O (pseudo)diário de William Henderson

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O primeiro registro era de 34 anos atrás.

Sexta-feira, 27 de junho de 1980

Finalmente irei começar a anotar aqui.

Minha intenção é fazer um (pseudo)diário, e o motivo desse “pseudo” no nome é simplesmente por provavelmente não conseguir anotar todo dia.

Enfim, meu nome é William Henderson, fiz 20 anos há dois dias. Meu amigo Rolf Koch me convidou para uma festa que teria na casa dele, e só queria escrever aqui: conheci uma garota legal.

O nome dela é Rosamund, mas preferi chamá-la de Rosie, é simplesmente linda. Loira com uns olhos castanhos, sem contar aquele sorriso perfeito (sempre gostei de pessoas com covinhas!). Conversei com a moça por poucas horas e logo percebi que tínhamos uma coisa em comum: trabalhar em circo!

Sempre gostei da arte circense, uma vez mamãe me levou para ver uma apresentação quando criança e nunca mais tirei isso da cabeça.

Acho que encontrei minha futura esposa!

— Rosie e papai chegaram a se casar? — Milk olhou para Rolf.

— Eu já disse, continue a ler!

Fazendo jus ao nome dado por William, a outra anotação foi quatro meses depois.

Quarta-feira, 1 de outubro de 1980

Me lembrei agora desse diário, meu Deus!

Eu e Rosamund namoramos, e finalmente moramos juntos. Rolf também está aqui por conta de problemas na família. Nos mudamos para um sobrado. Não é gigantesco, mas dá para sobreviver. Rosie vive falando de ter filhos, e confesso que também estou animado com isso.

magina ter várias crianças correndo pelos corredores? Fico em êxtase só de pensar! Sobre o circo: comecei a treinar malabarismo em casa, larguei o emprego em um marcadinho de bairro, agora estou fazendo três apresentações por semana em um circo do bairro, que é gerenciado por um velhinho meio ranzinza.

P.S: Quero ficar noivo de Rosie até o final do ano.

Enquanto Milk ditava os escritos do pai, todos os irmãos pareciam querer mais. Estavam conhecendo uma parte da vida de William que ele nunca quis contar.

Domingo, 5 de abril de 1981

Estou de volta para finalmente contar o que aconteceu durante esse período que não escrevi nada nesse diário. Infelizmente tenho mais notícias ruins... tenho uma carreira até que bem-sucedida no circo da cidade, mas o meu maior sonho não foi realizado: ter filhos. Rosie não consegue engravidar de jeito nenhum, nós já tentamos 3 vezes. Simplesmente não consigo entender.

OBS: Ela vai passar no ginecologista na semana que vem. Caso eu lembre, direi o que ocorreu.

Terça-feira, 14 de abril de 1981

Estou escrevendo isso nove dias depois da anotação anterior? Uau, até eu estou surpreso!

Bem, é meio desnecessário dizer uma coisa engraçada quando estou passando por um momento tão difícil...

O médico disse que Rosie é infértil, simples assim. E pior de tudo é saber que não há cirurgia que resolva, estou arrasado, e ela está pior ainda.

Pedi a opinião dela sobre uma possível adoção, e respondeu:

— Não é a mesma coisa que estar grávida, mas no último caso... poderia ser.

— Qual era a razão de Rosie ser infértil? — Questionou Astrid.

— Não me lembro ao certo, mas tenho uma memória vaga de William dizendo sobre Trompas de Falópio, ela tinha algum problema nessa região.

— Espere aí — Milk releu os escritos do pai e depois fitou Rolf — Eu fui o primeiro a ser adotado aqui, então como nunca conheci Rosie?

Não houve resposta, os irmãos se encararam pensando em várias possibilidades de respostas. Foi então que Milk proferiu a próxima página.

Domingo, 16 de agosto de 1981

Não sei o que pensar, nem ao menos o que fazer.

Rosie entrou em uma depressão terrível nos últimos meses, a notícia sobre infertilidade a deixou sem rumo. Mesmo assim, ela ainda tentava demonstrar um pouco de felicidade, até fez uma festa na nossa casa.

Mary Lansquenet, minha ex-namorada, estava lá, além de vários amigos Mesmo depois de terminamos, mantemos uma relação amigável. Foi divertido demais.

Mas minha noiva não suportou tudo isso, é...

Rosamund foi encontrada morta na nossa casa, qual a causa? Suicídio. Havia um potinho, provavelmente de remédios, vazio. Nunca havia visto aquilo, talvez ela escondesse na bolsa, eu não sei...

Mas estou tão assustado, sem saber o que fazer a partir de agora. Me sinto culpado por não estar ali na hora, e Rolf provavelmente se sente assim também, nós dois estávamos fora de casa.

Perdi meus dois maiores sonhos: casar com minha mulher e ter filhos. Preciso de um tempo para descansar e pensar como irei seguir sem ela...

— Ai, meu Deus... — Astrid sussurou baixinho — Como ele nunca me contou?

— Só eu sabia, nunca conseguiu contar a outra pessoa.

— É só que... eu vivia contando para papai que minha mãe biológica também se suicidou.

Tommy e Yan, que estavam sentados na cama, arregalaram os olhos e seus olhos expressavam surpresa.

— Você já me contou isso algumas vezes... — Beth falou — Meus pais biológicos morreram em um acidente de carro.

Novamente, o silêncio predominou no quarto. Milk folheou o diário, mas não leu nada, apenas percebeu que haviam várias páginas rasgadas antes do relato da morte de Rosie.

— Ele deve ter escrito algo, mas se arrependeu logo depois.

— Também acredito nisso — Rolf observou o detalhe inusitado — Enfim, chega de ler o que está escrito, o que acham de comer o café da tarde?

Os filhos do Mr. HendersonOnde histórias criam vida. Descubra agora