(Luan)

Acordo ainda com a cabeça meio girando e olho em volta. Tô deitado numa cama de hospital, com soro na veia e com minha mãe do lado.

-Neném da mãe! Graças a Deus você tá bem meu filho! - ela me abraça e me dá um beijo na testa.

-Cadê a Ana? - pergunto me lembrando de tudo que aconteceu.

-Ela tá bem, tá no quarto ao lado...

-O que aconteceu pra ela passar mal?

-A mesma coisa que ocê, crise de ansiedade! A pressão de vocês baixou e os dois desmaiaram...

-Mãe... Já te contaram que?... - olho nos olhos dela e ela acena com a cabeça.

-Os médicos me contaram... Eu sinto muito filho... Eu sei o quanto cê queria esse filho...

-Eu perdi o amorzinho da minha vida mamãe, e foi por culpa minha! - falo já chorando de novo.

-Não meu amor! Não foi culpa sua! Não foi culpa da Ana também! São só os planos de Deus que são diferentes dos nossos... - ela sentou do meu lado e eu deitei no colo dela.

-Mas por que mamãe? Por quê? Eu queria tanto o meu neném!

-Ah meu filho, dói tanto te ver assim... Mas infelizmente, ele já virou um anjinho...

-Eu não quero ele no céu mãe, eu quero ele aqui comigo... - fecho os olhos sentindo meu peito apertar de dor.

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(Ana)

Acordo sentindo meu corpo todo doer e prontamente procuro o Luan pelo quarto do hospital, mas encontro apenas minha mãe.

-Mãe... - chamo ela baixinho já que ela tava distraída com o celular.

-Oi minha filha! Como tu tá?

-Nada bem... Me fala que foi só um pesadelo, por favor! Por favor! Por favor! - peço quase gritando.

-Princesa... - ela faz carinho no meu cabelo - Se acalma, respira...

-Eu quero o meu filho mãe... - passo a mão na barriga sabendo que agora não tem mais nada lá.

-Você vai ter ele de volta meu amor, logo logo! - ganho um beijo na bochecha.

-Como eu vou ter ele de volta sendo que eu perdi ele?! - sinto o choro me invadir - Eu vi o sangue dele escorrer pelas minhas pernas mãe! Eu acompanhei cada segundo da partida dele!

-Meu amor! Cê perdeu ele só fisicamente! Agora ele tá no céu cuidando de ti!

-Eu quero o meu Luan de volta mãe! Eu quero ele! Eu quero! - bato na cama na tentativa de aliviar a pressão em mim.

-Eu sei que tá doendo meu amor, eu sei! Mamãe já passou por isso também! Mas vai passar! Já já vem um neném lindo! Igual a Nella veio pra mim!

-Eu não quero outro bebê! Eu quero o meu Luanzinho!

-Vem cá! Deixa eu cuidar de você! - ela me puxa pra um abraço e me permito chorar ainda mais.

É como se faltasse uma parte de mim, eu tô sentindo um vazio no peito do mesmo jeito de quando meu vô partiu, talvez até pior.

Agora eu entendo a dor de uma mãe perder o filho, realmente dói, machuca, destrói a gente... É como se o nosso mundo tivesse acabado ali...

Choro um bom tempo agarrada na minha mãe, e aos poucos sinto meu corpo descarregar um pouco da dor.

-Mãe, cadê o Luan? - pergunto me lembrando dele e do quanto ele me apoiou em todos os momentos hoje.

-Ah filha... Ele não tá muito bem...

-Como assim?!

-Ele teve uma crise de ansiedade, passou mal, desmaiou, e agora tá de observação na sala ao lado! - sinto minha garganta secar.

-Mas ele tá melhor agora?

-Ele tá meu amor... Ele só tá se sentindo culpado por tudo isso...

-Mas ele não tem culpa mãe! Eu que tenho problema de saúde e não consegui gerar meu filho!

-Não fala isso! Cê não tem culpa! Nem o Luan! Só não era pra ser!

Algumas horas depois:

Fiquei mais um tempo de observação, até o feto ser retirado e aí sim recebi alta. Obviamente eu não quis ver o meu neném, pra não sentir ainda mais dor, então tive que ser sedada pra retirada.

Logo que recebi alta, já fiquei perguntando do Luan, e quando vi ele no corredor. Corri até ele e abracei apertado.

-Tá doendo tudo isso... - sussurro agarrando mais forte.

-Em mim também minha princesa... Mas a gente vai ser forte, pelo nosso filho... - ele dá um beijo no topo da minha cabeça.

Sem pensar muito, pulo no colo dele, e mesmo quase sem força, ele me agarra pelo bumbum e me segura.

-Eu quero ir pra casa... - falo enterrando meu rosto no pescoço dele.

-A gente vai meu amor... Nós já vamos tá bom?

O caminho pra casa foi estranho, o carro ficou um completo silêncio, e aparentemente ninguém quis falar nada com medo de piorar a minha situação.

Chegamos no nosso cantinho, e eu prontamente já fui pro quartinho dele. Entrei lá, sentei no chão e fiquei olhando tudo que tem.

Vi as roupinhas, os móveis, a decoração, o quadrinho com a ultrassom, as toalhas bordadas, e a botinha que o papai dele deu...

-Amor... Tu não quer ir pra outro cômodo? - meu boiadeiro perguntou me olhando da porta.

-Não... - respondo pegando a mini texana nas mãos.

-Vem cá... - ele senta no chão e me chama pra sentar entre as pernas dele.

-Ele ia ficar tão lindo todo traiado... Mas agora só existe na minha cabeça... - deixo uma lágrima escapar.

-Eu te amo viu? A gente vai passar por tudo isso, vamos ser fortes, e depois a gente pensa em tentar ter outro...

-Eu não quero outro! Não quero! - rebato.

-Amor, você tá de cabeça quente, e é normal sentir essa dor, com o tempo passa...

-Não! Não vai passar! Eu não quero nunca mais ter um filho! Por mim, eu tirava meu útero hoje mesmo!

Vejo Luan ficar em silêncio sem questionar nada. É claro que ele não vai falar uma palavra depois do que eu falei, mas ele sabe que é verdade, eu não quero nunca mais ser mãe.

Agarro a bota com mais força e fecho os olhos imaginando o amorzinho da minha vida. Sinto meu namorado fazer carinho no meu cabelo, e me abraçar mais apertado.

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Eita gente... Será que não teremos mais baby Castela Pereira?

Amizade ou O Quê?Onde histórias criam vida. Descubra agora