Adormecidos

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Entraram todos num edifício de três andares. O andar térreo era o consultório de David. A sua família como era abastada, tinha-o ajudado a abrir aquele consultório, assim como todo o prédio lhes pertencia.

 
David morava no último andar.
Subiram as escadas que se encontravam ao fundo de uma sala de espera. No primeiro andar, onde toda a magia ia acontecer, existiam vários quartos, mobilados e com equipamentos médicos. Era ali que David e sua equipa acompanhava os seus pacientes nas experiências de outrora.

 
Os quartos tinham uma comodidade hospitaleira. A única diferença no ambiente era uma quase ausência de luz.
Mesmo os corredores eram pouco iluminados, propositadamente para proporcionar um ambiente propício ao sono.
David dirigiu-se a um dos quartos. Entrou.
Acendeu uma luz ténue. Era quase uma penumbra. Mas era o suficiente para enxergar todo o seu interior.

 
Duas camas de solteiro estavam ao centro do quarto, encostadas á parede. Próximo a estas, existiam duas cadeiras. Ao fundo, uma porta para uma casa de banho. Na parede da entrada uma pequena cómoda com dois jarros de flores artificiais.
- Então. Pode ser neste. – disse David. - Podem-se acomodar nas cadeiras que se encontram próximas das camas.

 
Entretanto, saiu, desceu ao consultório e trouxe consigo vários instrumentos com ele.
Paulo tinha-se sentado na cadeira, enquanto Patrícia tinha-se acomodado na cama. Estava já deitada confortavelmente quando David entra de novo no quarto. Miguel continuava de pé.
David pousou os instrumentos na cómoda, saiu de novo e volta com um carrinho com um equipamento. Um monitor com fios a jorrar por todo o lado.
Colocou o carrinho entre as duas camas.

 
Começou a esticar fios para os dois lados.
Patrícia começava a demostrar algum nervosismo naquele momento. Começava a remexer o seu corpo na cama. Esta estava a parecer desconfortável para o momento.
Paulo e Miguel iam observando os movimentos de David.

 
- Agora, vou hipnotizar-vos, para entrarem num transe antes de entrarem em sono profundo. O procedimento é simples. Vou falar convosco, e em certo momento vou dar palavras de ordem que, por indução vocês cumprirão.  Agora é o momento de desistirem, se não estiverem de acordo com a experiência.
Paulo levantou-se e deitou-se também na cama.

 
- A cama é bastante confortável! – disse ele. – Eu já estou pronto.
Miguel sentou-se numa cadeira.
- Eu ficarei aqui para o caso de ser necessária uma ajuda extra.
- Então, não percamos mais tempo e vamos começar. – disse David.
Ele conectou os vários elétrodos e fios às cabeças de Paulo e Patrícia.
Vários sinais, números e luzes iam aparecendo no monitor ao lado das camas.
Depois começou calmamente a falar com Patrícia, no final ordena-lhe que durma profundamente.

 
Fez o mesmo a Paulo. Diferente das experiências anteriores, ele tentou ir mais além. Durante o monólogo dele, incutiu-lhes a ideia de que, durante o sono, tentassem penetrar no sonho deles. De viajarem e deixarem-se levar por aquele mundo.
Ambos entraram em sono profundo.
Nos primeiros minutos pouco se alterou no monitor.
De repente começou um alerta sonoro, os valores apresentados começam a alterar-se substancialmente.

 
- É normal isto acontecer? – perguntou Miguel.
- Nas experiências anteriores os valores subiam a este nível. Até agora nada de diferente. Embora estamos naquele limbo entre o correr bem e o correr mal.
Passado algum tempo, outro alerta sonoro foi emitido. Este já perturbou David. O valor das pulsações, assim como as sístoles e diástoles deles tinham descido a mínimos históricos. Olhava com algum espanto para o monitor.

 
Apressou-se a pegar numa seringa, que tinha na cómoda. Miguel levantou-se e quando ele já se preparava para injetar, ele tocou-lhe no braço e afirmou:
- Qual é o limite mínimo para evitar o pior?
- Os valores podem ir a zero que poderá sempre haver chances de os reanimar.
- Então, vamos fazer o seguinte. Ficaremos alerta até os valores se aproximarem do zero, e, aí, faremos de tudo o que for preciso para os reanimar. Mas, eles quereriam que levasse a sua teoria até ao limite. E poderás ter aqui a tua oportunidade. Só precisamos de ter fé. – disse Miguel, de forma serena enquanto volta de novo para a cadeira e sentou-se.

 
David acenou com a cabeça afirmativamente. Estava incomodado com os valores do monitor, mas acede ao pedido de Miguel. Ele tinha razão, para conseguir chegar longe, não poderia hesitar em todos os momentos. Tinha de ter mais confiança no processo.
Pousou a seringa ao lado do monitor e trouxe um desfibrilhador portátil para o carrinho.
Desligou os alarmes sonoros e sentou-se ao lado de Miguel, numa das cadeiras.
Os valores alternavam numa montanha-russa. Ora escalavam bastante, ora desciam para valores preocupantes. David suava, a preocupação pelos dois era óbvia. Miguel permanecia sereno, sentado na cadeira, observando alternadamente os dois e o monitor.
- Vai ser uma noite agitada e inesquecível – afirmou David.

 
- Sim. Espero que no final tudo dê certo. Tenho quase certeza de que a minha teoria esteja certa. Mas tenho muito receio de que algo dê errado. Nunca me perdoaria. Tenho medo de os perder. Estamos a falar de vidas humanas.
- Sim. Mas tudo irá dar certo. Precisas de te acalmar e ter esperança.
- Ok.

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