Outras semelhanças

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Apesar de todos que moravam no sobrado estivessem felizes, algo ali causava curiosidade em alguns. Milk não conseguia parar naquele nervosismo de Rolf, Tommy sentia uma sensação estranha quando via Yan e Julian juntos.

Em uma tarde ensolarada, os irmãos estavam devorando um lanche que sempre faziam no horário.

— Olha, eu estou tão cansada — Disse Beth, que não ousava em ficar de pé. — Tive que levar um monte de sacolas de lixo para os coletores, pior de tudo que precisei correr um bocado.

— Acontecia muito quando eu e William morávamos sozinhos em um apartamento, não se preocupe — Rolf riu — É normal.

— Você morou com o nosso pai por muito tempo? — Ela continuou.

— Sim, acho que nunca contei a história por completo para vocês, né? E nem ele...

— Não, realmente não sabíamos disso.

— Eu tinha 18 anos quando saí de casa, estava sem dinheiro, sem nada. Minha mãe tinha morrido no ano anterior, já o meu pai estava gastando todo o dinheiro com bebidas. Simplesmente estava em um grande problema.

— Então... foi aí que William apareceu?

— Ele estava alugando um apartamento nessa época, foi então que me convidou para morar junto. Acho que nunca agradeci tanto por isso.

— Foi uma atitude nobre — Milk dizia enquanto abria a geladeira.

— Apenas uma das milhares de coisas maravilhosas que o pai de vocês já fez.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Claro, Milk.

— Por que você ficou assustado quando apareci para te perguntar alguma coisa no seu quarto de madrugada? Foi tipo uns dias atrás.

— Eu, nervoso?

— Não ache que sou idiota, eu bati na porta antes.

— Não foi nada.

— Certeza? — Milk parecia duvidar da afirmação.

— Sim, eu já te disse.

Rolf ficou em silêncio e depois foi para a sala de estar. Nenhum dos dois tocou mais no assunto.

— Meu Deus, quando você coloca algo na cabeça não consegue mais tirar.

— Astrid, eu só acho isso muito estranho.

— Se ele falou que não era nada, então deveria esquecer isso.

— Então tudo bem.

Mas ainda sim, ele parecia ter certeza absoluta que havia algo errado. Yan estava em seu quarto olhando para a janela, Tommy se sentou ao seu lado, mas permaneceu quieto. Na verdade, estava mais quieto nos últimos dias, talvez esperasse que o irmão o dissesse alguma coisa sobre Julian, mas isso não ocorreu.

Na noite do mesmo dia, Rolf estava inspirado em contar sobre William e decidiu que seria uma ótima ideia mostrar o álbum de fotos que sempre levava consigo.

— Olhem aqui, são nós dois no sexto ano, isso foi em 1971.

— Uau — Astrid exclamou — Há quanto tempo!

Em meio de muitas risadas e falas como “Vocês estavam tão diferentes”, Tommy decidiu mostrar algumas fotos de quando era criança também. Correu para pegá-las e voltou rapidamente para a sala.

— Esse sou eu e...

Sua voz abaixava aos poucos quando notou o que estava em suas mãos. Ele estava com uma menina.

— Parece o Yan, quer dizer... tem um sorriso bem parecido, até o rosto é igual! — Milk puxou o retrato e a observou de perto.

— Mas é claro que não sou eu!

Beth, Astrid e Rolf se aproximaram e olharam para os dois.

— Mostra uma foto do Yan mais novo!

— Acho que não tenho, devo ter perdido. Desculpe, Milk.

O coração de Tommy batia acelerado. Como podia ter cometido um erro tão bobo? Ele simplesmente não podia mostrar aquilo, sentia que havia traído o próprio irmão. O único que restou da família biológica e também o que sempre jurou proteger.

Envergonhado, virou-se para o lado e viu Yan. Seu rosto estava com uma expressão visivelmente confusa.
Os outros haviam soltado a foto e devolvido para as mãos de Tommy, que decidiu guardar todos os outros registros de volta no quarto. Ele subiu as escadas sem dizer qualquer palavra.

— Pensei que você tinha jogado essas coisas fora — O caçula se aproximou da porta.

— Me desculpa...

— É uma péssima lembrança para mim, você sabe disso...

— Eu me esqueci completamente que era...

— Aquela menina não importa mais.
Se olharam atentamente até Yan decidir falar de novo.

— Por favor, jogue fora ou sei lá... nunca mais mostre isso para ninguém.

O irmão assentiu com a cabeça e tentou abraçá-lo, mas não conseguiu fazer isso. O caçula desceu para a sala de estar novamente em silêncio.
Tommy nunca se culpou tanto por um erro.

Os filhos do Mr. HendersonOnde histórias criam vida. Descubra agora