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Tales era conhecido por toda a região nordeste da Itália, desde as cidades costeiras do Mar Adriático e da Lagoa de Veneza, até a Lombardia.

Seus feitos (lutas com seres sobrenaturais, caçadas mágicas e também o fato de ser portador de objetos poderosos) se espalharam de tal forma que, muitos o conheciam somente como o "Mago das Cartas na Manga". Convenhamos que não era lá um título que combinasse, mas foi o que se popularizou, então paciência.

As harpias ficaram hesitantes diante da imobilização de Tales em uma das mulheres de asas.

-Não irão avançar? - atiçou o sábio.

Em vez disso, a harpia que havia sido pega moveu-se e mordeu o pé do veneziano. Distraído, Tales deixou que a moça voadora fugisse. Ela correu em direção de suas colegas, mas antes que pudesse se aproximar delas, suas pernas foram puxadas e carbonizadas automaticamente.

-O que foi isso? - uma mulher pássaro ficou assustada diante de tal brutalidade.

-Uma magia capaz de destruir corpos vivos - falou uma outra - Realmente, entendo o motivo de Celepite ter sido derrotada por um mago desses. Ou seria um feiticeiro?

Tales sorriu diante da admiração que as três aberrações sentiam por ele.

Enquanto isso, os soldados da companhia matavam a quarta harpia a asfixiando com uma corda amarrada em seu pescoço.

-Finalmente, matamos a última dessas coisas! - gritou Afanesto.

-Não, ainda faltam duas - negou Crasso.

-Pra mim, essa será a última - o bêbado cuspiu ao declarar isso.

Os graccianos se entreolharam. Ainda viam com maus olhos os reforços de Francesco Foscari. Para eles, aqueles guerreiros ducais eram como cães que ladram mas não mordem, como diz o ditado.

-Irmãos, juntem-se e vamos mostrar a nossa força pra essas pombas gigantes! - tentou animar Adriano.

Esquecendo por um tempo as diferenças, todos seguiram para onde Tales enfrentava as duas harpias.

Entretanto, ao chegarem lá, um arrepio simultâneo correu pela pele deles ao ver a seguinte cena:

Três harpias estavam caídas ao chão. Uma sem as pernas, outra sem o braço esquerdo, e a terceira faltando o braço direito. O sábio estava de pé no meio, com a cabeça erguida ao céu enquanto sorria macabro.

A ave humanóide sem a destra, num fio de voz deu suas últimas palavras:

-Maldito... afinal de contas, qaul sua magia?

Tales abriu mais o sorriso:

-Eu não sou um mago e nem um feiticeiro. Usei um feitiço que manipula o ferro do corpo. Eu arranquei seus membros atraindo seus membros até mim. Agora, durma.

Enfiando o seu dedo médio no pescoço da harpia, deu por terminada a sua batalha.

Amedrontados, os guerreiros de Veneza e do condado deram um passo para trás, e antes que corressem, Joabe quebrou o clima:

-Pelo visto, comeremos frango assado pelas próximas semanas.

Apesar da piada ser de humor negro, o clima foi aliviado com a afirmação.

No dia seguinte, um pouco mais tranquilos, os soldados realizaram suas tarefas diárias sem falar muito e com calmaria.

Da sua tenda, Joabe percebeu a quietude anormal e comentou para Adriano, que tomava café sentado num travesseiro:

-Acha que a atitude do Mago das Cartas na Manga foi precipitada?

-Sim. - afirmou Adriano - Ele colocou em risco sua reputação tão bem celebrada em toda a região. Mas acho que logo isso passa.

-Como assim, "logo passa"?

-O medo será trocado por admiração. Você acha mesmo que os guerreiros são como os camponeses, que vivem uma vida de miséria e temor de tudo? - Bebeu um pouco de café e complementou: - Eles vão ver que Tales não é alguém a ser temido.

Do outro lado do acampamento, Tales estava em sua pequena barraca. Diferente dos outros soldados que se dirigiam até uma área específica onde eram dados pratos com o café da manhã, o sábio tinha uma bolsa de couro recheada de frutas que eram magicamente conservadas.

Enquanto mordia uma maçã, sentiu uma presença estranha em seu cômodo, e suspirando, resmungou:

-O que veio fazer aqui, gênio?

-Por que esse mau humor? - indagou risonho o fantasma de cor azulada.

-Bem, estou pensativo, mas sua presença cortou-me a linha de raciocínio que eu estava. Mas diga, achou...

-Sim. - interrompeu de novo o espírito - Eu consegui aquilo que tu pedistes.

-Ótimo. Agora, me conte.

Voando pela barraca, o gênio segredou:

-Como você pediu, eu segurei as almas das harpias aqui no plano físico, e as torturei para que falassem o que soubessem.

-E o que elas disseram?

-Como deduziu, elas estavam aqui para vingar a morte de Celepite. Contudo, também revelaram que elas queriam te matar para que não chegasse até onde estava o tesouro de Celepete. Com algumas torturas a mais, elas contaram onde está guardado o galardão.

-E onde é?

-Está em Santo Stefano d'Aveto, no Monte Maggiorasca.

-Hum, escondeu seu tesouro em uma elevação. Esperta essa harpia.

-Mas e aí, vai lá raptar o baú?

-Claro. A rota que Joabe e companhia escolheram é passar por Modena e Gênova, pegar um barco até Nice, e de lá seguir até Bordeaux.

-Não era mais fácil navegar até a Península Ibérica de uma vez?

-Eles são nobres - retrucou Tales - Não se submeteriam a embarcações sujas e com alto perigo de morte no mar.







Magia: ou Elemento Mágico, é o quinto elemento e é combinável com os outros elementos (fogo, água, ar e terra).

Mago: pessoa que nasce podendo fisicamente criar e controlar o Elemento Mágico. Existem somente quatro tipos de mago: os de fogo, água, ar e terra.

Gênio: na mitologia romana, um espírito protetor que cada pessoa tem, desde o nascimento até o falecimento. Eles concediam intelecto e talentos. 

As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)Onde histórias criam vida. Descubra agora