Capítulo 01 - Recomeço

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Estou exausta.

Dezessete horas de um trabalho árduo e completamente esgotador. Como consequência, não consigo mais sentir meus pés e as minhas costas doem intensamente. A sensação de exaustão é tão profunda que meu cérebro parece estar funcionando em câmera lenta, e nem mesmo o café, já frio, de minha xícara conseguiu me ajudar.

No início do dia, eu estava cheia de energia para toda essa bagunça, mas, depois de ver o tanto de dívidas que essa empresa acumulou ao longo do tempo, meu ânimo foi todo embora. Confesso que foi difícil manter o foco e a motivação diante de tantas demandas durante o dia inteiro. Parecia não ter fim, mas finalmente acabou. E mesmo depois de tanta dor de cabeça, a sensação de dever cumprido é recompensadora.

Abro a aba de notícias em meu iPad e suspiro quando dou de cara com a foto da minha família estampada, em primeira linha, num site mundial. Nunca imaginei minha família inteira em destaque, e principalmente de uma forma negativa. Sonegação de impostos, processos acumulados, empresa quebrada... É vergonhoso e desesperante, porque mesmo que eu não faça parte desses problemas, eles respingam em mim.

Entro no primeiro site e começo a ler;

"A Família Bande emite o seguinte comunicado: A empresa de Evandro Bande está sob novo controle de sua filha mais velha, Fernanda Bande."

Solto um riso nasal.

Olho ao redor de minha sala e suspiro. Nesse momento estou em São Paulo, com todas minhas malas prontas em meu apartamento para ir ao Rio de Janeiro. Mas não é como se eu estivesse animada com essa ideia. Deixar para trás minha vida em São Paulo e começar em um novo lugar traz uma sensação de frustração. Não é tão simples largar a sua vida para consertar os problemas que outras pessoas causaram.

Desligo o iPad e guardo-o em minha bolsa. Antes de apagar a luz, olho pela janela e vejo algumas luzes brilhando lá fora. Sinto como se São Paulo estivesse me despedindo.

Pego meu celular do bolso de minha saia e rolo às 15 ligações perdidas de Pitel, minha melhor amiga.

É engraçado pensar em Giovanna. Somos pessoas totalmente diferentes, mas ao mesmo tempo, parece que somos como duas metades que se encaixam perfeitamente. Conhecemo-nos na faculdade. Duas jovens bêbadas, que encontraram na bebida, uma amizade que mal sabiam eles que durariam por um bom tempo. Ela é o tipo de amiga que sempre está ao meu lado, nos momentos bons e ruins. Mesmo que atualmente só esteja tendo ruins.

Volto a rolar as chamadas perdidas dela no meu celular e decido ligar de volta. Enquanto isso, aperto no elevador o botão do térreo. Depois de alguns toques, a sua voz animada ecoa do outro lado da linha.

- Finalmente você me atendeu! Onde está? - Pergunta.

- Olá, Giovanna. Tudo bem? Que bom, porque eu também estou bem. - Digo, rindo. - Estou saindo da empresa agora. Por quê?

- Espero que não tenha pensado em sair de São Paulo sem se despedir de mim. Podemos nos encontrar?

- Até parece, Pitel. Onde você está?

- No seu café preferido. Vou te esperar.

Desliga.

Assim que entro meu carro, deixo minha bolsa em cima do banco do passageiro e logo começo a dirigir. Quando estaciono na mesma vaga de sempre da cafeteria, mando uma mensagem avisando-a que já cheguei. Encontro Pitel sentada em uma mesa no canto, e quando ela me vê, abre um sorriso ansioso no rosto.

- Para começo de conversa, eu vou sentir muito a sua falta. - Diz, apertando minhas mãos. - Ficarei com abstinência de ouvir você reclamando toda hora em meu ouvido.

Amante - FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora