Passou um mês, e durante todo aquele tempo o condado ficou bastante movimentado.
A notícia da partida repentina de Joabe dividiu a população em dois partidos. A maioria dizia estar satisfeita com a decisão. Mas haviam os que falavam que tudo aquilo tinha algo escondido por trás. Afinal, a ideia do Conde ter acordado numa bela manhã e ter pensado em mandar seu filho para tão longe parecia infantil, até mesmo boba. E também, para a surpresa de ambos os lados, Timóteo anunciou que faria uma festa de despedida para o garoto que viajaria. Convidou todos os seus vassalos e nobres locais.
De forma paralela, havia chegado a temporada de chuvas intensas, e as cidades estavam sofrendo com inundações e desabamentos de terras, e as guildas e a Cavalaria se esforçaram para auxiliar os desabrigados.
***
No dia 25 de dezembro, de noite, o Castelo Graccio estava iluminado e os convidados vagavam por ele. Os servos ofereciam em bandejas doces e guloseimas enquanto as mesas da ceia/jantar eram organizadas.
Otávio, aproveitando a oportunidade, apresentava sua filha Diana aos jovens nobres, e ela, sem saber isso, socializou de forma animada com eles. Entre eles, estava Domenico, que não escondia suas intenções com a moça.
-Domenico está no cio, Joabe - comentou ironicamente Isaia. Diferente de dias comuns, ele vestia roupa social que havia pedido para sua mãe costurar.
-Se Diana casar com ele, juro que abandono a nobreza e vou para um convento - Joabe sentenciou, e ambos riram.
-Bem, se caso eles casarem, tu não estarás nem no casamento, - observou o escudeiro - pois vai está lutando na Reconquista.
-Eu voltarei só pra quando o padre perguntar: "Se alguém tem algo contra, fale ou cale-se para sempre" eu gritar que tenho algo contra.
-Duvido que faria isso.
-É melhor que fique na dúvida. Não quero ter que visualizar tal momento.
Ainez, o cavaleiro mais falado do condado, estava galanteando uma mulher, e claro, ela estava sendo seduzida pelos seus encantos. Até que de repente, um homem veio até ele, dizendo:
-Com licença, Ainez, mas desejo falar com minha filha agora.
-Ah, claro - o cavaleiro falou - espere só um pouco.
-Perdão senhor, acho que não ouviu direito. Quero falar com ela agora.
-Seja educado lorde, e deixe que eu conclua minha conversa com essa bela dama - e deu uma piscadela para a mulher, que sorriu constrangida.
-Por acaso, está dando em cima dela? Saiba que eu sou o conde de Gorizia, Enrico VI.
-Não, estou apenas tentando conversar com ela, mas um homem desrespeitoso me atrapalha neste momento.
-Um pai de família não pode falar com sua filha?
-Se isso for no meio de uma conversa, não.
Os dois então começaram a trocar mais frases ameaçadoras entre si gritando, o que chamou a atenção de todos ali. Afinal, não era todo dia que um cavaleiro famoso em toda a Península Itálica confrontava um nobre tão importante.
Em certo momento, Ainez sacou sua espada e declarou:
-Enrico VI, te chamo para um duelo!
O nobre enraivecido, aceitou o convite, e ainda zombou: - Essa será a última vez que você falará com um lorde dessa maneira.
-Isaia, venha cá! - chamou o cavaleiro - Me acompanhe durante este duelo.
Aborrecido, o escudeiro seguiu ao mestre. Mas não apenas ele. A maioria dos convidados foi atrás para ver como terminaria o confronto. Diana e Domenico, alheios aos fatos ocorridos, ficaram no salão conversando de forma animada. Timóteo, ao saber do que havia acontecido, ficou nervoso, e ao mesmo tempo, curioso. Por isso, decidiu acompanhar de longe o embate, diferente da sua esposa Helena, que seguia animada a plateia. Otávio, sendo um homem que confusões e discussões lhe desagradavam, resolveu ficar no jardim do Palácio, com Jéssica e Ícaro de Falcoburgo.
-Boa festa de despedida Joabe, tem até luta ao vivo - brincou Enéas, um dos grandes navegadores da cidade portuária de Airone.
-Receio que isso não estava em seus planos - observou Adriano.
-Espero que isso acabe bem - Joabe sussurrou para si mesmo.
Os dois combatentes foram para a fachada do castelo, e ficaram entre a escadaria e o chafariz. Em seguida, Ainez retirou sua camisa e pegou sua espada, e deu a bainha e a camisa para Isaia. O nobre zombou:
-Eu não preciso tirar nada de mim para te vencer. Vou ganhar de terno.
-Que assim seja, excelência.
O cavaleiro avançou em alta velocidade contra o conde, que bloqueou um ataque. Em seguida, Enrico deu um passo para a frente tentou espetar o seu adversário, mas ele se agachou, na tentativa de acertar as pernas. O nobre recuou dois passos, e numa questão de milésimos de segundos, Aines saltou como um gato e bateu com o cabo da lâmina no rosto de Enrico.
-Será que Ainez o matará? - temeu Helena.
-Isso daria consequências muito fortes para ele. Seria muita imprudência - opinou Rafaella, amiga da condessa.
-Imprudência resume Ainez - contrapôs Joabe. - No mínimo, ele vai encher ele de porrada.
-Esse cara não sabe com quem está se metendo - falou Adriano.
Após mais cruzamentos de lâminas, Ainez acertou girou e espetou sua espada no ombro do outro, que desconcertado, travou. O guerreiro então aproveitou a chance e na roupa dele fez um rasgo em forma de "A".
-Hah! Você perdeu! - se vangloriou Ainez.
Todos bateram palmas e outros elogiaram o cavaleiro. Alguns nobres de terras distantes ajudaram Enrico a se levantar.
-Isso não vai ficar assim, moleque maldito - ameaçou o conde.
-Claro que não. Vai inchar - alguns senhores feudais locais riram da gozação.
Raivoso, Enrico adentrou o Palácio Graccio, amaldiçoando mentalmente o cavaleiro.
Enrico VI: personagem real que governou o Condado de Gorizia de 1385 até 1454.
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As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)
Fiction Historique[Primeiro livro da "Antologia os Graccios da Europa" (AGE)] No século XV, a Guerra dos 100 Anos entre a Inglaterra e a França chega a seu nonagésimo segundo ano, e desta vez, a França precisa lidar com a guerra interna entre os Borguinhões e os Arma...