Tales se juntou à comitiva de Joabe, e logo todos se encantaram com seus conhecimentos e pelo seu carisma. Andava com uma bolsa preenchida de alguns livros escritos por si mesmo, além de miniaturas de utensílios mágicos.
-Quando eu preciso, faço os objetos aumentarem de tamanho - explicou Tales.
Além dele, se juntaram uma tropa de 500 soldados cedidos pelo doge Francesco e comandados por um tal de comandante Crasso. Diferente do sábio, os venezianos não foram bem aceitos por serem orgulhosos e sérios. Por isso, os soldados preferiam ficar somente entre si e não interagiam com os graccianos.
Dez dias depois da saída dos 1.500 homens de Veneza, avistaram Comacchio (uma cidadela de poucos habitantes e simples) um pouco depois do meio-dia .
-Vamos parar aqui - disse Crasso a Joabe - Faz dias que estamos andando sem parar em um local decente para descansar.
-Tens razão - concordou o jovem nobre - Até eu estou sofrendo com essas noites mal dormidas. Diga aos seus 5oo que faremos um acampamento e que eles têm a permissão de visitar a localidade.
E assim foi feito. Montaram suas tendas há alguns quilômetros de Comacchio, próximo também de uma lagoa, e para garantir que não seriam importunados, Joabe mandou dois subordinados seus à cidadezinha para avisar os moradores de que vinham em paz.
-Ainda bem que estamos em uma planície perto de um rio - falou Adriano.
-Por enquanto. - Joabe desembrulhou um mapa, o estendendo numa mesinha - Quando passarmos por Modena, estaremos no Vale do Pó que é cheio de cânions. E haverá a perigosa Cordilheira dos Apeninos, que começa próximo dali.
-Essa cordilheira se estende até a República Gênova. Depois dela, estaremos na França de que forma? - Célio estava em dúvida.
-Vamos pegar uma embarcação e desembarcaremos em Nice. Planejo passar por Marselha e Bordeaux,e de lá, adentramos a Península Ibérica.
-É uma boa ir pela costa francesa, - declarou Eriodes, que era um viajante com anos de experiencia - mas acho que em vez de pegar um barco em Nice, parar em Marselha e irmos andando até a fronteira, é mais viável se formos em uma linha reta até Lyon, e de lá ir até Bordeaux .
-O que acham, companheiros? - perguntou a Adriano, Célio e Délio.
Os cinco discutiam animados sobre a rota que deveriam tomar, e nem perceberam quando anoiteceu. Guerreiros voltavam de Comacchio com comidas, roupas e acessórios novos. Os graccianos que ficaram fizeram fogueiras e acenderam tochas por todo o acampamento. Iluminados e aquecidos, eles conversavam em grupos na frente de algumas barracas. Alguns cantavam e tocavam. Aproveitavam o momento de lazer para se divertirem e socializarem um pouco, esquecendo a rota sofrida.
Crasso, dentro de sua tenda, bebia um pouco de vinho com três colegas seus. Conversavam sobre o fato do signore Foscari ter cedido os quinhentos a Joabe.
-Francesco foi humilde demais com esse Joabe - declarou Afanesto, que sempre que bebia vinho, ficava muito bêbado.
-É tudo uma questão de simpatia política. O doge quer tentar fazer uma aliança com esse nobre - Galba, por motivos religiosos não havia nem tocado em sua taça.
-E aí ele nos deu como se fossemos uma oferenda? - Selvo odiava quando se via sendo enganado, ainda mais por alguém como Francesco Foscari - Por isso que eu me irrito com essa gente poderosa.
Crasso, que até aquele momento estava calado enquanto saboreava seu vinho, afirmou: - Somos soldados ducais.
-Sempre seremos meros peões na mão do rei - complementou Galba.
-Isso é baralho? - Selvo indagou.
-É xadrez, asino. - Crasso riu, sendo seguido por seus dois camaradas.
Afanesto propôs: - Um brinde a nós, os subestimados soldados venezianos.
Todos ergueram suas taças e brindaram.
Um vento impetuoso veio de fora e bagunçou a tenda. Gritos foram ouvidos do lado de fora e sons de explosões eram audíveis.
-O que está havendo? - Afanesto ficou curioso.
-Um ataque! - Selvo se levantou rápido, correndo até a entrada da barraca.
Mais adiante, sete mulheres com asas e pernas de galinhas voavam no meio do acampamento.
-Que coisas são essas? - Afanesto não conseguia identificar o que eram os seres de tão bêbado que estava.
-São harpias - informou Tales, que aparecera do lado do quarteto de repente.
-O que elas querem conosco?
-Penso que devem ser colegas de Celepite.
-Quem é essa?
-A harpia que eu derrotei antes de vir para cá. Ela era uma antiga inimiga minha que escondia um tesouro.
Antes que algum dos venezianos fizesse qualquer pergunta, Tales saltou usando um feitiço de voo e aterrissou em cima de uma das moças-aves.
-Maldito - esperneou o passáro humano.
Duas harpias viram-no, e ameaçaram:
-Se não sair de cima dela, vamos te deixar em picadinho!
Tales encarou-as, e puxou do bolso uma faca, e tocou com o gume no pescoço da harpia:
-Somente tentem, e eu darei um fim a essa coisa com asas.
Délio, Célio e Adriano viram a cena caótica. Os dois irmãos exclamaram:
-Um ataque sobrenatural!
-Rápido, temos que reunir os soldados - Adriano pediu.
Mas antes que eles fizessem qualquer movimento, viram duas cordas serem amarradas em volta de uma das harpias, que gritou:
-De onde essas amarras vieram?
Dois guerreiros apareceram segurando as cordas, e um terceiro mirava com uma besta. Num tiro certeiro, atravessou a cabeça da ave com um dardo. Uma outra mulher voadora despencou do céu após ser atingida por uma pedra de fogo.
-Bem, pelo visto, os nossos homens estão se virando com o que têm - comentou Eriodes, que acabara de chegar com Joabe, que indagou:
-Onde está Tales?
Asino: jumento em italiano
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As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)
Historical Fiction[Primeiro livro da "Antologia os Graccios da Europa" (AGE)] No século XV, a Guerra dos 100 Anos entre a Inglaterra e a França chega a seu nonagésimo segundo ano, e desta vez, a França precisa lidar com a guerra interna entre os Borguinhões e os Arma...