A mulher do retrato

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— Que coincidência aquele menino estar no circo — Milk comentou enquanto comia a sopa do jantar. — Espera, qual o nome dele mesmo?

— Julian Benveniste.

— Ah Yan, decorou o nome dele?

— Não tem nada demais, ele é uma boa pessoa.

Tommy permanecia calado, como se ainda tentasse processar o que tinha visto. Pouco importava o que os irmãos diziam ao redor, estava aos poucos sendo consumido por aquela sensação estranha. Desde que viu o irmão com Julian não conseguia relaxar.

— Preciso fazer algumas coisas no meu quarto — Rolf anunciou. — Alguém pode lavar a louça por mim?

— Claro! — Beth respondeu.

Ele subiu as escadas e pensava no caderno que William deixou antes de morrer. Pegou a chave do baú na bolsa da calça e o abriu novamente. Dessa vez queria procurar outra coisa, quem sabe o amigo não havia mais coisas?
Com a luz do quarto acessa, notou a foto de uma mulher estranhamente familiar. Como um dejá vu, rapidamente a segurou o retrato e tentou lembrar de onde conheceu a jovem.

Era impossível dizer que não era bonita, parecia ter, mais ou menos, 25 anos. Seus cabelos castanhos possuíam diversos cachos, os olhos tinham a mesma cor. O sorriso era assustadoramente parecido com o de Yan, até as covinhas ficavam no mesmo lugar.

Então se deu conta de quem era aquela mulher.

— Não acredito que William ainda guardou a foto dela. — Começou a chorar lembrando do que havia ocorrido no passado.

Limpou as lágrimas com as mãos e percebeu como fazia tanto tempo desde que aquele acontecimento medonho havia ocorrido.

— Rolf, precisa de ajuda? — Milk bateu na porta do quarto.

— Não! — Disse desesperado, naquele momento seu coração quase explodiu dentro do peito.

— Tudo bem...

— Quase... — Cochichou.

Guardou a foto novamente no baú que, tirando aqueles pedaços de memória de William, só tinha algumas roupas velhas.

Duas semanas se passaram, Sunset Street estava fazendo jus ao seu nome, um clima ensolarado tomou conta do bairro.

— Finalmente o calor chegou!

— Pior que gosto de frio — Yan confessou para Astrid.

— Também, não é você que vive com essa touca? Acho que te vi muitas poucas vezes sem ela.

— Nem eu lembro quando tirei — Riu.
— Acho que uma vez quando papai nos levou para a praia, você devia ter uns nove anos. E quis ficar sentado na areia junto com o Tommy.

— É...

Milk bebericava um copo com suco de uva perto do armário da cozinha. Estava bem mais tranquilo do o habitual.

— Cara, estou te achando meio triste há um tempo.

— Eu? — Tommy se assustou quando falou com ele.

— Quem mais está aqui na cozinha?

— Uau, como você é engraçado.

— Não quis ser engraçado, só é óbvio, e você ainda não respondeu minha pergunta.

— Estou bem, só estava pensando em algumas coisas.

— Então você não tem tirado esses pensamentos da cabeça, né?

Tommy ignorou a fala do irmão e foi para a sala de estar.

— E se fossemos de novo para o Clube dos Corações Solitários?

Os filhos do Mr. HendersonOnde histórias criam vida. Descubra agora