menstruais, só que um pouco mais fortes...

-Ok... Tem algum problema de saúde?

-Só uma anemia emocional, que progrediu pra uma anemia gestacional...

-Tá... Eu preciso te examinar agora, pode tirar a parte de baixo e deitar naquela maca por favor!

Ajudo ela a tirar a roupa e pego no colo pra deitar na maca. A médica começa a examinar e eu só via cada vez mais sangue escorrer, mas continuei segurando a mão da boiadera passando segurança.

-Pode se limpar e vestir a roupa.

-Eu tô com medo... - Ana fala baixinho me olhando.

-Vai dar tudo certo... - beijo a testa dela.

-Então... A notícia não é das melhores... - a mulher olhou pra nós dois séria - A sua anemia gestacional se intensificou nesses últimos dias, elevando a falta de ferro no sangue...

-E? - pergunto com medo da resposta.

-Infelizmente ocorreu um aborto espontâneo...

Vi meu mundo acabar ali mesmo. Meu peito doeu, a falta de ar veio e parecia que tava tudo girando mesmo eu estando parado.

-NÃO! NÃO! O MEU MENINO NÃO! - minha namorada gritou chorando.

-Eu sinto muito...

-O MEU FILHO NÃO! FALA QUE É MENTIRA! POR FAVOR! O MEU LUANZINHO NÃO!

-Vou deixar vocês sozinhos... - a doutora saiu da sala.

-NÃO! O MEU FILHO! O MEU MENINO! NÃO! O MEU NENÉM! - vejo ela gritar de novo.

E eu não consegui fazer nada. Absolutamente nada. Eu só conseguia ficar parado, com as lágrimas nos olhos e a garganta seca.

-O nosso filho... - sussurro baixinho e abaixo o rosto pra não ter que olhar pra ela.

-O MEU LUAN! EU NÃO POSSO PERDER ELE! NÃO! É O MEU FI...

Ana não terminou a frase e assim que levantei o olhar vi ela desmaiada na cadeira. Prontamente chamei os médicos e eles vieram socorrer.

Levaram a boiadeira pra tentar acordar ela e eu fiquei no corredor, sem conseguir fazer nada.

Eu tô me sentindo impotente, inútil, sem forças, porque sei que no fundo, a culpa é toda minha!

Se eu tivesse contado a verdade pra ela, ela não teria se preocupado, não teria se alimentado mal, não teria piorado a anemia e a gente não tinha...

Minha ficha cai nesse exato momento e aí eu me permito soltar tudo que tava guardado dentro de mim.

-O meu filho! Eu perdi o meu filho! Por culpa minha! Eu deixei o meu filho morrer! - dou um soco na parede.

-Eu sou um idiota! Eu deixei o meu filho ir embora! Eu fiz ele ir embora! Eu perdi ele! - dou outro soco na parede e sinto minha respiração falhar.

Sento no chão do hospital já que não tava sentindo minhas pernas. E a falta de ar se torna cada vez maior, então tento aliviar a pressão mordendo minha mão.

Mordo o dorso, os dedos, com força, até sentir o sangue escorrer por conta dos machucados. Minha cabeça continua girando...

-Ei! Cê tá bem? Oi! - vejo um médico na minha frente mas não consigo responder, então, tudo fica preto...

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Eu chorei... O nosso mini Luan partiu gente...🥺🥺

Amizade ou O Quê?Onde histórias criam vida. Descubra agora