Motus

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- Estão preparados? – perguntou de forma retórica Veludia para Paulo e Patrícia. – Então vamos lá!

 
E nisto começou a gesticular até aparecer de novo dois fios brilhantes á frente deles.
Paulo e Patrícia, preparavam-se para pegar as pontas daqueles fios. "Preparados?" pensa Paulo. Esta aventura tem sido para lá da sua imaginação. Preparação para o que vinha a seguir era sempre algo inútil. Tudo aquilo era algo de extraordinário e nunca se sentiria preparado o suficiente para acompanhar tudo aquilo. A sua mente ainda estava a tentar absorver e compreender o diálogo com Sofia e todo aquele mundo. Melhor, o seu cérebro ainda estava a conjurar sobre a teoria de David e como ele estava certo, quando parecia a maior loucura. Tudo o restante a seguir a isso, estava em fila de espera na sua mente para ser absorvido e compreendido. Tentava compreender tudo aquilo, mas a base fatual era inexplicável demais para si.

 
De novo, ao agarrarem o fio, são projetados rapidamente por algo que se assemelhava a um túnel. Era impercetível todo o ambiente por onde passavam.
Começaram a abrandar, até pararem subitamente.

 
- Chegámos. – afirmou Veludia.
Aquele outro mundo era muito parecido ao anterior.
O sol começava a raiar por entre algumas montanhas ao longe. Aquele nascer do sol era magnífico. A planície onde pararam era composta por árvores e arbustos verdejantes. Vislumbrava-se um caminho que atravessava a planície.
- Não parece nada com o que tinha imaginado. Estava á espera de algo diferente. Talvez algo mais sombrio. – disse Patrícia, olhando ao redor e percebendo muitas semelhanças com o universo anterior.

 
- Sim, Este sítio é quase idêntico ao meu. Têm algumas diferenças. Aqui, impera o livre arbítrio. Não há muitas regras. Têm dia e noite, pois só tem um sol. De resto, alguns vivem aqui conforme os seus desejos. Esses, como se limitam ao que desejam, vivem infinitamente isso, como um ciclo. Quase como uma maldição. Aqui é-se livre para construir vida própria, desde que não interfira com vida alheia.

 
Ela fez uma pausa, começou a caminhar.
- Aqui, também, existe vários planos mentais. Cada pessoa cria o seu próprio mundo. Então, existe uma infinidade de planos onde cada um existe, que é o caso dos vossos entes queridos.
- Onde está então a minha irmã?
- Vamos falar com Hudo. Ele saberá como encontrá-los. É uma das pessoas mais influentes e com maior conhecimento aqui neste lugar.
- Ok.

 
Dirigiram-se por um caminho que atravessava a planície.
Paulo olhou para um monte no horizonte. Avistou um unicórnio e um grifo ali passeando pelo prado. Parou. Nunca tinha esperado ver tais seres. Mas pelos vistos tudo ali era possível. Até o impossível. Olhou para o céu. Estupefacto, viu uma fénix voando. A princípio tinha-lhe parecido ser um pavão, mas aquela cor flamejante dava-lhe certezas de ver aquela criatura mística ali.
Continuou caminhando para tentar alcançar Patrícia e Veludia.
- Aqui existem seres que são mitos no nosso mundo.

- Sim. E é possível que se continuares aqui observes mais. Muitos das criaturas extintas no vosso mundo existem aqui.

No final do caminho existia uma enorme montanha. No sopé dessa montanha havia uma enorme entrada, como uma caverna.

Entraram por ali adentro. Paulo e Patrícia esperavam encontrar escuridão ao entrar na caverna, mas ficam surpreendidos por esta ter muita luz no seu interior. As paredes pareciam emitir uma espécie de luminescência própria.

No seu interior, existia uma enorme galeria. Um pequeno curso de água atravessava a galeria.

Aproximaram-se de um homem que estava no meio da galeria. 
Era alto e aparentava ter pouco mais de 40 anos. Tinha tez morena, cabelos pretos e olhos verdes. Vestia uma túnica azul-clara.

