Os filhos do Mr. Henderson

O pesadelo de Yan

As coisas finalmente voltavam ao normal, na verdade, pareciam até melhores do que antes. Depois de muito tempo, o circo dos Henderson voltou a estar lotado.

Naquela noite, Yan decidiu dormir cedo, estava cansado. Vestiu o pijama e logo deitou na cama. Demorou para cair no sono, tinha dificuldade para isso desde que o pai morreu, absorto pensando na vida, finalmente fechou os olhos. E mergulhou nos sonhos.

Ele estava caído em um chão de madeira, a casa era velha. Percebeu que seu rosto estava molhada, como se tivesse acabado de chorar, seus joelhos estavam ralados. Um homem apareceu no quarto e o encarou.

— Por favor, não! — Yan gritou.

Mas não houve resposta. O garoto fechou os olhos e se encolheu.

— Você não vai mexer no meu irmão!— A voz de Tommy ecoou no cômodo.

E, então, nada mais pôde ouvir ou sentir. Só lembra de ter acordado gritando: "Eu te odeio!".

— Yan, o que aconteceu?

— Era um pesadelo...

— Não me diga que sonhou com aquilo de novo.

— É, foi o que está pensando.

Tommy trouxe um copo d'água e observava o rosto assustado do caçula.

— Odeio lembrar daquilo, até quando eu durmo... isso é insuportável.

— É a nossa pior memória.

— Não era você que mais sofria.

— Eu sofri tanto quanto você.

— A culpa é toda minha, eu fui o motivo da nossa vida ter virado de cabeça para baixo.

— É... — Yan murmurou.

Milk chegou na porta do quarto e, estressado, disse:

— Da próxima vez, tente gritar menos.

— Ele estava tendo um pesadelo, não percebeu? — Tommy retrucou.

O irmão mais velho simplesmente franziu o cenho e desceu as escadas.

— É difícil lidar com o Ricky ás vezes.

— Sim...

— Obrigado por responder para mim — Ele sorriu.

— Se for para te proteger, não vou pensar duas vezes. Agora vamos dormir de novo, está muito cedo.

— E se eu tiver pesadelos de novo?

— Pense em uma coisa boa que você passou.

Então, Yan voltou para a cama e, olhando novamente para o teto, pensou nos bons momentos com Tommy.

Também era inevitável pensar no Clube dos Corações Solitários, o primeiro dia realmente feliz desde que seu pai morreu.