O investigador Miguel

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Nessa tarde, Patrícia entrou na delegacia. Vinha esperançosa. Precisava de respostas. E de preferência, positivas. Necessitava de acalmar toda aquela ânsia dos últimos dias.

 
Dirigiu-se á recepção. Lá foi informada a dirigir-se a um grupo de pessoas. A recepcionista apontou para um deles
- Fale ali com o investigador Miguel.

 
Foi então que conheceu Miguel, um investigador criminal que a encaminhou, assim como a um grupo de pessoas para uma sala. Ao entrar na sala, ela ficou surpreendida pois lá já se encontrava outro grupo de pessoas.
Naquele grupo na sala também estava Paulo, pelas mesmas razões de Patrícia.
Todos se sentaram. Miguel dirige-se à frente e começou a contar algo que deixaria todos de boca aberta. Ao seu lado estava um monitor.

 
- Muitos de vocês estarão a perguntar o que estão a fazer aqui com tanta gente, mas já vos vou meter ao corrente da situação. Posso vos garantir que todos aqui, têm um denominador em comum. Alguém próximo a vocês desapareceu durante as noites anteriores.
Ouviram-se vários murmúrios na sala, todos olhavam uns para os outros com perplexidade. Passado alguns segundos voltaram-se de novo para Miguel, esperançosos em saber mais.
- Não quero dar falsas esperanças a todos vocês, pois a situação é complicada demais. Antes demais digo-vos que os eventos dos desaparecimentos, não se concentram só nas vossas situações. Peço-vos por favor, que tudo o que irá ser contado aqui, fique por enquanto, entre estas paredes. A situação assim o exige. Neste momento os melhores investigadores do país estão aqui na sala ao lado a reunirem-se.

 
Na sala ecoa um som de espanto. Todas as pessoas murmuravam entre si. Algo de estranho se estava a passar. Queriam saber mais e onde é que isso se encaixava na sua própria história.
- Os desaparecimentos têm ocorrido desde há um par de dias atrás pelo mundo fora. Por enquanto as estatísticas apontam para poucas centenas, mas é possível que cheguem a mais. De início, pensava-se que, assim como muitos pensavam aqui, as pessoas desaparecidas tinham saído durante a noite e tentado alguma loucura, como o suicídio. Posso, neste momento vos garantir que em grande parte dos casos, as pessoas desaparecidas, nem sequer, saíram dos quartos.
Miguel fez uma pausa devido ao ruído na sala. A perplexidade, agora, era total devido às últimas palavras acabadas de proferir por ele.

 
- Foram encontrados padrões e indícios que as pessoas desaparecerem precisamente no seu leito. Vou passar imagens de algumas moradias que tinham vigilância e após a sua observação chegou-se á conclusão de que nenhum saiu de casa.
No monitor passaram algumas imagens de corredores e entradas exteriores de moradias nas noites em questão.

 
- A questão agora é mais complexa. Como é possível que, pura e simplesmente, as pessoas tenham desaparecido, a dormir no seu leito. Estamos a tentar procurar respostas para tal. Por enquanto, não encontrámos nada razoável ao ponto de justificar o desaparecimento, mas estamos a ponderar todas as hipóteses.

 
Miguel estava sereno e falava calmamente. Embora aparentava não ter mais de quarenta anos, demostrava ser um bom profissional. Como era um dos melhores investigadores nacionais naquela área, este caso tinha-lhe sido incumbido.  
- Vocês são grande parte dos casos conhecidos no nosso país. Agradecia a todos, a partir de agora a vossa maior descrição. Assim como o vosso apoio em todas as diligências que se possam efetuar a seguir.
Todos na sala, acenaram com a cabeça, afirmativamente. Continuavam petrificados com as notícias.

 
Uma ideia ocorreu na cabeça, ainda em turbilhão, de Patrícia. Ela levantou a mão. Miguel olhou para ela e acenou-lhe que falasse.
- Sou psicóloga e tenho um consultório na cidade, a minha irmã está desaparecida e se alguém precisar de desabafar, estou ao vosso dispor, gratuitamente.
A situação do desaparecimento de Catarina, trazia muita tormenta, mas falar e ajudar os outros traria algum alento de novo á sua vida. Era como uma dupla missão, ajudar na procura e reconfortar todas aquelas pessoas agora a passar por aquele tormento.
- Obrigado por isso. - afirmou Miguel – acredito que estas pessoas necessitem, neste momento, disso. Agora podem sair, e deixo-vos a promessa que tudo vamos fazer para encontrá-los.
Todos começaram a levantar-se. Um pequeno grupo deles acercaram-se de Patrícia e pediram-lhe ajuda.
Ela conversou com elas e trocaram contatos.

 
Paulo levantou-se e saiu da sala. Na saída da esquadra, dirigiu-se a uma pequena pastelaria em frente. Entrou e dirigiu-se ao balcão. Encostou-se ao balcão, pedindo uma garrafa de água. Todas aquelas revelações tinham-lhe deixado a garganta seca. Ainda tentava absorver na mente tudo aquilo. Parecia algo surreal alguém desaparecer na própria cama.

 
Entretanto, entrou Patrícia, na pastelaria. Dirigiu-se ao balcão e também pediu uma água. Paulo olhou para ela, notando a tristeza e o espanto nos seus olhos verdes. Sentia compaixão por ela, a situação era idêntica. Ela olhou para ele e pergunta-lhe:
- Também estava naquela sala?
- Sim!
- Era quem? Sua filha? Mulher?
Paulo olhou-a com tristeza, mas também em seguida com um ar de desaprovação.

 
- Filha. Mas, não era, é! - afirmou ele rapidamente.
- Desculpe.
Patrícia bebeu mais um pouco de água.
- No meu caso era a minha irmã. É a minha irmã. A parte deles terem desaparecido na cama é a que me surpreende mais. Não tem lógica. Sumiram em pleno ar, só pode.
- Tem de haver uma explicação racional para isso. Talvez seja algo simples e lógico.
- Espero que sim. Deixo aqui um cartão meu se precisar.
Paulo aceitou e agradeceu. Acabou de beber a água. Pagou, despediu-se de Patrícia e dirigiu-se á saída.

 
Saíram da pastelaria e seguiram os seus caminhos.

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