Paulo

105 27 173
                                        

O sol já raiava no horizonte. Estava uma linda manhã outonal. Uma leve neblina envolvia a cidade, perfurada pelos raios solares.
Na cidade já palpitava o movimento de automóveis e transeuntes pelas ruas.
Paulo já se tinha levantado. Estava a tomar o seu café matinal, acompanhado pelas suas torradas. Estava sentado á mesa de sua cozinha. Morava sozinho naquele apartamento, pois tinha-se divorciado á algumas semanas atrás. Tinha acabado um casamento de 18 anos com sua parceira, Maria, pois tinham decidido por carreiras em diferentes cidades. Sua ex-mulher vivia agora num apartamento, outrora dos dois, na cidade onde eles foram felizes durante muito tempo. Tinham em conjunto uma filha de dezasseis anos, que ficara a morar com a mãe.
A solidão do momento não o afetava, pois era uma pessoa que procurava sempre seguir o sucesso e a ambição na sua vida, e aquele momento era o culminar disso mesmo. Era sempre dedicado ao trabalho. Mais ao trabalho que à família.


Subitamente o silêncio do momento foi dilacerado pelo som de um celular a tocar. Paulo pegou nele, era sua ex-esposa. "O que ela quer a uma hora destas?" - pensou ele - "Terá acontecido algo de grave? Ela já não ligava, desde que nos separámos."
Atendeu a ligação.
Do outro lado, ouviu uma voz trémula, fraca que lhe disse secamente:
- A nossa filha desapareceu esta noite. Não sei onde ela está. Sumiu de casa.
Um arrepio gélido subiu pela espinha de Paulo e vibrou no cérebro. Aquilo era uma das notícias que qualquer pai menos esperava ouvir. No caso de sua filha, ainda pior. Ela estava a atravessar um mau momento. Tinha entrado em depressão desde que eles se tinham separado. Deambulava cabisbaixa e triste pela casa. Isolava-se frequentemente no quarto. Todo o seu comportamento estava alterado. Era uma criança alegre. Mas com o alcançar da adolescência, o divórcio estava a afetá-la imenso.
Paulo tentava sair do estado de paralisia que se encontrava depois de atender aquela ligação, estava a encontrar forma de compreender e assimilar aquilo. Tentou mexer os lábios, perguntar porquê, onde, como?, mas nada saía.


Então, finalmente, conseguiu perguntar, mas com uma voz fraca e trémula:
- Então, acalma-te e conta-me o que aconteceu, por favor.
Do outro lado, ouviu-se ela a inspirar fundo e depois começou com uma voz minimamente restaurada:
- Ontem á noite, depois de jantarmos, a Jéssica foi para o seu quarto. Antes de me deitar, por volta das 23 h, passei no quarto dela, abracei-a, desejei-lhe uma boa noite e fui-me deitar. Esta manhã, chamei por ela, fui ao seu quarto, e qual não é o meu espanto ela já não estava lá. Chamei por ela e nada. Liguei para o celular e este estava pousado na mesa de seu quarto a carregar. Não dei por ela sair durante a noite e se saiu, não levou absolutamente nada consigo. Pressinto o pior, Paulo.
- Nem penses nisso. Ela é forte. Acho que não cometeria nenhuma loucura. Embora ultimamente andava deprimida por nossa culpa, mas acho que não chegaria tão longe.
- Espero bem que não. Estou a ir para a polícia, para informar do desaparecimento dela e pedir ajuda.
- Ok, vou tentar ir para aí o mais depressa que puder. Vai tudo correr bem. Abraço.
- Ok, obrigado. Beijos.


Paulo pousou o celular. Ficou pensativo. Nada na sua vida o tinha preparado para aquele momento. O que fazer. Como reagir. Aquela possível perda poderia significar um rude golpe na sua vida.
Ligou para o trabalho e explicou toda aquela nova situação ao seu chefe. Este compreendeu a situação e disse para Paulo tirar uns dias de licença até resolver a situação.
Ele foi ao quarto, pegou na mala de viagem, atirou para dentro desta alguma roupa que encontrou, fechou-a, pegou nela e nas chaves do carro e pôs-se a caminho da sua antiga cidade e morada.
Pelo caminho foi pensando em toda a situação. Ia tentando ter um pensamento positivo e que iriam encontrar Jéssica brevemente, pois talvez fosse uma brincadeira desta ou algo assim para tentar reconciliar os pais.


Mal sabia Paulo que iria a caminho da maior aventura que alguma vez poderia ter sonhado.

O Mundo dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora