4

5 1 0
                                    

Quando voltaram para o castelo, Timóteo Graccio já os esperava. Pediu para que todos se acomodarem, pois dali a pouco estaria sendo servido a ceia.

-Novamente, boa noite a todos - iniciou Timóteo - Hoje, estamos aqui para comemorar não apenas o Natal, mas a despedida de meu filho, que em meados do mês de janeiro para guerrear na Reconquista Ibérica. Apesar de nossas desavenças e diferenças, eu o amo e espero que ele tenha sucesso e consiga fortuna naquela longínqua terra.

Joabe sorriu. Era raro quando o pai demonstrava minimamente afeto fraternal para com ele.

-Mas também, tenho uma notícia boa, saída diretamente do forno. A partir de hoje, meu filho Josué Graccio estará noivando oficialmente com a Condessa Vanilda. Como sabem, ela é viúva há 3 anos, mas mesmo assim aceitou noivar com meu primogênito.

Surpresos, muitos bateram palmas e gritaram.

E foi naquele momento que Joabe se deu conta do tamanho do plano de seu pai. "Ele está consolidando o meu irmão, pois o Conde sabe que com sua idade de 58 anos, ele está próximo de seu inevitável fim. Preparou essa viagem sem volta para eu me afastar do Condado, e até preparou um noivado com essa viúva de meia-idade que deve guardar uma boa quantia em seus bolsos" pensou "É claro! Como eu pude ser tão burro! Tenho que avisar isso a Jéssica! Com certeza ela será a próxima a ter um casamento arranjado com algum marquês ou barão de alguma terra longínqua!"

E por falar nela, Jéssica estava na porta que conectava o salão principal com o salão de onde Timóteo falava. Atrás dela, tocando-lhe a cintura, estava Ícaro de Falcoburgo.

-Isso daí só pode ser uma jogada política - sussurrou Ícaro - Muita coincidência essa viagem e o noivado.

-Claro que é - concordou Jéssica. - Ele quer abrir o caminho para Josué, seu queridinho. Um mês atrás, quando papai teve aquele Conselho com você, Andrea e Alessandro, no dia anterior, ele teve uma briga com minha mãe Helena.

-Qual o motivo?

-Isso. Timóteo queria, e quer, se livrar de todos os empecilhos que possam impedir Josué de ascender ao cargo de Conde em paz. Daqui a pouco, chegará minha vez.

-Mas você já sabe o que ele trama?

-Não. Ainda não. Mas vou descobrir e irei dar um jeito nesse velho matreiro e no mimado de meu irmão - o olhar de Jéssica ficou por um segundo castanho-claro. - E vou ir logo me unindo.

-Com quem?

Ela então olhou diretamente para o melancólico Enrico VI de Gorizia, sentado num sofá próximo de uma parede, num canto, sendo consolado por suas filhas.

***

Alguns dias passaram depois daquela festa de forma aparentemente normal.

Joabe fingiu felicidade e ignorância, comemorando animado o Ano-Novo com sua família e fazendo algumas visitas semanais à Aquila. Poucos percebiam que ele estava tramando algo, mas não era tão fácil assim enganar Timóteo.

-O que esse moleque está tramando? - dizia pra si mesmo.

Na primeira vez que foi para a cidade, o jovem nobre contou suas descobertas para seus amigos Isaia, Domenico e Mário, um cavaleiro de menor expressividade.

-E tudo isso daí foi você que pensou? - debochou Domenico.

-Sim, e eu juro que tudo isso é verdade! - clamou o Graccio.

-Calma, a gente acredita em você - garantiu Mário.

- O pessoal da Cavalaria, pra falar verdade, já estavam sabendo de alguns boatos sobre isso. - falou Isaia.

-Na verdade, diversos boatos como estes se espalham - comentou Domenico.

-O que eu farei?

Os três não sabiam como ajudar o amigo.

Na segunda visita, Joabe encontrou-se com Mário na entrada da cidade, ajustando a sela de seu cavalo.

-Como estás, Mário? - indagou o nobre.

-Melhor agora - respondeu o cavaleiro - Veio fazer o quê aqui?

-Ver a ti e à Isaia e Domenico.

-Então retornes. Domenico está em outra vila, e pelo que fiquei sabendo, Isaia acompanhou Ainez numa missão.

-E você?

-Estava voltando de uma missão de resgate.

-Deixa eu adivinhar o motivo: as chuvas?

-Exato meu caro. Essas chuvas estão dando muito trabalho.

-Exato. Eu bem que podia usar esse argumento pra não ir pra Península Ibérica.

-Nada. Seu pai ia ignorar.

-A esperança é a última que morre.

-E provavelmente você morreria junto.

-Mário, és muito pessimista.

O guerreiro riu baixo.

-Não se preocupe quanto a isso. Obedeça ao teu pai e não ligue para nós - o soldado ficou um pouco triste ao afirmar isso.

Com um pouco de pena, Joabe teve uma ideia:

-Eu posso convencer meu pai a permitir que tu e Isaia me acompanhem.

-Não é uma ideia ruim. Eu aceito, já vou logo avisando.

-Mesmo se você não aceitasse, tu iria.

Mário deu um leve soco no ombro do filho do conde. 

As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)Onde histórias criam vida. Descubra agora