- Olá, Paulo. Olá, Patrícia – disse aquele ser, com um sorriso contagiante. Até a sua voz era calma e angelical. Parecia o som de uma sereia a hipnotizar os marinheiros.
Paulo e Patrícia ficaram surpresos e confusos por ela saber o seu nome. De tão espantados que estavam, nem conseguiram responder a ela. Então ela continuou:
- O meu nome é Veludia. Sou, digamos, que a guia deste mundo. Sou também a tecedeira das fronteiras e ajudo os perdidos a encontrar o caminho.
- Olá – respondeu Paulo, ainda meio surpreso com ela. – Já agora que mundo é este onde nós estamos?
- Estão em Aeternum. Digamos que é o que chamam de mundo dos sonhos, juntamente com outro mundo, Motus. Mas é muito mais do que isso. É um mundo mental e espiritual onde se controla e organiza todos os universos. No mundo de Motus é que se concentra grande parte dos sonhos mais profundos e desejos. Nós controlamos os sonhos mais superficiais, como os que estavam a ter, antes de chegarem aqui.
- Mas, este mundo é só isto assim? – perguntou Patrícia abrindo os braços á sua volta.
- Não! Não. Nada disto. Isto é como se fosse uma sala de espera. É um limbo entre os dois mundos. É também uma barreira criada entre os dois mundos. O vosso e o nosso. O meu mundo está para além deste sítio. Eu só vim aqui para vos guiar. Vieram ter aqui porque procuram por respostas. Tu procuras pela tua filha e ela procura pela irmã.
- Sim! Mas como sabes tudo isso de nós? – respondeu Paulo, cada vez mais intrigado.
Patrícia olhava para Veludia com um ar atónico, meio assustado.
Enquanto eles falavam ali parados, a penumbra próxima deles foi desaparecendo, dando lugar a um vazio, mas desta vez com mais luminosidade.
- Como guia, tenho de conhecer todos os seres que entram aqui. Além de que, no nosso mundo sabemos toda a história de quem entra aqui. O nosso mundo vai para lá da vossa compreensão.
- Já começo a apreciar esse teu mundo. Deve ser algo de extraordinário e fantástico. - Afirmou Patrícia, começando a relaxar o corpo.
- Por acaso não sabes onde estão, então a minha filha e a irmã dela? Estão no teu mundo?
- Não, infelizmente não. Foram para o Motus. O Mundo dos Outros.
- Motus, Mundo dos Outros? – inquiriu Paulo, cada vez mais curioso. Tudo aquilo estava a assumir proporções acima da sua compreensão. E conhecer aqueles mundos novos estava a complicar a sua mente.
- Sim, existe outro mundo quase paralelo ao nosso, mas, com algumas diferenças. Nós chamamos Mundo dos Outros ou Motus. Nesse mundo, existe-se de forma diferente. A tua irmã, e a tua filha foram para lá. Como vou explicar isto de forma que vocês compreenderem? – Veludia fez uma pausa. Deu uma risada. – Já sei. Nós chamamos o vosso mundo de Mundo dos Errantes. Existem vários universos ou mundos. Vocês é que não os vêm, pois há uma barreira, tipo uma teia que os separa. Essa teia é produzida por mim. Uma das minhas funções é produzir e preservar essa teia entre mundos. De vez em quando tal parede fica demasiado fraca e os mundos tornam-se ténues entre eles, e então, as pessoas conseguem atravessar. Foi o caso de algumas pessoas do vosso mundo para Motus.
- Mas como foram parar lá e não aqui?
- Como disse os planos mentais ou sonhos são diferentes de um mundo para outro. Vocês procuram respostas, vieram para aqui. Elas procuravam uma nova vide que lhes completasse os seus desejos, foram para lá.
Paulo e Patrícia estavam demasiado confusos e surpresos com aquela informação.
- A teoria do David comparada com isto, parecia agora mais aceitável. – disse Paulo para Patrícia, com um ar de zombaria.
- Eu sempre fui aberta a mais conhecimento e sabedoria, mas isto está para além de mim. – respondeu Patrícia.
- Eu sei. Eu sei. Por alguma razão nós dizemos que o vosso mundo ainda é muito primitivo, pois vocês, a nível de compreensão e sabedoria, estão aquém de outros mundos.
- Mas existem assim tantos universos? – perguntou Paulo.
- Sim. – respondeu ela, dando outra risada. Além de que todos eles são separados pela ténue barreira que eu crio. O nosso mundo tem vários planos. Um plano dos sonhos, controlado por um dos nossos obreiros, o Marsa. Foi o plano onde vocês entraram quando adormeceram. Aí formam-se e organiza-se alguns dos sonhos dos universos, todo um plano mental. Isto onde estão agora, é um corredor entre o anterior plano e o nosso. É, um limbo entre os dois, por isso é um vazio. Aqui tudo é passagem, nada existe além de penumbra e vazio. Depois existe todo o resto do nosso mundo. Os humanos dão vários nomes ao nosso mundo. Éden, Paraíso, Céu, Mundo dos Sonhos. Aqui denominamos o nosso mundo simplesmente de Aeternum.
Veludia fez uma pausa. Encarou os dois, e sorriu, devido á expressão nas suas faces, depois de toda aquela explicação. Estes estavam com um ar de estupefação única. Aquilo era algo que mesmo vendo e ouvindo, eles não compreendiam. Ela tinha a noção disso por isso, disse-lhes:
- Chega de conversa. Venham. Maravilhem-se com o meu mundo.
E nisto começou a esbracejar freneticamente, parecia que tinha vários braços. Então, de repente, apareceu duas linhas brilhantes á frente deles que se projetavam pela penumbra afora. Ela pegou nas pontas das duas linhas e entregou-as a eles. Quando eles agarraram as linhas, foram projetados velozmente pela linha afora. Parecia que tinham entrado numa corrente veloz e seguiam a toda a velocidade por aquele túnel.
Já tinham tido aquela sensação no sonho anterior. De repente a penumbra torna-se uma luz intensa, que quase os cega. Demoraram segundos a adaptar a visão. Abrandaram ritmicamente, até pararem. Estavam em Aeternum.
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O Mundo dos Sonhos
FantasyDe súbito, várias pessoas desaparecem, misteriosamente, durante a noite. Paulo e Patrícia, juntam-se ao investigador responsável, procurando por uma solução para o caso. O paradeiro dos desaparecidos envolve uma fantástica aventura que os dois irão...