Patrícia e Paulo estavam maravilhados com aquele mundo. Ali tudo era diferente do sítio de onde vinham. Veludia começou a caminhar toda satisfeita á sua frente. Olhou para trás, e vendo os dois petrificados a olhar para todo o lado, acenou para eles a seguirem.
Lá existia muita luz, cores vibrantes, parecia um lugar encantado. Estavam no início de um vale verdejante, com árvores e arbustos lidíssimos por todo o lado. Vários animais passeavam pelo vale. O céu era de um azul cristalino. Notavam-se dois sóis, um em cada linha do horizonte, que tornavam aquele ambiente ainda mais fantasioso. Viam-se várias borboletas de inúmeras cores pelo ar. Ao fundo do vale, numa encosta um punhado de pessoas andavam apressadamente por ali.
Os três começaram a percorrer o vale. Os animais aproximavam-se deles com alguma curiosidade. Um esquilo acercou-se deles, trepou pelas pernas de Paulo e foi-se alojar no seu ombro. Várias borboletas rodeavam Patrícia.
Um corço aproxima-se de Veludia e esta murmura-lhe algo ao ouvido. Ele foi embora.
Paulo ouviu um olá na sua cabeça, olhou para o esquilo que continua imóvel no seu ombro a olhar fixamente para ele. Paulo ficou intrigado e perguntou dirigindo-se a Veludia:
- Acho que ouvi o esquilo a falar comigo. Ou, então, estou a enlouquecer.
- Não. Tu ouviste bem. É um dos efeitos de estares aqui neste sítio. Tu compreendes os animais. Aqui conseguimos comunicar todos uns com outros. Ele está a gostar de ti. Quer ser teu amigo. Assim como as borboletas estão fascinadas com a tua beleza, Patrícia. Elas dizem que tens uns cabelos pretos lindos e os teus olhos verdes são fascinantes.
Paulo fez uma pequena festa na cabeça do esquilo, este, em resposta ao mimo, encostou todo o seu corpo á cara de Paulo. Depois desceu de novo e subiu apressadamente a uma árvore, onde ficou a observar, fixamente, os três.
Os três prosseguiram o seu caminho. Patrícia começou a notar agora todo o burburinho que os animais faziam á sua passagem. Começou a identificar todas aquelas vozes e parte da sua proveniência. Aquilo tudo estava a ser estranho, mas ao mesmo tempo maravilhoso demais para eles.
Subiram vagarosamente a pequena encosta. Entretanto Paulo, intrigado perguntou:
- Vocês aqui só têm dia? Não existe noite, certo? Como têm dois sóis, um em cada lado do horizonte, deve ser sempre dia.
- Sim, aqui não temos noite. Nem conseguimos ver as estrelas como vocês vêm no vosso planeta. Acho que é uma das melhores coisas do vosso universo. Apreciar as estrelas na penumbra da noite. Venham, estamos quase a chegar.
Ao alcançarem o cimo da colina, Paulo e Patrícia ficaram maravilhados com a visão á sua frente. Ali á sua frente estava um palácio de vidro ou cristal. Parecia uma ilusão. Era imponente e translúcido. Algo assim tão fantástico, só naquele mundo.
Entraram naquele edifício. Era a única edificação presente naquele sítio, mas era algo magnífico.
Lá dentro, algumas pessoas andavam freneticamente de um lado para outro.
- Aqui é onde se coordena e organiza tudo. Os obreiros vêm aqui ter com a nossa regente, relatar algo ou assumir novas tarefas.
Veludia fez uma pausa e olhou todo o ambiente.
- Lá está ela. Vamos.
Veludia estava a andar em direção a uma mulher ao fundo daquele salão enorme. As pessoas vinham ter com ela e iam embora de novo para novos afazeres. Todos ali pareciam divinais. As suas feições eram perfeitas demais. Vestiam túnicas, vestidos ou algo simples. Normalmente vestiam cores claras e vibrantes. Mas a mulher era algo superior. A sua beleza era óbvia. Com cabelos loiros longos, olhos azuis cristalinos. Usava um vestido verde-claro divinal. Emanava calma, sabedoria, imponência.
- Olá, Sofia. O Paulo e a Patrícia já estão aqui.
- Olá. Sejam bem-vindos aqui. Espero que estejam a gostar.
Patrícia abanou a cabeça afirmativamente:
- Olá, estou maravilhada com o vosso mundo. É algo de alucinante e fantástico. Parece um paraíso.
