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A companhia caminhou até o anoitecer, quando pararam numa região plana e silenciosa para descansarem. Fizeram duas fogueiras grandes com galhos secos e jantaram tranquilamente.

-Bem, vamos ver aqui a rota - Mário abriu um mapa no gramado - No sudoeste, há a República de Veneza e o Ducado de Milão, e noroeste, a República de Falcoburgo e o Ducado de Caríntia.

-Temos que chegar logo à Veneza, - comentou Adriano, o companheiro de Joabe - pois o conde disse que o doge Francesco Foscari nos espera com mantimentos.

-Nós temos comida e água suficientes para duas semanas - informou Mário.

-É mais que o tempo necessário para chegarmos lá. - o cavaleiro Délio apontou para mais adiante. - E cada um dos mil integrantes da comitiva tem o bastante para sobreviver.

-Retornaremos a caminhada amanhã. Acho que em duas ou três noites, chegaremos à Lagoa - falou Adriano, e se afastou para dormir em sua tenda.

Como o tal disse, o grupo chegou na tarde do terceiro dia à Veneza, sendo levado por um grupo de gôndolas até a outra margem. Porém, no meio do caminho, as águas da lagoa começaram a se agitar, e as embarcações se moveram de forma preocupante.

-Não se preocupe, rapaz, - disse o velho gondoleiro à Joabe - isso acontece com frequência aqui, e todos possuem experiência!

Naquele momento, uma onda imensa passou do lado da frota, os empurrando.

-Tá virando! - gritou um dos soldados para o velho, que movendo algumas cordas, fez com que o barco ficasse normal.

Um outro guerreiro, quase caiu na água, mas segurou-se na borda da gôndola. Joabe, claro, foi ajudar o jovem, e quando o puxou, uma onda forte jogou o barco para o alto, e eles literalmente voaram por alguns segundos. A embarcação caiu com força na água, e o velho gondoleiro tombou, caindo na lagoa.

-Salvem-no! - gritou Joabe para seus subordinados.

Eles rapidamente moveram o meio de transporte para perto do velho, que estava se afogando. Joabe, se pendurando em uma corda, se aproximou do gondoleiro o máximo que pôde, e agarrou a gola de sua camisa.

-Eu vou te salvar! - gritou para o semi-afogado.

-Puxe o talismã - murmurou o navegador, e colocando a mão por dentro da camisa, mostrou um colar que tinha um objeto brilhante. A gola se rasgou no meio, e numa última tentativa de socorrer o pobre coitado, Joabe puxou o colar, mas o homem afundou nas águas.

-Puxem Joabe! - ordenou um dos guerreiros na gôndola, e os subordinados puxaram o nobre de volta.

Logo tudo se acalmou e o grupo chegou sã e salvo à Veneza, a cidade erguida no meio da lagoa homônima, formada por canais e ilhotas. Chegaram já quase no anoitecer, admirando os últimos raios de sol se esvaindo.

Em meia hora eles desembarcaram no Palácio Ducal, onde o doge Francesco Foscari já os esperava. Gordo, bochechudo e de rosto sereno, o governante veio cumprimentar Joabe Graccio.

-É bom vê-lo aqui - disse sorrindo.

-Perdão pelo incômodo, senhor - se desculpou Joabe.

-Não é incomodo nenhum sua presença aqui. Vamos, entrem! Há aposentos para todos.

Obviamente, o quarto do nobre era o maior. Uma cama confortável e grande, um bom espaço, uma mesa de cabeceira feita com lindos adornos, além de um servo só para si.

-Obrigado, jovem - agradeceu Joabe.

-Precisa de algo, senhor? - perguntou o criado.

-Não preciso de nada.

-Me desculpe a pergunta, mas algo lhe incomoda, senhor?

-Sim - o Graccio sorriu - quando eu vim para cá, no meio do caminho, uma tempestade assolou eu e minha comitiva, e estávamos em gôndolas, e um dos gondoleiros morreu afogado. Sinto-me culpado por não tê-lo ajudado.

-Entendo. Meus pêsames pela morte do gondoleiro. Há algo que eu possa fazer para ajudá-lo?

-Receio que sim. Antes de ser puxado pelas águas, o velho gondoleiro pediu para que eu puxasse seu colar, que ele chamava de "talismã". Mas não sei exatamente o que é.

-Posso ver?

-Sim. Aqui - Joabe mostrou o objeto. Uma corrente que aparentava ser de ouro, e uma águia  branca com detalhes amarelos.

-Hmmm... perdão senhor, mas pra mim parece ser um colar normal. Mas conheço alguém que pode lhe responder de forma mais inteligente. Ele mora aqui mesmo, em Veneza. Amanhã podemos ir vê-lo.

-Qual seu nome?

-O nome dele é Tales.

-Não, não. O seu nome.

-O meu? Me chamo Giorgio.

-Agradeço pela ajuda, Giorgio. Amanhã vamos ver esse Tales.

As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)Onde histórias criam vida. Descubra agora