No dia seguinte, pela manhã mesmo, Joabe, junto de seu companheiro Adriano e Giorgio, pegaram uma gôndola e se dirigiram para o sestiere Dorsoduro.
Vagaram pelos canais venezianos como se fossem o apóstolo João tendo as visões que Deus lhe deu do Armagedom. Ficaram admirados com as águas cristalinas, as embarcações diferentes, e principalmente, a diversidade linguística que era falada ali. Pessoas de diferentes partes do Oriente e do Ocidente se encontravam em Veneza para fins comerciais.
Após uma hora de viagem, o trio chegou à fachada de um velho edifício de 2 andares que trazia um ar de modernidade e ao mesmo tempo, de antiguidade. Os três passaram pela porta e Joabe ficou impressionado com a mistura de nostalgia e de novidade que o lugar transparecia. Uma sala de teto baixo preenchia o primeiro andar, e ela tinha diversos vasos, mesinhas, quadros e máscaras de Carnaval.
Giorgio então foi falar com uma idosa de cabelos brancos e de rosto enrugado estava sentada numa cadeira balanço:
-Dona Lina, pode chamar Tales, per favore?
A mulher olhou para o criado do duque, e deu um grito que parecia com o de uma menina jovem furiosa:
-Tales, mio caro, desça!
De uma escada, veio um garoto de aparentemente 20 anos, bom físico e belo até. Sorrindo, abraçou a Giorgio, que apresentou os desconhecidos:
-Estes são Joabe, filho do conde Graccio, e Adriano, companheiro dele. Eles estão indo para a Guerra da Reconquista, e resolveram passar aqui em Veneza.
-Muito prazer, - cumprimentou com um sorriso jovial Tales - o que lhes traz aqui?
-Joabe deseja... bem, que tu analisaste um objeto.
-Aham, acho que entendi. Venham comigo.
Eles então foram até as escadas, e embaixo dela, entraram numa sala de tamanho médio e iluminada por velas. Numa estantezinha, uma dúzia de livros, além de uma escrivaninha.
-Sou Tales, um admirador do oculto das ciências atuais e das antigas. Não sou pobre, apesar de minha mãe ter sido. Mas também não sou nobre, como meu filho será. Enfim, o que deseja, sr. Joabe?
-Queria ver o que é esse colar. Peguei-o de um velho gondoleiro que morreu.
-Deixe-me vê-lo.
O nobre então mostrou o seu pertence. Depois de alguns segundos, o admirando sério, Tales riu:
-Eu não acredito nisso. Achei que vivo, nunca veria isso novamente. Vou te explicar de forma bem compreensível o que é o Talismã da Alva Ave de Rapina.
Pegando um livro com título em latim, Tales abriu em uma página e mostrou um desenho igual ao colar de Joabe, e disse:
-Aqui no Artefactum, o Talismã da Alva Ave de Rapina foi criado no Império Romano por Pertinax um pouco antes dele ser imperador romano. Conta-se que ele pediu para fazerem a Alva Ave no tempo que era procurador na via Emilia. Quando ele ascendeu como imperador e foi oferecer sacrifício a Júpiter, este apareceu a ele e transformou o "amuleto da sorte" em um talismã mágico. - ele deu uma pausa e com um sorriso infantil, acrescentou: - Mas há uma segunda lenda, que diz que na verdade, Júpiter deu a ele um outro talismã duas vezes mais mágico que o Alva Rapina, chamado de Negra Ave de Rapina.
-Então este colar possui propriedades mágicas? - Adriano estava curioso. Gostava muito de estudar sobre o Império Romano.
-Não sei. Nunca o vi pessoalmente. Conheço-o apenas por causa do Artefactum.
-Bem, então descobriremos. Proponho que esse jovem sábio venha conosco, Joabe.
-O quê?
-Eu estava pensando exatamente nisso - disse o Graccio - claro, se quiser vir conosco para a Península Ibérica.
-Isso foi muito rápido - Tales estava nervoso.
-Não temos muito tempo - apressou Adriano.
-Eu tenho que pensar. Tenho minha mãe para cuidar, além de meus dois irmãos.
-Um deles já é um homem formado - retrucou Giorgio - É a sua chance de sair daqui, Tales. Não a desperdice.
-Eu... vou pensar bem. Qualquer coisa, peço para Giorgio lhes comunicar.
-Tudo bem. Mas veja logo. Não ficaremos muito tempo em Veneza. - Joabe estava frustrado. Odiava esperar decisões vindas dos outros.
Sestiere: seis bairros históricos do centro de Veneza.
Pertinax: foi imperador romano em 1 de janeiro de 126 até 28 de março do mesmo ano, tendo morrido na mão de assassinos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)
Historical Fiction[Primeiro livro da "Antologia os Graccios da Europa" (AGE)] No século XV, a Guerra dos 100 Anos entre a Inglaterra e a França chega a seu nonagésimo segundo ano, e desta vez, a França precisa lidar com a guerra interna entre os Borguinhões e os Arma...