Amarrando as pontas

3 1 0
                                    

Tommy arregalou os olhos, visivelmente assustado.

— Foi o Yan que gritou.

Os outros não contestaram a fala dele, nem acrescentaram nada, apenas correram tentando procurar de onde o caçula havia gritado.

Beth foi a primeira a encontrar o camarim, fitando a cena de Mary com o braço em volta do pescoço do irmão.

— O que você está fazendo?

— Ela... quer... — Yan tentava dizer alguma coisa, mesmo que incapacitado.

— CALA A BOCA!— Mary apertou mais o seu pescoço.

— O que você quer com o Yan? — Tommy empurrou Astrid para se aproximar da mulher.

— Na verdade, o que eu iria querer com todos vocês, não é?

— Eu não estou entendendo...

— Trate de se calar, ou o seu irmãozinho vai morrer!

Astrid puxou Tommy para trás e esperou que ela começasse a dizer.

— Vocês sabem que namorei com William, ele foi o primeiro homem que me apaixonei. Mas... depois de um tempo, ficou com medo de mim.

— Medo de quê? — Rolf se assustou com a declaração.

— Eu não queria vê-lo com nenhuma outra mulher, independente se fossem amigas... colegas de trabalho. William temia que meu ciúmes o me levasse a fazer coisas piores, quem sabe? — Riu e, depois, respirou fundo — Quando terminamos, não demorou mais que um ano para encontrar outra namorada.

— Rosamund? — Beth a interrompeu.

—Sim, aquela vadia chamada Rosamund!

— NÃO SE ATREVA A CHAMÁ-LA ASSIM! — Rolf gritou.

— Eu falo do jeito que quiser! Meu amor por ele nunca acabou. Sabia onde morava, então apertava a campanhia todos os dias, mas sempre falhava na missão...

— Ele sempre me dizia sobre uma pessoa que o perseguia — Rolf arregalou os olhos — Eu sempre estava trabalhando na hora que aquilo acontecia...

— Depois de um tempo, eu desisti de tentar, a idiota da Rosie havia conseguido o meu amado. Planejavam ter circo, filhos, tudo aquilo que também sonhávamos tanto! Fingi estar mais amigável com os dois... e com você, Rolf. Tanto que, uma vez, Rosamund me convidou para uma festa na casa dos dois.

Yan estava perdendo a consciência, já que havia passado muito tempo sendo sufocado por Mary.

— Sua... sua...

— O que você quer dizer? Gordinha boba! — Riu novamente — Fiquei sabendo que a Rosie estava com depressão depois de descobrir ser infértil, ah, coitadinha! Me lembro de conversarmos no quarto que ela dividia com o William, tentei consolar a mocinha.... e vi o diário do meu amor.

— Foi desse jeito que você conhecia o diário...

— Ah, sim, Rolf! VI todas as anotações, muitas falando do meu jeito ciumento. Confesso que não aguentei, rasguei todas as folhas quando aquela idiota foi para o banheiro. Alguns meses depois, decidi trocar os remédios que Rosie usava no tratamento por vários comprimidos, alguns para dormir, outros para febre...

O silêncio tomou conta do local, e Mary ainda apertava o pescoço de Yan, mesmo que aparentasse estar cansada de fazer isso.

— SUA ESTÚPIDA! — Astrid gritou.

— QUER SABER DE UMA COISA? — Mary soltou o menino e usou as duas mãos para usar a arma — É por isso que eu queria vocês, é como uma forma de vingança!

— Como você teve coragem de fazer coisas assim? Como Rosie e Yan... duas pessoas tão puras e inocentes?

— Ah, que discursinho bonito! Pena que não caio nele, sua tolinha!

Tommy tentava passar despercebido pelos quatro, enquanto se aproximava do irmão, que estava desacordado.

— Finalmente poderei me vingar, quem deveria estar tendo uma família era eu, e não aquela vadia!

O primeiro tiro ecoou pela sala, na direção de Astrid, que se jogou no chão.

— Yan... Yan... — Tommy cochichava em seu ouvido, mas não havia resposta.
Beth procurou por qualquer objeto que poderia usar como arma, e, em uma gaveta velha cheia de poeira, encontrou um estilete.

Tommy ainda queria acordar Yan, e se desesperava a cada tentativa falha.

— Vão para algum lugar seguro, por favor — Astrid disse, ofegante, no canto da sala.

— Mas eu quero ajudar vocês!

— É muito arriscado, Tommy!

Outro tiro foi ouvido, mas fora do camarim. Tommy não conseguia entender quem Mary queria machucar, e nem ao menos como conseguiria sair vivo dali.

Ele segurou no corpo de Yan e o levantou, felizmente ainda respirava. Era um pouco pesado, mas nada quem um esforço não o impedisse de salvá-lo. Deu alguns passos rápidos para fora do camarim e observou a cozinha do Clube dos Corações Solitários, que ficava perto de onde estava. Decidiu se trancar lá e procurar um telefone para chamar a polícia.

Beth, Astrid e Rolf voltaram correndo para o camarim, como uma forma de despistar Mary.

— Vocês acham mesmo que eu sou idiota?

Ela preparou o gatilho. Seu rosto suava na mais profunda adrenalina.
Rolf se aproximou dela rapidamente para tentar tirar a arma de suas mãos.

— Não... ROLF, NÃO! — Astrid gritou.

Mary abaixou a mão e, por um instante, atirou pela terceira vez. Rolf deu um grito tão ensurdecedor que Yan, na cozinha, conseguiu retomar a consciência.

Astrid não conseguiu ter nenhuma reação, permaneceu imóvel enquanto via o que aconteceu.

— Você não vai fugir, sua estúpida! — Beth correu na direção da dona do Clube e confiscou a arma. Fez questão de fazê-la tropeçar para que caísse no chão.

— O que aconteceu? — Tommy saía da cozinha do local — Ah, meu Deus! ROLF!

Seu peito sangrava e se contorcia de dor.

— Você chamou a polícia?

— Sim, Astrid... e já informei para o Milk sobre o que aconteceu.

— Eu vou ligar para a ambulância, me espere aqui.

Os filhos do Mr. HendersonOnde histórias criam vida. Descubra agora