Capítulo 03 - Surpresas

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- Não podemos fechar contrato enquanto essa... mulherzinha não aceitar nossos preços. - Ouço Nizam dizer no telefone.

Ele está a exatamente uma hora em ligação, resolvendo problemas de seu trabalho. A frustração na sua voz, e o desprezo ou minimização em relação à "mulherzinha" me faz perceber que ele está com dificuldade em alguma coisa qual eu realmente não tenho interesse em saber.

Enquanto ele continua na ligação, eu aproveito para revisar o último contrato de Fernanda.

- Tente marcar uma reunião com essa negligenciadora! - Desliga. - Que inferno! - Grita, jogando o celular no sofá.

Eu retiro meu óculos e o encaro.

- Pode por favor parar de gritar? - Peço.

- Eu estou de saco cheio! É nisso que dá colocar uma mulher no poder de alguma coisa.

- O quê foi dessa vez? - Pergunto calmamente.

- Uma doida que não aceita nossos preços, por isso não quer fechar contrato. Faz dias que estou tentando um contato com ela, mas ela se recusa uma reunião. Só uma. Não é como se fosse gastar horas do dia dela.

Suspiro e coloco meus óculos de volta no lugar.

- Eu entendo sua frustração. O que exatamente ela disse para recusar o seu contrato?

- Disse que nossos preços estão muito altos e que ela encontrou uma oferta melhor em outra empresa. Mas eu sei que isso é desculpa, ela só está fazendo jogo duro porque é mulher e tem "poder". - Faz aspas com as mãos.

- Eu acho mais fácil você rever as condições e oferecer uma contraproposta mais interessante para ela. Já pensou em entender as necessidades da empresa dela e oferecer um pacote personalizado, por exemplo?

- Não acho que isso vá funcionar. Ela é teimosa e não quer dar o braço a torcer.

- Bom, então não tem muito o que fazer. - Volto a olhar para o papel em minhas mãos. - Você não pode controlar as atitudes dela, mas pode controlar as suas. Por exemplo, parando de ser machista.

- Sermão agora não, por favor. Me diz como foi seu dia? - Pergunta.

Nizam caminha atrás de mim, e começa a massagear meus ombros.

- Foi tranquilo, mas, digamos que minha chefe está pegando um pouco pesado.

- O que acha de um bom descanso? - Beija meu pescoço. - Eu sorrio.

- Tenho uma coisa melhor para fazer. - O beijo.

[...]

- Bom dia, senhorita. - Diz, Fernanda.

- Bom dia. - Engulo a seco.

- Não chegou atrasada hoje. - Deixa sua bolsa em cima de sua mesa, ao lado dos papéis que eu trouxe. - Esses são meus contratos?

- Sim.

- Ótimo. Pode rever mais alguns? - Me oferece uma pasta azul, pesada. - Eu sinceramente não tenho paciência para essas coisas.

- Fernanda. - Deixo em cima da mesa novamente. - Eu posso ser sincera?

- Deve.

- Eu estou aqui para ser a sua secretária, não sua empregada pessoal.

Ela franze sua testa.

- Eu aprecio muito que você tenha sido sincera comigo, mas, esse é o seu papel aqui dentro. Eu mando, você me obedece, e assim teremos uma ótima relação.

Fico desconfortável com a sua resposta. Não era esse o tipo de relação profissional que eu esperava ter. Respiro fundo.

- Fernanda, olha, eu entendo que cada pessoa tem uma maneira diferente de trabalhar, mas acredito em cooperação mútua. Eu não quero te contrariar, mas acho que eu conseguiria contribuir proativamente se você me deixar mostrar isso.

Amante - FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora