O Mundo dos Sonhos

Patricia

Patrícia morava num apartamento, no centro da cidade, junto com sua irmã mais nova, Catarina. Depois de terminar a licenciatura em Psicologia e uma pós-graduação em psicanálise, tinha conseguido alcançar o objetivo de abrir um pequeno consultório só seu, na cidade. Catarina estava a acabar a faculdade de Direito, mas estava a ter algumas dificuldades no final, pois sentia-se deprimida e sem rumo. À noite, Patrícia abraçava a irmã e tentava encorajá-la, conversando com ela. Catarina também tinha acabado uma relação com o seu namorado. Tinham brigado e não havia perspetiva de reconciliação. 

 
Numa manhã, Patrícia, enquanto se preparava para sair para o consultório, foi ao quarto de Catarina despedir-se, mas para seu espanto reparou que esta já não se encontrava lá. Vários pensamentos lhe sobressaltaram á mente. Ficou ainda mais agitada quando se apercebeu que todos os pertences de Catarina ainda estavam ali. O celular estava ali de cima da cómoda a carregar. "Ela nunca larga o celular", pensou. Um pensamento martela-lhe na cabeça, "Será que ela saiu durante a noite e cometeu alguma loucura?". "Não! Não.", pensou ela a tentar acalmar-se, "ela nunca tentaria fazer tal coisa". Tentava efusivamente afastar todos os maus pensamentos em relação ao desaparecimento da irmã, mas eles brotavam na sua mente com a força de bambus.

 
Numa questão de minutos ela ligou para todos os amigos da irmã que conhecia, mas em vão. Todos eles já não viam Catarina faz um dia ou dois. Apressou-se a abrir as redes sociais na esperança de alguma pista, de novo em vão. Ela não publicou nada nos últimos dias.
Sentou-se no sofá. Tentou-se acalmar. Respirou fundo, mas o coração palpitava tanto no seu peito que lhe impedia de se concentrar na respiração. Parecia que este iria sair pela boca a qualquer momento.

 
Após alguns minutos, conseguiu-se acalmar.
"Ela está bem!", pensou.
Ligou para a polícia a relatar o sucedido, mas, como já esperava ela, eles só iriam fazer algo nas próximas quarenta e oito horas.  Ela aceitou e agradeceu.

 
Tentou-se acalmar ainda mais e ligou para os pais para os pôr a par de toda aquela trágica situação. Tentou acalmá-los, enquanto prometeu a eles que ia procurá-la.
Passou no consultório a deixar uma mensagem na porta a desculpar-se, pois iria estar ausente por problemas pessoais.

 
Nesse dia inteiro, empregou-se em buscas infrutíferas pelo paradeiro de Catarina. Foi a todos os sítios que esta frequentava. O desalento e nervosismo era evidente na sua face e corpo ao final do dia.
Voltou, frustrada, para casa ao final da noite completamente arrasada. As buscas e o nervosismo não a deixaram comer e sentia-se fraca. Ainda tinha uma réstia de esperança de encontrar Catarina no apartamento. Tal não sucedeu.

 

Cada vez mais, aquele pensamento sobre ela ter cometido uma loucura, acercava-lhe a mente e tentava fixar-se. "Será possível que falhei completamente e não consegui salvar a minha própria irmã?", pensou ela.

 
Para um psicólogo o supremo fracasso profissional é o suicídio do paciente. Aquele final em que todo o processo foi em vão. Aquele momento em que se pensava que o paciente melhorava, mas numa reviravolta abismal, ele tira a própria vida, numa forma de protesto perante as adversidades da vida. Patrícia tinha esperança de não ser o caso, naquela situação.
Passou mais dois ou três dias numa incansável procura por pistas, sempre em vão. Ia a todos os sítios que Catarina frequentava, falou com todos os que a conhecia, mas sempre, sem nada concreto do que se passou, onde ela estava, com quem.

 
Até que, numa manhã, recebeu uma ligação. Era um investigador criminal que queria falar com ela. Combinou encontra-se na esquadra da polícia ao início da tarde desse dia.
Uma nova esperança volta a encher a mente, mas depressa desaparece. "Mas se a tivessem encontrado, ele teria dito logo?", "Será que aconteceu algo de mau?".
Mal ela sabia que aquela ligação iria ser o início de algo que iria mudar a sua vida para sempre e em tudo o que acreditava.