- Olá, Veludia. A que devo a honra da tua visita?
- Olá, Hudo. Estes são o Paulo e a Patrícia. Viemos pedir a tua ajuda. A irmã dela e a filha dele entraram aqui neste mundo, vindos do Mundo dos Errantes. Eles queriam visitá-los e se possível levá-los de volta para o lugar deles.
Hudo observa Paulo e Patrícia, acenou-lhes com a cabeça e afirmou:
- Mas, se eles vieram para aqui foi porque desejavam isso. Não sei até que ponto os conseguirão convencer a voltar para a vida que tinham.

- Faremos os possíveis para os convencer a voltar. Precisamos deles de volta a casa. – respondeu Paulo imediatamente.
- É normal vocês pensarem assim desse jeito, no vosso mundo. São egoístas demais para pensarem nos outros. Só pensam no que vocês precisam. E os outros? Preocupam-se, pelo que eles precisam? Preocupam-se pelo que desejam? Conseguem entender a causa de estarem tão dececionados com a vida que levavam? Conseguem intimamente, compreender a causa de eles estarem aqui? Claro que não. Os vossos interesses pessoais sempre em primeiro lugar.

Patrícia e Paulo ficaram incomodados com as palavras dele. A mensagem fria que ele passava. Aquilo atravessava-os como punhais no seu orgulho e conhecimento.
- Não é bem assim. Eu gosto muito da minha irmã. Vou tentar persuadi-la a voltar, se esse for o desejo dela. – Acrescentou Patrícia indignada com as palavras de Hudo.
- A ver vamos. Podemos tentar visitá-los e assim constatamos os seus desejos. Vou chamar o Jodi para nos ajudar. Ele é um dos que poderá entrar nos planos mentais deles. E além de que a Veludia o conhece bem e os dois formam uma bela equipa.

Paulo e Patrícia olhavam agora Veludia com alguma curiosidade.
Hudo saiu da galeria por alguns instantes e regressou acompanhado de um jovem rapaz, alto, moreno, cabelos longos castanhos, olhos verdes-claros. Vestia-se de forma simples. Umas calças e uma camisa branca. Mas emanava jovialidade e alegria.

Veludia começou a arregalar os olhos e a ficar com algum rubor na face.
Quando Jodi chegou perto deles tocou ao de leve no ombro de Veludia e enviou-lhe um sorriso.
- Olá, disseram-me que precisam da minha ajuda. É sempre um prazer ajudar a minha querida Veludia. Mas expliquem-me o que necessitam de mim?
- Necessitamos de ira visitar a irmã dela e a filha dele a dois planos mentais diferentes. Podes-nos ajudar? – perguntou Veludia olhando fixamente para Jodi, emitindo um sorriso.
Jodi olhou para os dois estranhos, depois encarou Veludia, aproximando-se dela. Pegou na sua mão e respondeu:

- Claro que sim. Sabes que todo o tempo que passo contigo sempre vale a pena. Tu és o raio de sol em plena tempestade. Por ti, ia ao fim dos mundos e voltava.
Veludia ficou paralisada a encarar Jodi, enquanto ele proferia tais palavras. Ele era sempre um poeta. Era um deus da Poesia e das Artes e da Magia. Ele próprio era uma arte.
- Então, não percamos mais tempo e vamos lá – introduziu Paulo, para quebrar aquele ambiente e apressar a ida deles.

- Então temos de entrar todos juntos. Terão de dar as mãos. A Veludia traçará o caminho que nos levará juntos lá, e, eu lhe direi as palavras certas para o encontrar o caminho certo.
Veludia começa a tear o fio que os levaria. Jodi murmurou algo ao ouvido de Veludia. Um fio brilhante apareceu. Os quatro deram as mãos e Jodi pegou no fio. Instantaneamente eles projetaram-se para o plano onde estava agora Jéssica.

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