Desistência

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Os outros dias foram marcados pela quietude entre Yan e Tommy, coisa que preocupou os outros irmãos. Os dois já estavam distantes, mas depois do incidente, tudo pareceu piorar.

Duas fotos que precisavam permanecer como segredo para quem elas pertencem. Coincidentemente as duas pessoas que lá mostravam tinham o sorriso parecido com o de Yan. E como um segredo que precisa ser imediatamente enterrado, transformaram-se em motivos para inquietações.

Os Henderson se preparam para outra apresentação na semana seguinte. Milk estava certo que tudo iria tão bem quanto daquela vez em que Yan proporcionou o melhor espetáculo da noite.

— Peguem as roupas para levarmos ao camarim, vamos! — Apressou os irmãos.

— Será que aquele tal de Julian vai aparecer outra vez na platéia? — Perguntou Astrid.

O caçula se sentou ao lado de Milk no carro, coisa que nunca fazia. Tommy sentia como se seu coração estivesse apertado, sentia uma mistura de culpa e tristeza.

— Boa noite, meus queridos! — Rolf disse no microfone.

Beth foi a primeira se apresentar naquela noite.

— Yan, você é o próximo a se apresentar.

— Eu sei, Tommy.

Os dois trocaram olhares por alguns segundos.

— Não queria que as coisas entre nós ficassem assim.

— Eu sei.

— Quantas vezes eu preciso pedir desculpa?

— Não quero que você se ajoelhe para mim e diga mil perdões, eu já ouvi o suficiente. Sabe o problema? Acabou me machucando sem querer, e se eles descobrirem o que aquela foto significa? Eu vou estar fudido, Tommy.

— Não diga isso — O irmão tocou em seu ombro. — ,todo mundo aqui te ama.

— Algumas pessoas tem um limite para amar.

— Mas...

— Chega, agora é sua vez de ir ao palco.

Quando Tommy saiu, Yan se viu totalmente sozinho. Começou a chorar, mas rapidamente lavou o rosto para não estragar a maquiagem de palhaço. Todos os barulhos que vinham de fora do camarim eram irrelevantes para ele.

Observou o público sutilmente para se acalmar, tentou procurar Julian Benveniste naquela multidão, mas não estava lá.

Quando Astrid desceu aos poucos após parar de se apresentar na corda bamba, eles trocaram olhares. Na mesma hora a garota percebeu que algo não estava bem.

— Yan? Está tudo bem? — Correu até o camarim.

— Eu estou ótimo.

— Tem certeza?

— Sim.

— Você e o Tommy estão muito quietos ultimamente, tem haver com aquele dia da...

Ela foi interrompida por Milk gritando palavrões por estar tão animado com o desempenho.

— Agora, para fechar com chave de ouro, temos o nosso palhacinho tão adorado!

Ao ouvir a voz de Rolf, Yan correu pra o palco, tentando evitar qualquer pergunta dos irmãos.

Chegou ao palco e fez o de sempre, apesar de transmitir sua tristeza para a platéia. Era notável para qualquer um que seu sorriso estava ausente naquele momento.

— Ele foi incrível de novo, vocês viram! — Proferiu o apresentador, agitado.

O caçula correu de volta para os irmãos e se aproximou de Tommy para cochichar:

— Diga para eles que estarei fora.

— O quê?

— É sério — Se aproximou ainda mais — Pode ficar no meu lugar, eu sei que você é bom.

— MEU DEUS! — Milk gritou quando estavam sozinhos na rua, após todos deixarem os arredores do circo.

Yan continuou caminhando, sem se importar com o que pensavam da sua decisão.

— Todo mundo adora você ali no centro, é o seu destino, cara.

Ele olhou para trás e deu de ombros.

— Eu só quero saber o porquê disso, dessa sua decisão...

— Sabe o motivo? — Virou para trás — Eu não sinto mais prazer nisso. Estava pensando em fazer isso há um tempo. Eu cansei. Pronto, expliquei, ficou satisfeito?

Ao voltarem para casa, Yan correu para o quarto e dobrou as roupas que usava para se apresentar. Ouviu os passos de Tommy se aproximarem da porta.

— Depois experimenta e vê se serve em você, mas acho que vai dar certo, fica largo em mim.

Não obteve nenhuma resposta, os dois apenas se encararam.

— Você não quer dizer nada?

— Eu estou preocupado com você.

— Está tudo bem, Tommy.

— Não é o que parece... — Disse olhando fixamente para os olhos do irmão — Não queria estar distante de você.

— Eu te perdoei sobre aquilo.

— Mas mesmo assim, algo parece errado. Estão acontecendo muitas coisas estranhas ultimamente por aqui.

— Eu sei — Yan disse baixinho, enquanto entregava os trajes para Tommy.

— Cara... eu já disse uma coisa para você?

— O quê?

— Eu te amo, muito mesmo. Se precisar de mim, sempre estarei aqui.

Abriu lentamente os braços, esperando que Yan percebesse que queria um abraço. Mas o caçula apenas o observou e desceu as escadas para jantar.

— O que você vai fazer a partir de agora? — Milk perguntou.

— Talvez use o tempo livre para fazer os trabalhos da escola, ou quem sabe procurar um novo talento.

Astrid comia ao lado de Yan, percebendo como estava constrangido com a situação, tocou em sua mão e deu um sorriso sutil.

— Vai ficar tudo bem, é só questão de tempo. — Cochichou em seu ouvido.

Os filhos do Mr. HendersonOnde histórias criam vida. Descubra agora