Milk não conversou com Yan durante alguns dias. Rolf nada quis dizer, pois entendia que se o garoto queria fazer outra coisa, a decisão era dele.
Mary Lansquenet foi convidada para um café da tarde naquela semana. Sentados na mesa da cozinha, a senhora tentava conversar com os irmãos.
— Como estão indo as coisas no circo?
— Ah, bem! — Beth respondeu.
— Ainda batem muitas palmas para o Yan?
— Ele não participa mais das atividades lá.
— Nossa, mas... por quê?
— Falou que desistiu de tentar seguir algo assim.
A mulher observou o garoto no canto da mesa, que sentava novamente ao lado de Astrid.
— Acho que você ainda vai se arrepender disso — Comentou o irmão mais velho.
— Não, eu não vou — Yan deixou a colher que segurava na mesa — Estou convencido que fiz o certo.
— O nosso pai via muito potencial em você.
— Bem, isso não é a questão. Imagina fazer alguma coisa só por causa das pessoas te dizendo que deve seguir aquilo, que graça tem? — Sorriu enquanto olhava para os lados — Pode até ser verdade, mas não preciso seguir em frente se não gosto.
— Tudo bem, mas...
— Ricky, você deveria parar de arrumar encrenca — Tommy apertou seu braço.
Mary Lansquenet se levantou da mesa e pegou um pacote de biscoitos em sua bolsa.— Fiz para vocês, espero que gostem!
Yan se apressou para comer e colocou um deles na boca.— Ah, muito obrigado!
A senhora sorriu para o garoto e voltou a se sentar. O resto da família continuou conversando sem citar a vontade Milk em criar uma briga.
Naquela tarde, a casa se tornou mais silenciosa. Astrid estava sentada na calçada, observando os ciclistas passando por Sunset Street.
— Ei, Yan, para onde está indo?
— Eu vou vagar pelo parque aqui da cidade, estou entediado.
Ela sorriu para o irmão enquanto deixava uma borboleta pousar em seu braço. O caçula caminhava pelas ruas pensando nas coisas que tinha medo, como o seu futuro. Havia acabado de desistir do que todos diziam ser seu grande talento, mas tinha a sensação que algo estava errado. Para falar a verdade, ele sentia que um punhado de coisas em sua vida precisavam ser corrigidas.
Ao chegar no parque, decidiu comprar um sorvete de morango para acabar com a fome. Alguns minutos depois, sem rumo, deitou-se na grama, contemplando o céu:
— E aí? — Alguém sussurrou em seu ouvido.
— Porra! — Ele pulou, assustado, e continuou: — Qual é o seu problema?
Quem mais poderia ser? Julian Benveniste!Quando reconheceu o garoto, Yan congelou enquanto o encarava. Deu um sorriso bobo:
— Ah, é você.
— Que coincidência, sempre acabamos nos encontrando de alguma forma.
— Então... você está todo de azul?
— Estava esperando que notasse — Ele riu — Lembrei do dia que nos conhecemos, você estava todo de amarelo... então quando planejei sair para passear, pensei em usar minha cor favorita também.— Sabe o mais engraçado? Amarelo não é minha cor favorita, eu prefiro vermelho.
— Uau.
— E o que está fazendo aqui? Você não mora em Cloud Land?
— Sim, mas estou na casa do Eddie, o baixista da Spectrum.
— Vão fazer mais algum show aqui na região?
— Ainda não sei, mas iremos fazer alguns ensaios na garagem dele.
— Parece legal, eu poderia ir?
— Claro, inclusive, queria te ver no circo de novo, foi divertido.
— Eu não faço mais nada lá, decidi abandonar as atividades.
— Por que você fez isso?
— Estava cansado de tudo que envolvia circo, acho que essa carreira não é para mim. Mas bem que você poderia ver os meus irmãos.
— Talvez ser um palhaço não seja o seu sonho, mas você canta muito bem. Lembro até hoje quando você cantou Doctor Robert no Clube, aquilo foi incrível!
— Você acha que eu teria futuro na música?
— Se eu acho? Tenho é certeza!
— Então eu irei com você para esse ensaio. Vou me esforçar o suficiente para surpreender James e Eddie!
— Eu topo, além de que poderia me ajudar a compor a letra de Smithereens, confesso que fiquei com bloqueio criativo. Me encontre aqui na terça-feira.
Yan e Julian sorriram um para o outro, com as mãos quase se tocando. O calor que estava fazendo no momento fez o menino suar por estar com uma jaqueta preta.
— Eu preciso ir agora, tchau!
O caçula correu rapidamente em busca do sobrado onde morava, se esforçando para não chegar ao anoitecer. Astrid já havia saído da calçada, então apenas abriu a porta e se encontrou com Milk.
— Parece que o passeio demorou, né?
— Ricky, hoje é sábado, meu Deus!
— Sim, mas trate de avisar antes, o Rolf estava quase pensando que havia acontecido algo com você.
— Tudo bem... desculpa.
Yan ficou visivelmente surpreso pelo irmão mais velho ter sido minimamente carinhoso com ele naquele momento. Se fosse outro dia, provavelmente já estaria gritando.
Novamente, não contou para Tommy sobre o encontro com Julian, mas ainda sentia falta da proximidade que os dois tinham antigamente.Deitado na cama após o jantar, uma ideia veio em sua cabeça:
E se Smithereens fosse feita para o seu irmão biológico?
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Os filhos do Mr. Henderson
Teen FictionWilliam Henderson, um dono de circo famoso na cidade, morre de uma forma um tanto inesperada. Agora, seus cinco filhos adotivos e um amigo de infância são obrigados a viver com o sentimento do luto. Dois anos anos depois, eles terão de descobrir seg...