- Olá – foi o que saiu da boca de Paulo. Este estava sem palavras perante aquilo tudo.
- Se és a regente deste mundo sabes o que viemos aqui fazer. – disse Patrícia.
- Sim, sou a coordenadora deste mundo e de todos os outros universos. Além de que possuo todo o conhecimento e sabedoria possíveis. Sei tudo. – Sofia fez uma pausa e murmurou algo por uns segundos com uma mulher que apareceu ao seu lado. - Então sem mais demoras, vamos ao vosso assunto. Os vossos entes queridos atravessaram a fronteira e entraram no Mundo dos Outros. Eu, como não tenho muito poder sobre aquele sítio, não vos consigo ajudar muito. Mas podemos tentar.
- Mas, como é que eles conseguiram atravessar a parede?
- A condição deles era a normal para tal acontecer. Eles como se sentiam deprimidos e dececionados com eles mesmos e o mundo á volta deles, entraram numa catarse quase total. Daí ao imaginarem e sonharem com um mundo que lhes parecesse melhor, forçaram a barreira entre os mundos e atravessaram-na. No sítio para onde foram estão a viver uma vida que imaginaram e sempre desejaram. O único problema, é que a estão a viver consecutivamente. Estão num ciclo interminável sempre da mesma vivência. É como uma maldição. Vivem o que mais desejam, mas estão sempre a viver a mesma coisa.
- É como Sísifo – respondeu, prontamente Patrícia – Empurrando uma pedra eternamente por uma colina acima.
- Sim, exatamente. Parte daquele mundo é assim mesmo. É um mundo maldito.
- Então se isto se assemelha ao paraíso, o mundo que falam é um inferno?
- Não propriamente ao que vocês falam no vosso mundo, de inferno. O Mundo dos Outros e o nosso foram criados ao mesmo tempo. Fomos os primeiros a ser criados. Nós, aqui, tentámos nos organizar e conseguimos chegar a este ponto. No Mundo dos Outros ou Motus, vivem como uma anarquia, sem grande organização. Embora houve alguns deles, que tentaram propor e impor organização, mas sempre em vão. Então vivem sem objetivos, rumo ou coordenação. São como barcos á deriva no mar. Como não posso coordená-los, é um mundo onde nós não temos poder. Lá tudo é possível, mas nem sempre é agradável. Temos tido muitos deles a virem para o nosso mundo e a ficarem por aqui. Além de que, além de nós, são os únicos, que conseguem atravessar as fronteiras entre universos, livremente. Embora nós não nos aventuramos, por acordo mútuo no mundo deles. Uma das únicas pessoas que ainda insiste em lá ir é a nossa querida Veludia. É dos poucos sítios que não tenho conhecimento presente. Por acordo, não controlamos aquele mundo.
- Pois! – disse Veludia envergonhada por todo aquele discurso e tentando se justificar. – Mas eles até são amistosos e agradáveis.
Paulo e Patrícia escutavam atentamente Sofia.
- Mas, então foram vocês que criaram tudo, todos os universos?
- Não. Essa é uma das lacunas na nossa sabedoria. Fomos os primeiros a ser criados. Mas quem nos criou é uma incógnita para nós mesmos. Deve ter sido algo superior a todos nós, pois nada surge do nada. Tudo tem um ponto de criação ou transformação. Mas essa é uma pergunta para a qual não tenho resposta. Terá sido alguma entidade divinal, algum Deus, como vocês dizem. Alguém terá estalados os dedos e criou o início – Sofia fez uma pausa. - Mas alguns dos outros universos fomos nós que os criámos, ou melhor, grande parte deles foram criados por um evento remoto da nossa história.
- Então, agora o mais importante. Como poderemos fazer para salvar as pessoas e levá-las de volta a casa? – perguntou Paulo.
- Posso ir lá com vocês e tentar ajudar nisso – respondeu prontamente Veludia, sorrindo para eles – Eu conheço bem aquele lugar. Pode ser Sofia?
- Sim. Por mim, pode ser. Não vejo nenhum entrave.
- Ok, seria muito bom. – respondeu Patrícia, com um sorriso.
- Adeus. Boa sorte. – disse Sofia.
- Adeus. – responderam os três em uníssono.

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O Mundo dos Sonhos
FantasyDe súbito, várias pessoas desaparecem, misteriosamente, durante a noite. Paulo e Patrícia, juntam-se ao investigador responsável, procurando por uma solução para o caso. O paradeiro dos desaparecidos envolve uma fantástica aventura que os dois irão...